José Nêumanne
entrevista o ex-reitor da UFMS Cézar Benevides - colega de Bolsonaro na
Aman-, que vai na mesma linha deste blogueiro, há muito tempo
denunciado as universidades por terem se transformado, sob o
lulopetismo, em verdadeiros antros ideológicos:
Para o ex-reitor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)
Cézar Benevides, as universidades públicas brasileiras estão
“preocupadas, em sua maioria, com o filtro de acontecimentos vinculados a
1964. Infelizmente, a ideologia direciona o conhecimento científico no
âmbito das ciências humanas”. Personagem da série Nêumanne Entrevista
neste blog esta semana, o professor respondeu de forma prudente, mas nem
por isso, deixou de se posicionar quando lhe perguntei se concordava
com o ministro Gilmar Mendes, do STF, que chamou os procuradores da
Operação Lava Jato de “organização criminosa”, ou com a resposta que a
chefe dos procuradores deu, comparando esse tipo de reação com “estado
de exceção: “Fico com a sensatez da procuradora da República, sra.
Raquel Dodge”. E disse mais: “Toda e qualquer forma de censura é
condenável. A tradição jurídica brasileira se apoia, de maneira geral,
na denominada ‘teoria dos frutos da árvore envenenada’. Tais frutos
proliferam na atualidade. Temo que essa tendência seja abandonada,
contaminando o pensamento e a prática jurídica do País. Os sinais não
podem ser desprezados”.
Nêumanne entrevista Cézar Benevides
Nêumanne – Como o senhor encarou a notícia de que o presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, inventou um inquérito para
proibir críticas públicas à instituição, indicou o colega Alexandre de
Moraes para relatá-lo, sem sortear nem consultar os pares, nem
manifestou repulsa à censura à revista Crusoé que deu uma notícia
oficial sobre o fato de ele mesmo ter recebido o codinome de “amigo do
amigo do meu pai” no propinoduto da Odebrecht?
Cézar Benevides – No momento histórico em que vivemos todas as
instituições oficiais estão sob julgamento por parcela representativa da
população brasileira. Sendo assim, entendo como temerária a referida
decisão monocrática. É cedo para tentar fazer um julgamento definitivo
sobre a questão, porque o plenário ainda deve se manifestar. Contudo, os
tempos são outros. Não é fácil separar os interesses em jogo, nem todos
visíveis.
N – O senhor se surpreendeu com o silêncio sepulcral dos ministros do
plenário da mesma Corte em relação a todos esses arrepios totalitários,
mesmo aqueles que tanto proclamam seu amor à isenção do Supremo, à
autonomia dos Poderes e à igualdade de todos os cidadãos perante a lei?
CB – Não, é habitual. Suponho que estão refletindo sobre a complexa questão.
N – Que solução institucional e democrática, dentro da ordem
constitucional vigente, o senhor enxerga para a criação de um órgão que
possa conter os ímpetos tirânicos provocados pelo excesso de poder sem
controle dos magistrados que se consideram “supremos”, sendo que oito
dos 11 nem magistrados são?
CB – O processo histórico brasileiro é pleno de “ímpetos tirânicos”.
Uma minoria deu certo, até certo ponto, com Vargas. O certo é que as
“conciliações” do passado encontram-se frágeis, mas não o suficiente
para abrir mão de suas prerrogativas.
N – Quem tem razão, na sua opinião: a procuradora-geral da República,
Raquel Dodge, que considerou como manifestação de um “tribunal de
exceção” a prorrogação do inquérito acima citado até o fim do ano (seu
primeiro prazo fatal venceu em julho no chamado “recesso branco”) e sua
extensão à análise de provas roubadas, cujo uso se enquadraria, segundo o
presidente Jair Bolsonaro, em receptação; ou o ministro do STF Gilmar
Mendes, que chamou a força-tarefa da Operação Lava Jato de “organização
criminosa" para investigar cidadãos?
CB – Fico com a sensatez da Procuradora da República, Sra. Raquel Dodge.
N – Na semana passada, sua antecessora na série Nêumanne
entrevistaneste blog foi a ex-corregedora-geral da Justiça Eliana
Calmon. Ela disse o seguinte: “A história do Judiciário Brasileiro está
recheada de processos penais de grandes corrupções na máquina estatal,
quase todos arquivados por firulas processuais. Como um rastilho de
pólvora propagaram-se os diálogos interceptados, enlouquecendo os réus
da Lava Jato, os condenados no mesmo processo, a militância petista
sempre de prontidão e até parte considerável da magistratura que se
intitula garantista, fervorosos defensores dos princípios
constitucionais interpretados literalmente.” Mesmo assim, Diogo
Mainardi, editor de O Antagonista e da revista Crusoé, censurada por
ordem de Alexandre de Moraes, previu que as mensagens do Intercept serão
legalizadas e aceitas como provas, descriminalizando sem lei as provas
ilícitas e seus receptadores. Quem, na sua opinião, está certo?
