Mesmo quando voltarmos a uma aparência de normalidade, a comoção
econômica não cessará, e o mundo por um bom tempo não será mais o mesmo.
Artigo de Alex Pipkin para o Instituto Liberal:
Ontem chamei um Uber. Um homem, aproximadamente 40 anos. Adivinha o
papo – reto. Apavorado! Trabalhando, quando chamado, e em prontidão 14
horas por dia.
Trocou de carro na hora errada, falou-me.
Não me resta outra coisa que tentar ganhar próximo daquilo que faturava antes do demônio viral – disse-me ele.
Como consolo, entonei que tinha certo patrimônio, porém como autônomo, afirmei que encontro-me completamente sem liquidez.
O isolamento social, fundamental agora, precisa ser calibrado científica e sensatamente. Até quando “a vida” suporta?!
Acho que a crise econômica beirará uma depressão e reverberará seus
devastadores efeitos por muito tempo, gerando inclusive mais danos e
doenças que o vírus.
Indústrias de turismo, alimentação, serviços privados e públicos, e várias outras estão paradas.
Inevitavelmente, e aqui de maneira salutar, a disciplina fiscal do
governo foi de vez para as cucuias. Óbvio que será fundamental
retomá-la, quando possível.
Governos federal, estaduais e locais serão ainda mais sobrecarregados
pela pressão em seus sistemas de saúde pública, como também pelos
“pacotes de estímulo” às pessoas e às empresas; mas a economia não vai
se recuperar antes que o distanciamento social acabe, e até mesmo por
muito mais tempo depois que o boom virótico arrefecer.
As pessoas estão sem trabalhar ou têm seus horários de trabalho
diminuídos drasticamente – distintamente do meu amigo do Uber – e
precisam de dinheiro agora para pelo menos comprarem comida e
permanecerem confinadas.
Não são só os indivíduos que necessitam. Micro, pequenas e médias
empresas precisam de recursos para se manterem de pé, a si e aos seus
empregados, na tentativa de ao menos adiarem demissões ao máximo
possível.
Independente daqueles que afirmam ser “100% vidas”, racional e
tecnicamente, o distanciamento social prolongado “matará” todos nós, não
só de tédio, como também de outros desastres sociais, como a fome para
muitos.
O pacote de estímulo fiscal ajuda a debelar a crise imediata, mas no
médio e longo prazos não imagino que evite a quebradeira geral.
Mesmo assim, embora os socorros governamentais possam soar
impopulares para alguns, na vida real, além de preservar as pessoas,
será importante para não matar aqueles empresários – eficientes – que
correm riscos e que criam empregos e riqueza para essas mesmas pessoas.
Grande parte das cadeias produtivas e das empresas estão interrompidas e a economia parada.
Mesmo quando voltarmos a uma aparência de normalidade, a comoção
econômica não cessará, e o mundo por um bom tempo não será mais o mesmo
(apesar de que algumas questões “humanas” serão aperfeiçoadas!). Virão ajustamentos, desemprego, mais adaptações e mais desemprego.
Especialmente os mais jovens – dentre esses uma legião de idealistas –
perceberão que na realidade (evidente que dura!) não valerão tanto
quanto alguns pensam que contam.
Meu amigo do Uber me contou – e a corrida nem foi tão longa assim –
que um vizinho dele, desempregado e desesperado, entrou em pânico e foi
parar num hospital. Deus o abençoe.
Triste! Alguns, mesmo hoje ainda empregados, aterrorizados,
provavelmente quando o globo voltar a girar, reduzirão seus gastos
trazendo impactos à economia e a redução da geração de empregos por
bastante tempo.
E outros muitos talvez tenham que utilizar – sei lá – os tais R$
600,00 para tratamentos psicológicos e/ou psicanalíticos… Já começou…
Essa é a realidade da vida, da saúde física e econômica,
inseparáveis, apesar das constantes compreensões equivocadas e outros
besteirois que nos assolam. Que desfecho próximo teremos?!
Doutor em Administração - Marketing
pelo PPGA/UFRGS. Mestre em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS
Pós-graduado em Comércio Internacional pela FGV/RJ; em Marketing pela
ESPM/SP; e em Gestão Empresarial pela PUC/RS. Bacharel em Comércio
Exterior e Adm. de Empresas pela Unisinos/RS. Professor em nível de
Graduação e Pós-Graduação em diversas universidades. Foi Gerente de
Supply Chain da Dana para América do Sul. Foi Diretor de Supply Chain do
Grupo Vipal. Conselheiro do Concex, Conselho de Comércio Exterior da
FIERGS. Foi Vice-Presidente da FEDERASUL/RS. É sócio da AP Consultores
Associados e atua como consultor de empresas. Autor de livros e artigos
na área de gestão e negócios.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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