"Em vez de oferecer oportunidades para que os estudantes se misturem livremente com colegas de origens diferentes, as faculdades promovem enclaves étnicos, provocam ressentimento racial e constroem estruturas baseadas em rancores grupais", diz relatório da Associação Nacional dos Pesquisadores. Gabriel de Arruda Castro para a Gazeta do Povo:
Em
1954, uma decisão histórica da Suprema Corte Americana colocou fim à
segregação racial nas escolas daquele país. A decisão conhecida como
“Brown contra Board of Education” sacramentou a jurisprudência de que a
separação de alunos por raça era inconstitucional. Ainda assim, alguns
estados persistiram com políticas discriminatórias. O marco mais visível
do fim da separação por raças viria em 1963, em uma cena histórica: o
presidente John Kennedy enviou tropas do Exército ao Alabama, onde o
governo estadual se recusava a matricular dois alunos negros na
Universidade do Alabama. O governador George Wallace, que defendia a
política racista, acabou cedendo. Foi o último suspiro de uma longa
história de segregação. Ou será que não?
Recentemente,
cada vez mais instituições de ensino superior têm promovido a separação
racial entre alunos, o que tem aumentado a preocupação de que uma nova
era de segregação esteja se iniciando. Desta vez, entretanto, os
argumentos são diferentes. As políticas de separação por raça têm como
objetivo declarado proteger os negros e outros integrantes de minorias
do “racismo sistêmico” que, segundo alas mais radicais da esquerda
americana, permeia as instituições.
As
universidades de Harvard e Columbia, duas das instituições de ensino
mais tradicionais dos Estados Unidos, passaram nos últimos anos a
realizar cerimônias de formatura separadas para alunos negros e latinos.
As instituições afirmam que esses são eventos complementares, e que os
eventos não promovem a segregação porque todos os estudantes - inclusive
negros - participam da cerimônia principal.
As
demandas do movimento negro, entretanto, vão além das cerimônias
separadas de formatura. Outra universidade reconhecida nacionalmente, a
Universidade de Nova York (NYU), concordou em colaborar com grupos de
estudantes negros para oferecer moradias estudantis exclusivas para
afro-americanos. Uma das organizações que apoia a medida, batizada de
Black Violets, defendeu a política nesses termos: “Com muita frequência,
na sala de aula e no convívio nos dormitórios, estudantes negros
carregam o fardo de educar seus colegas desinformados sobre o racismo”.
Alunos da Universidade DePaul, em Chicago, têm feito a mesma
reivindicação, assim como estudantes da Universidade Rice, no Texas.
No
ano passado, a Universidade do Michigan chegou a anunciar a criação de
“cafés” separados por raça: um para pessoas de cor e outro para “pessoas
não de cor”. Depois, a instituição voltou atrás e se desculpou,
alegando que os “cafés” eram apenas espaços virtuais de interação.
No
ano passado, a Associação Nacional de Pesquisadores (NAS) divulgou um
relatório que dá a dimensão do problema. De 173 instituições de ensino
superior americanas analisadas, 43% tinham algum tipo de segregação
racial em seus dormitórios e 72% tinham cerimônias de formatura
separadas por raça.
"Em
vez de oferecer oportunidades para que os estudantes se misturem
livremente com colegas de origens diferentes, as faculdades promovem
enclaves étnicos, provocam ressentimento racial e constroem estruturas
baseadas em rancores grupais", diz o relatório.
Os
argumentos em defesa da separação racial também encontram apoio de
pesquisadores que professam defender a causa negra. Em um artigo
recentemente publicado por professores da Universidade de Duke, também
na lista das mais prestigiosas instituições de ensino americana, os
autores argumentam que integração racial é prejudicial para os alunos
negros.
De
acordo com os pesquisadores, eles apresentam um desempenho visivelmente
superior quando frequentam instituições majoritariamente (ou
exclusivamente) negras. “Nosso estudo sugere que os efeitos (da
integração) foram mais inexpressivos do que normalmente é afirmado em
outros estudos ou nos meios de comunicação”, afirma William A. Darity
Jr., que, dentre outras coisas, dá aulas de Estudos Africanos. Segundo
os autores do estudo, a discriminação é a principal causa dessa
disparidade.
A
radicalização das instituições de ensino dos EUA se acelerou no último
ano, com os protestos em massa que tomaram parte do país após a morte de
George Floyd, um negro, pela polícia de Minneapolis.
No
ano passado, o presidente da Universidade de Princeton afirmou, em tom
de confissão arrependida, que a entidade praticava “racismo sistêmico”.
Ato contínuo, o Departamento de Educação do governo federal, ainda sob a
gestão de Donald Trump, iniciou uma investigação para averiguar se a
instituição estava violando a legislação sobre igualdade racial. Mas,
poucos meses depois, o democrata Joe Biden chegou ao poder. Não está
claro se a investigação foi levada adiante.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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