Não posso me calar diante de gente que se diz liberal ou mesmo
conservadora e passou a tratar o governo como pior do que o petista até,
e que não se importa de cerrar fileira ao lado de tucanos ou mesmo
socialistas. Artigo de Rodrigo Constantino, via Gazeta:
Bolsonaro jamais foi unanimidade na direita. Ao contrário: a maioria
dos liberais e muitos conservadores sempre o enxergaram como uma espécie
de "mal necessário". Quando ele montou sua equipe, porém, houve um voto
de confiança: o governo de fato apresentou uma agenda de reformas
liberais e vários ministros técnicos.
Havia dúvidas de quanto tempo Paulo Guedes duraria. Houve, no
caminho, vários tropeços também, em que pese a aprovação de uma robusta
reforma previdenciária. Mas o aparente afastamento da bandeira ética
intransigente, os contínuos conflitos com o Congresso, a postura tóxica
da militância nas redes sociais, tudo isso foi produzindo decepção e
alguns desembarques no caminho.
A postura do presidente em relação ao coronavírus, chamado por ele de
"gripezinha", foi a gota d'água para muitos. Desinibidos, estimulados
pela revolta crescente, passaram a chamá-lo de "sociopata", assim como
quem quer que coloque em dúvida a receita mais drástica de isolamento
quase total ou alerte para os custos econômicos.
Entendo a angústia, o pânico. Entendo, também, a revolta com a
conduta irresponsável do presidente. Mas não posso me calar diante de
gente que se diz liberal ou mesmo conservadora e passou a tratar o
governo como pior do que o petista até, e que não se importa de cerrar
fileira ao lado de tucanos ou mesmo socialistas para demonizar todo
aquele que ainda consegue reconhecer méritos no governo como um todo.
Bolsonaro não é Trump, certamente. Mas nos Estados Unidos, os
formadores de opinião conservadores estão fazendo alertas parecidos com
os de Bolsonaro, por mais que de forma bem diferente. Matt Walsh,
Candace Owens, Ben Shapiro, Michael Knowles e tantos outros questionam
as medidas de isolamento também. São todos "sociopatas"?
“Não acho que as pessoas entendam o que significa depressão, o que
isso fará com suas famílias e entes queridos. Muitos têm a ilusão de que
as coisas vão voltar magicamente de onde paramos. Não entendem que
nossas vidas estão sendo mudadas profundamente agora, e não para
melhor", escreveu o conservador Matt Walsh. Preocupação de psicopata?
Esses eram consensos conservadores até ontem: a mídia tem viés de
esquerda e aumenta o pânico, pois ele vende; devemos evitar a "tirania
dos especialistas"; cientificismo arrogante não é ciência; dilemas
demandam escolhas com perdas inevitáveis; não há solução mágica; não se
monopoliza boas intenções num debate.
Qual não foi minha surpresa ao ver tantos colegas "conservadores"
abandonarem tudo isso da noite para o dia, dando as mãos a esquerdistas
demagogos da imprensa para atacar o governo, disseminar histeria, chamar
de "sociopata" quem mostra o custo econômico e social do isolamento
etc!
A coisa mais nojenta que vi nessa história toda do coronavírus, mesmo
descontando o pânico de muitos, foi a tentativa de se colocar como o
único preocupado com os velhinhos, enquanto os "utilitaristas" são
podres por dentro, só pensam em economia. Uma tática sórdida de
"debate".
Meus colegas conservadores, que sempre apontaram para o evidente viés
ideológico da imprensa, são capazes hoje de cerrar fileira ao lado da
patota corporativista, a turma do "ninguém solta a mão de ninguém", se
for para atacar o governo. Foram absorvidos pelo sistema? Que triste.
Quando começam a atacar gente séria e responsável como Guedes, Moro e
Mandetta é quando Bolsonaro e outros concluem que de nada adiantaria
eles se tornarem mais moderados, pois continuariam sendo atacados por
quem cuja agenda é a derrubada do governo.
Eu sou do tempo em que falar que a imprensa potencializa notícias
ruins e muitas vezes espalha o alarmismo e a histeria não era
"fascismo", absurdo chocante ou sequer algo controverso, mas sim o óbvio
ululante pela própria essência do jornalismo e da natureza humana.
Muitos "conservadores", talvez mais preocupados com a ala radical do
bolsonarismo, passaram a agir como advogados de defesa de militantes
disfarçados de jornalistas, que até "ontem" eles denunciavam. Aos que
reclamam do fato de eu expor a hipocrisia e a insensibilidade dessa
turma, lembro que escrevi um bestseller sobre a esquerda caviar. É o que
venho fazendo faz tempo! Fui eu quem mudou?
Sou acusado por alguns de "minion", de "gado" ou de "bolsonarista"
por não concluir que este governo é pior do que o PT, sendo que sempre
critiquei duramente a ala olavista. Posso, então, chamar os
“conservadores” que só fazem atacar Bolsonaro e não conseguem sequer
criticar militantes de esquerda disfarçados de jornalistas de
"petralhas"?
É muito grande a decepção de ver meus colegas de "direita" puxando o
saco de "jornalistas" militantes que dormem e acordam pensando em como
derrubar o presidente. É assustador vê-los fazer vista grossa para
censura em redes sociais só porque o alvo foi Bolsonaro. É lamentável
observar a covardia deles diante de quem diz ser liberal enquanto
idolatra um esquerdista como Obama. É temerário vê-los enaltecendo a
"tirania dos especialistas" que combatiam antes, permitindo que
arrogantes leigos falem em nome exclusivo da "ciência", os mesmos que
caem na ladainha do alarmismo do "aquecimento global". E á asqueroso
vê-los usando as mesmas táticas podres que denunciavam ainda há pouco,
como o monopólio das virtudes num debate, o sensacionalismo barato que
coloca quem não concorda com os meios como "assassino de velhinhos".
“Difícil administrar um reino onde uma parte tem medo da morte, outra
tem medo da fome... e a terceira quer atear fogo no castelo. Espero
que, ao final, os que têm medo da morte e os que têm medo da fome se
unam contra os que querem atear fogo no castelo". A citação é de fonte
desconhecida, mas é certeira. Eu esperava que os conservadores
estivessem unidos contra os que desejam atear fogo em tudo.
Infelizmente, vejo muitos de mãos dadas a esses golpistas.
Conservador é um sujeito um tanto isolado, pois rejeita patotas,
tribos, grupinho. Roger Scruton constatou que os conservadores podem ser
chatos, mas estão com a razão. A primeira virtude é a coragem. Quem se
curva diante da necessidade de rebanho, de andar em grupinho onde
"ninguém solta a mão de ninguém", é qualquer coisa, menos conservador!
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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