CB – Toda e qualquer forma de censura é condenável. A tradição
jurídica brasileira se apoia, de uma maneira geral, na denominada
“Teoria dos frutos da árvore envenenada”. Tais frutos proliferam na
atualidade. Temo que essa tendência seja abandonada, contaminando o
pensamento e a prática jurídica do país. Os sinais não podem ser
desprezados.
N – Como paraibano, rebento de família Benevides, de Patos de
Espinharas, na porta do sertão, como o senhor encara essa polêmica entre
o presidente Jair Bolsonaro e os governadores nordestinos eleitos por
siglas que dizem pertencerem à resistência, e não à oposição, alegando
que não vivemos aqui numa democracia, mas numa ditadura protofascista,
em torno de verbas públicas condicionadas à guerra ideológica?
CB – Há diferentes formas de fascismo. A generalização é sempre
perigosa. Observo um certo exagero nos pronunciamentos dos governantes
do nordeste. Pelas lembranças que conservo do atual Presidente da
República, meu contemporâneo na Academia Militar das Agulhas Negras
(AMAN), não acredito que ele pretendeu ofender os nordestinos. Foi,
provavelmente, um ato falho com utilização de expressões hoje não
consideradas “politicamente corretas”. Durante o nosso convívio na AMAN
ele mesmo me chamava de “arataca” porque nasci na cidade de João Pessoa.
Um detalhe: não tenho cabeça chata.
N – Não estariam estes governadores esquecendo um dado elementar, que
deveria ser estudado nos departamentos de História das Universidades,
que a radicalização da polarização se deu em 2006 ,quando, tendo de
enfrentar Geraldo Alckmin, do PSDB, na eleição presidencial, em plena
eclosão do escândalo do tal do mensalão, Lula recorreu à criação de
marketing do Fla-Flu político dos “nós contra eles”?
CB – Dificilmente esse tema será estudado nas universidades públicas
brasileiras, preocupadas, em sua maioria, com o filtro de acontecimentos
vinculados a 1964. Infelizmente, a ideologia direciona o conhecimento
científico no âmbito das ciências humanas.
N – Outra discussão na moda nestes tempos novos, que parecem tão
velhos, tem sido a intenção da nomeação para a embaixada do Brasil em
Washington de Eduardo Bolsonaro pelo pai, Jair, tendo como única
eventual razão a boa relação familiar entre os Bolsonaro e os Trump? Em
defesa dela, o presidente brasileiro argumentou à colega Leda Nagle que
terá de nomear o filho de alguém e perguntou por que não pode ser o
dele? Em sua coluna na revista Veja, o jornalista José Roberto Guzzo,
que tem sido um defensor permanente do atual governo, escreveu: “não
pode e pronto”. Quem tem razão, na sua opinião?
CB – Guzzo é um grande jornalista e merece todo meu respeito. A
indicação do filho do Presidente não deixa de ser uma novidade para a
oposição. Mas estamos em um “novo governo de direita” que tem as suas
próprias premissas. É melhor ficar na expectativa e torcer para que o
jovem deputado se revele um estadista. Seja o que Deus quiser…
N – Como nordestino, com vida de discente no Paraná e docente no Mato
Grosso do Sul, como o senhor está acompanhando as peripécias dos dois
ministros da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez e Abraham Weintraub,
nomeados por seu antigo colega de Academia Militar de Agulhas Negras,
Jair Bolsonaro?
CB – Estou aposentado há cinco anos e tornei-me apenas um observador
não engajado, ao contrário do grande sociólogo Raymond Aron. Não é uma
tarefa fácil, mas o passado recente, que desprezou a educação básica e
formou centenas de doutores hoje desempregados, me traz alguma
esperança. Vamos continuar sendo um país de desdentados e analfabetos?
N – Que perspectivas o senhor é capaz de apontar daí do centro da
galinha de ovos de ouro que impede o Brasil de quebrar de vez nesta
crise, ou seja, o próspero, moderno e rico agronegócio, para nosso povo
exausto de tanto desatino desta República que parece cronicamente
insana?
CB – Acredito que o Brasil deve se abrir e apostar nas inovações
possíveis. Romper com a hegemonia do sudeste exige, em todos os
sentidos, um esforço sobrenatural, que tem sido feito. Em todo o caso,
trata-se de um projeto de longo prazo que exige contínuos e onerosos
investimentos.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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