Correio Braziliense
O senador Alvaro Dias (Pode-PR) entra na corrida para a Presidência da República apostando que o baixo nível de rejeição ao seu nome será o diferencial nas eleições de 2018 contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que estão à frente nas pesquisas de intenção de voto. Com 43 anos na política, o parlamentar vem sendo pouco lembrado no cenário, mas garante que a corrida está só começando e acredita ter chances. Uma das bandeiras do senador será o combate aos privilégios. Dias também defende um forte enxugamento do tamanho do Estado e, principalmente, do Congresso. Para isso, quer promover uma verdadeira reforma política com a redução de 20% dos integrantes da Câmara e de um terço do Senado.
O senhor diz que o governo não está bom, mas, mesmo com 6% de aprovação da população, ele tem o apoio de grande parte do Congresso. Isso não representa alguma coisa?
Isso reflete a cultura da política brasileira. Tenho 43 anos de mandato eletivo e nunca vi um presidente da República, por mais impopular que seja, ter minoria no Congresso. Lamento que essa maioria, muitas vezes, é conquistada a um preço exorbitante, como ocorre atualmente com esse balcão de negócios. O Congresso virou um almoxarifado a serviço do Executivo quando se instala uma verdadeira feira persa. Esse sistema foi clonado e transplantado também para estados e municípios e é a causa de tantos males que afligem o país hoje.
Qual a principal bandeira de campanha?
É exatamente a ruptura com esse sistema. As pesquisas mostram que a sociedade busca um candidato novo, um outsider, fora da política atual. Vejo diferente. O eleitor quer experiência administrativa e passado limpo, alguém com coragem para combater a corrupção e com experiência administrativa. Essa história do novo surge até um pouco em função do Emannuel Macron, presidente da França, mas muitos esquecem que ele tinha larga experiência administrativa. O que a população busca é a alternativa de uma ruptura com o sistema atual.
Como o senhor pretende fazer o eleitor se identificar com as suas propostas? Há alguma semelhança com o Podemos espanhol, que é de esquerda?
Não temos nada a ver com o Podemos espanhol. Só o nome. Aqui se preferiu, desde o início colocar como inspiração o “Yes, We Can”, do Obama. Mas também temos uma aproximação maior com a proposta do Macron, que é exatamente a caminhada pelo centro, valendo-se das virtudes possíveis de serem encontradas na direita e na esquerda. A população quer distância dessa dicotomia de rótulos. Melhor que essa nova política chegue através de alguém que defende isso há muito tempo.
O senhor é autor do projeto que extingue o foro privilegiado. Irá lutar pelo combate aos privilégios?
Essa é uma das minhas bandeiras. Tenho várias propostas que, se fossem aprovadas, estaríamos eliminando os últimos resquícios de privilégios de autoridades contidos na Constituição. E quem combate os privilégios deve abrir mão dos seus. Eu abri mão da aposentadoria de ex-governador há 26 anos. São mais de R$ 10 milhões nesse período. E, há 10 anos, abri mão da verba indenizatória, de R$ 15 mil por mês, e do auxílio-moradia, de R$ 5,5 mil por mês. O fim dos privilégios é uma exigência da sociedade e uma questão de inteligência da classe política. Ou mudamos ou seremos atropelados por essa vontade irresistível de mudança que há hoje.
E o que mais defende?
A minha proposta é de ruptura com esse sistema. É uma reforma não só no Executivo, mas no Legislativo e no Judiciário. Ela começa por reduzir o número de estatais federais (hoje 149). Temos que reduzir esses cabides de emprego. No Judiciário, a mudança é em relação ao modelo de escolha de ministros dos tribunais superiores, estabelecendo a meritocracia. Já o Legislativo precisa ficar mais enxuto, econômico e qualificado. É preciso uma redução de senadores, de três para dois por estado, e de deputados, em 20%. Hoje, uma reunião de líderes na Câmara mais parece um comício. Isso inviabiliza o processo legislativo.
O senhor tem aparecido com números entre 1% e 2% das intenções de votos espontâneos nas pesquisas. Isso é reversível?
Na verdade, tenho 6% na simulação de voto. Mas 1% espontâneo é ótimo porque eu existo. No Sul, por exemplo, chego a 20%, mas ainda estamos muito longe da campanha eleitoral. A verdade é que muitos defendem uma nova política, mas não se desgarram dos velhos conceitos. Não há o entendimento de que, para ser bem sucedido, será preciso ter grandes alianças. As pesquisas ainda não apontam a realidade.
Mas, nas últimas pesquisas de intenção de voto, em todos os cenários, o ex-presidente Lula está na frente. O segundo é o deputado Jair Bolsonaro…
Isso é uma questão de interpretação. Lula e Bolsonaro estão inviabilizados pela rejeição. Em uma campanha, você pode reduzir a rejeição, mas é muito difícil porque é nela onde os fatos são expostos. Se há uma rejeição agora, imagina no decorrer da campanha. No caso do Lula, pela lei, ele se tornará inelegível.
E a reforma da Previdência?
Não há dúvida de que há a necessidade de uma reforma da Previdência, mas é preciso modernizar o sistema previdenciário. O que o governo faz é um estardalhaço que torna a Previdência o calcanhar de Aquiles da administração federal, e não fala da dívida pública. O essencial em uma reforma é eliminar conflitos e não alimentá-los. Essa reforma não foi discutida, principalmente, no Senado, que tem ficado à margem, como na reforma trabalhista. Virou um mero chancelador.
Por isso o senhor votou contra a reforma trabalhista?
O meu voto foi mais simbólico. Sempre defendi a reforma trabalhista, mas entendi que meu voto tinha que ser do protesto em relação à forma e ao modelo adotado pelo governo, que, em vez de eliminar privilégios e conflitos, preferiu estimular os conflitos.
E a reforma tributária?
Essa é essencial. O governo não fala muito sobre ela porque não tem estratégia para o futuro, só pensa no que arrecada hoje. E arrecada muito e não quer perder receita num primeiro momento. Não entende que a redução da carga tributária vai fazer com que a roda da economia gire com mais força. Tive uma experiência minúscula diante do problema nacional no governo do Paraná, onde tínhamos uma grande sonegação na área da carne. Os frigoríficos sonegavam. A alíquota do ICMS era de 17%. Reduzimos para 7% e a receita aumentou em 300%.
E os temas polêmicos? Qual sua posição sobre o projeto da escola sem partido, aborto e o porte de armas mais flexível?
Há situações em que é inevitável o porte de arma e temos que estabelecer normas rigorosas para permitir o uso. Vamos buscar especialistas para elaborar um mecanismo competente. Sobre o aborto, acho que as normas vigentes são suficientes. Não vejo a necessidade de falar sobre isso novamente na campanha. Escola sem partido nem deveria ter discussão. É evidente. Temos que ter a escola que queremos, mas é importante discutir os problemas do país na escola.
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