MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 11 de agosto de 2019

Ideologia direciona ensino de ciências humanas, diz ex-reitor da UFMS.


José Nêumanne entrevista o ex-reitor da UFMS Cézar Benevides - colega de Bolsonaro na Aman-, que vai na mesma linha deste blogueiro, há muito tempo denunciado as universidades por terem se transformado, sob o lulopetismo, em verdadeiros antros ideológicos:

Para o ex-reitor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) Cézar Benevides, as universidades públicas brasileiras estão “preocupadas, em sua maioria, com o filtro de acontecimentos vinculados a 1964. Infelizmente, a ideologia direciona o conhecimento científico no âmbito das ciências humanas”. Personagem da série Nêumanne Entrevista neste blog esta semana, o professor respondeu de forma prudente, mas nem por isso, deixou de se posicionar quando lhe perguntei se concordava com o ministro Gilmar Mendes, do STF, que chamou os procuradores da Operação Lava Jato de “organização criminosa”, ou com a resposta que a chefe dos procuradores deu, comparando esse tipo de reação com “estado de exceção: “Fico com a sensatez da procuradora da República, sra. Raquel Dodge”. E disse mais: “Toda e qualquer forma de censura é condenável. A tradição jurídica brasileira se apoia, de maneira geral, na denominada ‘teoria dos frutos da árvore envenenada’. Tais frutos proliferam na atualidade. Temo que essa tendência seja abandonada, contaminando o pensamento e a prática jurídica do País. Os sinais não podem ser desprezados”.

Nêumanne entrevista Cézar Benevides

Nêumanne – Como o senhor encarou a notícia de que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, inventou um inquérito para proibir críticas públicas à instituição, indicou o colega Alexandre de Moraes para relatá-lo, sem sortear nem consultar os pares, nem manifestou repulsa à censura à revista Crusoé que deu uma notícia oficial sobre o fato de ele mesmo ter recebido o codinome de “amigo do amigo do meu pai” no propinoduto da Odebrecht?

Cézar Benevides – No momento histórico em que vivemos todas as instituições oficiais estão sob julgamento por parcela representativa da população brasileira. Sendo assim, entendo como temerária a referida decisão monocrática. É cedo para tentar fazer um julgamento definitivo sobre a questão, porque o plenário ainda deve se manifestar. Contudo, os tempos são outros. Não é fácil separar os interesses em jogo, nem todos visíveis.

N – O senhor se surpreendeu com o silêncio sepulcral dos ministros do plenário da mesma Corte em relação a todos esses arrepios totalitários, mesmo aqueles que tanto proclamam seu amor à isenção do Supremo, à autonomia dos Poderes e à igualdade de todos os cidadãos perante a lei?

CB – Não, é habitual. Suponho que estão refletindo sobre a complexa questão.

N – Que solução institucional e democrática, dentro da ordem constitucional vigente, o senhor enxerga para a criação de um órgão que possa conter os ímpetos tirânicos provocados pelo excesso de poder sem controle dos magistrados que se consideram “supremos”, sendo que oito dos 11 nem magistrados são?

CB – O processo histórico brasileiro é pleno de “ímpetos tirânicos”. Uma minoria deu certo, até certo ponto, com Vargas. O certo é que as “conciliações” do passado encontram-se frágeis, mas não o suficiente para abrir mão de suas prerrogativas.

N – Quem tem razão, na sua opinião: a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que considerou como manifestação de um “tribunal de exceção” a prorrogação do inquérito acima citado até o fim do ano (seu primeiro prazo fatal venceu em julho no chamado “recesso branco”) e sua extensão à análise de provas roubadas, cujo uso se enquadraria, segundo o presidente Jair Bolsonaro, em receptação; ou o ministro do STF Gilmar Mendes, que chamou a força-tarefa da Operação Lava Jato de “organização criminosa" para investigar cidadãos?

CB – Fico com a sensatez da Procuradora da República, Sra. Raquel Dodge.

N – Na semana passada, sua antecessora na série Nêumanne entrevistaneste blog foi a ex-corregedora-geral da Justiça Eliana Calmon. Ela disse o seguinte: “A história do Judiciário Brasileiro está recheada de processos penais de grandes corrupções na máquina estatal, quase todos arquivados por firulas processuais. Como um rastilho de pólvora propagaram-se os diálogos interceptados, enlouquecendo os réus da Lava Jato, os condenados no mesmo processo, a militância petista sempre de prontidão e até parte considerável da magistratura que se intitula garantista, fervorosos defensores dos princípios constitucionais interpretados literalmente.” Mesmo assim, Diogo Mainardi, editor de O Antagonista e da revista Crusoé, censurada por ordem de Alexandre de Moraes, previu que as mensagens do Intercept serão legalizadas e aceitas como provas, descriminalizando sem lei as provas ilícitas e seus receptadores. Quem, na sua opinião, está certo? 

CB – Toda e qualquer forma de censura é condenável. A tradição jurídica brasileira se apoia, de uma maneira geral, na denominada “Teoria dos frutos da árvore envenenada”. Tais frutos proliferam na atualidade. Temo que essa tendência seja abandonada, contaminando o pensamento e a prática jurídica do país. Os sinais não podem ser desprezados.

N – Como paraibano, rebento de família Benevides, de Patos de Espinharas, na porta do sertão, como o senhor encara essa polêmica entre o presidente Jair Bolsonaro e os governadores nordestinos eleitos por siglas que dizem pertencerem à resistência, e não à oposição, alegando que não vivemos aqui numa democracia, mas numa ditadura protofascista, em torno de verbas públicas condicionadas à guerra ideológica?

CB – Há diferentes formas de fascismo. A generalização é sempre perigosa. Observo um certo exagero nos pronunciamentos dos governantes do nordeste. Pelas lembranças que conservo do atual Presidente da República, meu contemporâneo na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), não acredito que ele pretendeu ofender os nordestinos. Foi, provavelmente, um ato falho com utilização de expressões hoje não consideradas “politicamente corretas”. Durante o nosso convívio na AMAN ele mesmo me chamava de “arataca” porque nasci na cidade de João Pessoa. Um detalhe: não tenho cabeça chata.

N – Não estariam estes governadores esquecendo um dado elementar, que deveria ser estudado nos departamentos de História das Universidades, que a radicalização da polarização se deu em 2006 ,quando, tendo de enfrentar Geraldo Alckmin, do PSDB, na eleição presidencial, em plena eclosão do escândalo do tal do mensalão, Lula recorreu à criação de marketing do Fla-Flu político dos “nós contra eles”?

CB – Dificilmente esse tema será estudado nas universidades públicas brasileiras, preocupadas, em sua maioria, com o filtro de acontecimentos vinculados a 1964. Infelizmente, a ideologia direciona o conhecimento científico no âmbito das ciências humanas.

N – Outra discussão na moda nestes tempos novos, que parecem tão velhos, tem sido a intenção da nomeação para a embaixada do Brasil em Washington de Eduardo Bolsonaro pelo pai, Jair, tendo como única eventual razão a boa relação familiar entre os Bolsonaro e os Trump? Em defesa dela, o presidente brasileiro argumentou à colega Leda Nagle que terá de nomear o filho de alguém e perguntou por que não pode ser o dele? Em sua coluna na revista Veja, o jornalista José Roberto Guzzo, que tem sido um defensor permanente do atual governo, escreveu: “não pode e pronto”. Quem tem razão, na sua opinião?

CB – Guzzo é um grande jornalista e merece todo meu respeito. A indicação do filho do Presidente não deixa de ser uma novidade para a oposição. Mas estamos em um “novo governo de direita” que tem as suas próprias premissas. É melhor ficar na expectativa e torcer para que o jovem deputado se revele um estadista. Seja o que Deus quiser…

N – Como nordestino, com vida de discente no Paraná e docente no Mato Grosso do Sul, como o senhor está acompanhando as peripécias dos dois ministros da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez e Abraham Weintraub, nomeados por seu antigo colega de Academia Militar de Agulhas Negras, Jair Bolsonaro?

CB – Estou aposentado há cinco anos e tornei-me apenas um observador não engajado, ao contrário do grande sociólogo Raymond Aron. Não é uma tarefa fácil, mas o passado recente, que desprezou a educação básica e formou centenas de doutores hoje desempregados, me traz alguma esperança. Vamos continuar sendo um país de desdentados e analfabetos?

N – Que perspectivas o senhor é capaz de apontar daí do centro da galinha de ovos de ouro que impede o Brasil de quebrar de vez nesta crise, ou seja, o próspero, moderno e rico agronegócio, para nosso povo exausto de tanto desatino desta República que parece cronicamente insana?

CB – Acredito que o Brasil deve se abrir e apostar nas inovações possíveis. Romper com a hegemonia do sudeste exige, em todos os sentidos, um esforço sobrenatural, que tem sido feito. Em todo o caso, trata-se de um projeto de longo prazo que exige contínuos e onerosos investimentos.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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