"A lição da eleição brasileira é que a direita liberal só será
alternativa se recusar compromissos com essas misturas de socratismo e
Bloco de Esquerda como a que o PT corporiza no Brasil". Artigo de Rui
Ramos, colunista do jornal português Observador, que dedica algumas páginas à análise das eleições que consagraram Bolsonaro:
Mais uma vez, a maioria de um país não obedeceu às instruções de
voto. As esquerdas radicais e as elites que as esquerdas radicais têm
reféns não percebem. Dominam os estúdios de televisão, as salas de aula,
as fundações que dão subsídios: aí, ninguém se desviou da lição
ensinada: Bolsonaro era fascista, toda a gente que não votasse em Haddad
era fascista (ou, pelo menos, “branqueador do fascismo”). Acontece que
fora desse mundo de conformismo e estacionamento intelectual, a máquina
de fazer fascistas deixou de funcionar.
O que se passou é óbvio: no Brasil, a maioria dos eleitores, por mais
repugnante que fosse a alternativa, não esteve disposta a entregar o
poder ao PT. Por isso, não se deixaram enganar pela velha rábula do
“fascismo”. A desonestidade, aliás, era demasiado evidente: se Bolsonaro
era tão perigoso, porque é que o PT não desistiu a favor de outro
candidato, em melhores condições para unir os brasileiros contra o
“fascista”, logo que as sondagens, ainda antes da primeira volta,
confirmaram que o acólito de Lula nunca conseguiria isso? Porque o PT,
como é claro, não levou a sério a demonização de Bolsonaro: era apenas
um truque para obrigar os brasileiros a caucionarem o seu sectarismo e a
sua corrupção. Não resultou.
Há muitas citações tolas e abjectas no currículo de Jair Bolsonaro.
Mas se o Brasil tiver de ser uma ditadura militar, é improvável que o
ditador seja ele. O verdadeiro perigo da sua presidência é outro: a
incapacidade de proporcionar o governo estável e reformista de que o
Brasil precisa, e agravar, com isso, a crise do país. É por isso uma
tragédia que a direita conservadora e liberal não tenha conseguido
protagonizar o movimento de repúdio do PT. Mas porque não conseguiu?
Porque essa direita, no Brasil, se descredibilizou, ao colaborar durante
anos com o PT e a sua corrupção. A opção de votar Haddad, como percebeu
Fernando Henrique Cardoso, teria completado esse descrédito. Mas lá e
cá, onde a Lisboa política tentou imitar as eleições brasileiras como a
província imita o carnaval, vimos demasiada direita a procurar
pateticamente um atestado de “moderação” abraçando o PT. A “moderação”,
porém, não é escolher um dos extremos: é recusar essa escolha.
Bolsonaro é um grande risco. Mas uma vitória do PT, conseguida por
meio da histeria e da mentira com que Haddad, sem quaisquer escrúpulos,
clamou que o general Mourão fora, aos 16 anos, um torturador da polícia,
teria sido a ruína garantida da democracia no Brasil. É que uma
democracia não pode ser o império da corrupção e da falsidade. Leis e
instituições, só por si, não dispensam qualidades naqueles que exercem o
poder.
Aliás, se votar no PT fosse o meio mais eficaz de impedir a ascensão
de gente como Bolsonaro, então não deveria haver Bolsonaros depois de
quase duas décadas de mando petista. Esquerdas corruptas e radicais,
como se viu agora no Brasil, não servem para prevenir estas insurreições
eleitorais. E as direitas conservadoras e liberais, servem? A lição da
eleição brasileira é simples: se quiserem ser uma alternativa, essas
direitas têm, antes de mais, de evitar o erro da direita brasileira, e
recusar compromissos com misturas de socratismo e Bloco de Esquerda como
a que o PT corporiza no Brasil. As democracias ocidentais precisam de
direitas livres e lúcidas, sem medo das esquerdas e das suas velhas
máquinas de fazer fascistas. Só assim talvez não acabem por cair, à
medida que os eleitorados se fartam da corrupção e do “politicamente
correcto”, nas mãos dos Trump, Salvini e Bolsonaro. Recusar os Haddad é a
única maneira de evitar os Bolsonaro. Infelizmente, a maior parte da
direita, no Brasil como cá, não percebeu uma coisa tão elementar.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário