Nas revoluções tecnológicas anteriores, as máquinas competiram com o
homem em habilidades físicas. Agora, os robôs vão competir com o ser
humano em habilidades cognitivas, campo em que a inteligência artificial
exercerá papel central. Editorial da Gazeta do Povo:
O conceito de subdesenvolvimento surgiu na sequência da Revolução
Industrial, por volta dos anos 1830, quando os países onde tal revolução
ocorreu conseguiram um padrão de vida superior ao padrão médio
anterior. Não há datas exatas, mas convencionou-se chamar de Revolução
Industrial as mudanças tecnológicas e os novos processos de manufatura
ocorridos entre 1760 e 1830, cuja marca mais robusta é a invenção da
máquina a vapor e, com ela, a estrada de ferro, o trem de ferro e o
navio a vapor.
As mudanças na tecnologia e as inovações levaram à substituição de
métodos artesanais de produção por linhas de produção com o uso de
máquinas, resultando na expansão da “indústria de transformação” com
suas fábricas compostas de prédios, máquinas, operários e
matérias-primas. A profusão de novos produtos químicos, uso crescente da
energia a vapor e processos modernos e mais eficientes na produção de
ferro e de energia da água levaram países como Inglaterra (onde a
revolução teve início), Alemanha, Holanda e Estados Unidos a um
substancial aumento da produtividade/hora do trabalho e melhoria do
padrão de vida.
Ocorre que os países do mundo, em sua maioria, não incorporaram as
novas tecnologias e os novos métodos de produção na mesma época que os
países adiantados, e ficaram muito atrás em relação à renda por
habitante e ao padrão médio de consumo já verificado nos países onde a
revolução se instalou. A distância entre o padrão de consumo dos países
adiantados e o padrão dos países atrasados é o que se rotula como
“subdesenvolvimento”. Quanto ao mundo do trabalho, as relações entre
trabalhadores e empregadores tiveram de mudar para acompanhar as
mudanças tecnológicas e os novos processos de produção baseados na
especialização profissional e na divisão do trabalho.
As mudanças no mundo do trabalho na Revolução Industrial geraram
conflitos e foram objeto de fortes críticas, como aquelas feitas por
Karl Marx e Friedrich Engels, este último chegando a publicar um livro a
respeito, em 1845, sob o título A situação da classe trabalhadora na
Inglaterra. Mais adiante, em razão das críticas e da mobilização dos
operários, as condições de trabalho foram revistas, com redução das
jornadas diárias e melhoria do ambiente nas fábricas. Entre os anos
1870-1900, outra revolução tecnológica culminou na introdução do motor a
combustão interna, na indústria do petróleo, no aparecimento do
automóvel e, sobretudo, na eletricidade, e novamente a produtividade foi
aumentada, o padrão de consumo subiu e a modernização nas relações
trabalhistas prosseguiu.
Entre os anos 1960 e 2010 houve outro surto de inovações tecnológicas
com o surgimento do computador, dos satélites modernos, da telefonia
móvel, da internet e uma multidão de máquinas modernas e o robô
inteligentes. A economia mundial mudou, a vida média das empresas se
tornou mais curta, os trabalhadores passaram a mudar de emprego com mais
frequência e, nos países que adotaram as novas tecnologias, a
produtividade continuou subindo e o padrão de vida médio seguiu
crescendo. As leis que regulam as relações trabalhistas de novo tiveram
de se adaptar, inclusive aqui no Brasil. O fato é que o mundo do
trabalho foi afetado pelas revoluções tecnológicas, pela modernização
dos processos produtivos e pelas novas exigências da vida econômica e
social, e assim continuará sendo.
Atualmente, o mundo vive a quarta revolução tecnológica moderna,
estimada para abarcar o período de 2010 a 2050, com mudanças assombrosas
na biotecnologia, na inteligência artificial, na disrupção tecnológica
geral e o surgimento do robô cognitivo. O ser humano tem habilidades
físicas e habilidades cognitivas. Nas revoluções tecnológicas
anteriores, as máquinas competiram com o homem em habilidades físicas.
Agora, os robôs vão competir com o ser humano em habilidades cognitivas,
campo em que a inteligência artificial exercerá papel central.
A habilidade cognitiva é algo complexo de definir, mas está ligada à
capacidade de absorver dados, informações, fórmulas, sinais e reações,
correlacionar e compreender as conexões sobre percepção, gostos,
preferências, comportamentos e emoções. É nesse contexto que a
legislação trabalhista atua para estabelecer as regras contratuais entre
trabalho e capital, adaptar-se ao novo modo de produção e incorporar as
exigências em matéria de direitos humanos e direitos individuais. A
reforma trabalhista feita no Brasil, ainda no governo Temer, somente
poderá ser avaliada com maior grau de acerto após alguns anos de sua
implantação. Qualquer julgamento agora, com pouco mais de um ano de
entrada em vigor, é parcial e precário.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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