Seja homem. Faça o exame.
06/11/2018 às 19:04 JORNAL DA CIDADE ONLINE
Há uns anos, baita crise renal, pernoitei no P.S da S.C.
Fui medicado, bem cedo, já sem dor, fiz a consulta com o urologista.
Anamnese rasa, só o trivial.
Eu tavo fragilizado pela sofrência noturna, com aquela roupinha inteira na frente e bissoultamente aberta atrás - com um só lacinho prendendo os lados.
Vulnerável ainda por cima...
O moço me convidou pra maca, na mó secura, praticamente ordenando:
"Deite-se ali, posição fetal, de frente pra parede" - olhando pra assistente como quem sinaliza manjado código procedimental.
Enquanto eu me posicionava conforme o estabelecido, percebi a moça pegando material num armário.
Não nasci ontem e saquei a pretensão e onde 'aquilo' ia dar.
Tudo tão impessoal, frio e seco...
Pra quebrar o gelo, sugeri que o moço me falasse dele, talvez uma bebidinha antes... né? Nada, nem um riso, nem um brilho ou encanto.
Encarando os ladrilhos brancos do ambulatório, naquele colchonete magro, na presença duma estranha, costas nuas e... posição fetal, pude ouvir o ruído característico duma luva de látex sendo vestida, e a comunicação monossilábica entre o moço e a moça.
"Dr. a vaselina".
"Ok"
Suspirei vazio e só, embora acompanhado em ato conjunto, como quem se sente só em meio à multidão, usado... Uma tristeza.
Imerso nas minhas angústias existenciais, atropela-me o moço com questões pra lá de estranhas:
"Aqui dói?"
Jesus... Não, Dr. Dói não.
Aqui lembrei da piada da menina e do Toninho: "Tutinua, Toninho.. Tutinua!"
Fosse pouco:
"E assim, dói?"
(...)
"Pronto Sr. João. Tá ótimo. O volume da próstata está normal. Tá tudo bem 'aí'..."
Preferi encarar como um elogio.
Agradeci ao Dr. depois de todas as recomendações feitas, receitas aviadas. Parti.
Num último e impulsivo movimento, já saindo pela porta, tasquei na lata (não haveria outra oportunidade)
Mas o senhor não vai pedir meu telefone??
E todo o P.S se alegrou com as gargalhadas de nós três no pequeno ambulatório, que ecoaram pelos corredores ocos e frios daquele lugar.
---
A história acima é real, 'purpurinada', é óbvio.
A intenção é quebrar o tabu que existe sobre questões médicas que envolvem 'honra do homem' e o mito da 'masculinidade ameaçada'.
A dica que deixo é:
Seja homem.
Faça o exame.
Fui medicado, bem cedo, já sem dor, fiz a consulta com o urologista.
Anamnese rasa, só o trivial.
Eu tavo fragilizado pela sofrência noturna, com aquela roupinha inteira na frente e bissoultamente aberta atrás - com um só lacinho prendendo os lados.
Vulnerável ainda por cima...
O moço me convidou pra maca, na mó secura, praticamente ordenando:
"Deite-se ali, posição fetal, de frente pra parede" - olhando pra assistente como quem sinaliza manjado código procedimental.
Enquanto eu me posicionava conforme o estabelecido, percebi a moça pegando material num armário.
Não nasci ontem e saquei a pretensão e onde 'aquilo' ia dar.
Tudo tão impessoal, frio e seco...
Pra quebrar o gelo, sugeri que o moço me falasse dele, talvez uma bebidinha antes... né? Nada, nem um riso, nem um brilho ou encanto.
Encarando os ladrilhos brancos do ambulatório, naquele colchonete magro, na presença duma estranha, costas nuas e... posição fetal, pude ouvir o ruído característico duma luva de látex sendo vestida, e a comunicação monossilábica entre o moço e a moça.
"Dr. a vaselina".
"Ok"
Suspirei vazio e só, embora acompanhado em ato conjunto, como quem se sente só em meio à multidão, usado... Uma tristeza.
Imerso nas minhas angústias existenciais, atropela-me o moço com questões pra lá de estranhas:
"Aqui dói?"
Jesus... Não, Dr. Dói não.
Aqui lembrei da piada da menina e do Toninho: "Tutinua, Toninho.. Tutinua!"
Fosse pouco:
"E assim, dói?"
(...)
"Pronto Sr. João. Tá ótimo. O volume da próstata está normal. Tá tudo bem 'aí'..."
Preferi encarar como um elogio.
Agradeci ao Dr. depois de todas as recomendações feitas, receitas aviadas. Parti.
Num último e impulsivo movimento, já saindo pela porta, tasquei na lata (não haveria outra oportunidade)
Mas o senhor não vai pedir meu telefone??
E todo o P.S se alegrou com as gargalhadas de nós três no pequeno ambulatório, que ecoaram pelos corredores ocos e frios daquele lugar.
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A história acima é real, 'purpurinada', é óbvio.
A intenção é quebrar o tabu que existe sobre questões médicas que envolvem 'honra do homem' e o mito da 'masculinidade ameaçada'.
A dica que deixo é:
Seja homem.
Faça o exame.
João Henrique de Miranda Sá
Jornalista independente em Campo Grande - MS.
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