Parafraseando o notável político baiano Otávio Mangabeira, por mais
absurdo que seja o acontecimento, no Brasil há precedente. Mas o
“saidão” só encontra precedente numa antiga piada, cuja graça é o
absurdo da coisa: a do rapaz que mata o pai e a mãe porque queria ir ao
baile de órfãos. Coluna dominical de Carlos Brickmann:
Hoje é Dia dos Pais. Dia em que Suzane von Richthofen, condenada por
assassínio de pai e mãe (foram mortos a pauladas), está de férias da
prisão. Dia em que Alexandre Nardoni, sentenciado pelo assassínio de sua
filha de 5 anos (de acordo com a condenação, a menina foi atirada da
janela do sexto andar) está de férias da prisão. Mas, diga-se, a bem da
verdade, este “saidão” do Dia dos Pais (já houve, anteriormente, o
“saidão” do Dia das Mães) não beneficia apenas os condenados pela morte
de pais ou filhos: estende-se a alguns milhares de pessoas condenadas
por crimes diversos. E não se limita ao Dia dos Pais: no total, são nove
dias de liberdade – após os quais há sempre uma porcentagem que
simplesmente não retorna à prisão.
Uma dúvida: se estas pessoas podem circular livremente em certos dias
do ano, por que passam os outros dias na prisão? Se oferecem tanto
perigo que precisam ficar presas, por que são libertadas em períodos
festivos? Ou oferecem risco (e, nesse caso, o tal “saidão” é estranho)
ou não oferecem risco – e, nesse caso, o absurdo é mantê-las presas,
ocupando as vagas tão escassas no sistema penitenciário já superlotado.
Parafraseando o notável político baiano Otávio Mangabeira, por mais
absurdo que seja o acontecimento, no Brasil há precedente. Mas o
“saidão” só encontra precedente numa antiga piada, cuja graça é o
absurdo da coisa: a do rapaz que mata o pai e a mãe porque queria ir ao
baile de órfãos.
Forte…
Apesar de toda a campanha desencadeada contra ele, o ministro da
Justiça, Sérgio Moro, continua sendo a figura mais popular do Governo.
Tem quase o dobro da popularidade do presidente Jair Bolsonaro. Neste
momento, este é seu único trunfo: o apoio do eleitorado. Pois até agora o
Governo não se mexeu para ajudá-lo a aprovar uma sequer das medidas que
propôs. Talvez ser mais popular do que Bolsonaro lhe custe este preço.
… mas fraco…
Bolsonaro prometeu-lhe o Coaf, que monitora a movimentação de
recursos no país. A Câmara Federal rejeitou a mudança (sem que nenhum
participante do Governo se movesse) e, diante da possibilidade de que o
Senado revertesse a decisão dos deputados, Bolsonaro resolveu deixar
tudo por isso mesmo – e prometeu a Moro que Roberto Leonel, indicado por
ele para a presidência do Coaf, continuaria no cargo. O Coaf ficaria na
Economia mas Paulo Guedes seguiria a política de Guedes.
…e encolhendo
Agora, Guedes e Bolsonaro querem livrar-se da promessa. E Bolsonaro
fala em passar o Coaf para o Banco Central, “exclusivamente técnico”.
Bolsonaro quer a cabeça de Leonel, que protestou contra a decisão do
ministro Tóffoli de cortar a ligação do Coaf com o Ministério Público e a
Receita – decisão que livrou Flávio Bolsonaro, o filho 01, de incômodas
investigações. Moro também teve de concordar com Bolsonaro, que o
mandou deixar o projeto anticrime em banho-maria até que seja aprovada a
reforma tributária. Em resumo, Moro tem força entre os eleitores, mas
não tem força alguma no Governo. Como um bifinho, encolhe quando frito.
A vida como ela é
Frase do presidente Bolsonaro sobre Sérgio Moro: “Eu sou técnico de
um time de futebol, e ele é um jogador. Jogador conversa comigo, dá
sugestão”. Mas fez questão de dizer que se aconselha com Moro. Agora só
falta descobrir se Bolsonaro disse isso para elogiar Moro ou criticá-lo.
O fato
Como dizia Millôr Fernandes, um sábio, “livre-pensar é só pensar”.
Pois pensemos: os quatro maiores bancos do país tiveram R$ 20,4 bilhões
de lucro, o maior valor já amealhado num primeiro trimestre. Isso pode,
talvez, nos ajudar a entender alguma coisa.
Onde estamos?
Dois fatos ocorridos em São Paulo mostram que a democracia está sendo solapada – no mínimo, já está com o cartão amarelo.
Primeiro: a PM paulista invadiu uma reunião de membros do PSOL, pediu
a identificação dos participantes e informou que estava monitorando
suas atividades. Não havia acusação nenhuma, nem perturbação da ordem,
nada que pudesse dar motivo à intervenção da Polícia Militar.
Segundo: no estádio do Corinthians em Itaquera, SP, um torcedor
estava gritando contra o presidente Bolsonaro e foi preso. Não bateu em
ninguém, não ameaçou ninguém, só manifestou sua opinião. Este colunista
não tem nada a favor dos alvos do arbítrio: só iria a uma reunião do
PSOL para fazer reportagem e acha que o objetivo de ir ao estádio é
torcer pelo seu time e ver o jogo. A política partidária deve ficar de
fora. Mas todos exerciam seus direitos constitucionais. Por que a PM os
incomodou? Falar mal do presidente virou crime? Com a palavra o
governador João Doria.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário