O perigo é quando as
agendas são mentirosas, escreve Carlos Alberto Sardenberg no jornal O
Globo, e os candidatos mais fortes se desviam das questões centrais para
vender soluções fáceis:
Muita gente está
desanimada com o cenário para as eleições presidenciais de 2018. E —
quer saber? — o quadro, visto de hoje, mostra uma polarização perigosa.
Esclarecendo: a polarização não é necessariamente perigosa. Não raro as
sociedades ficam diante de opções opostas, entre uma agenda liberal e
outra de esquerda, por exemplo. O perigo é quando as agendas são
mentirosas, quando os candidatos mais fortes se desviam das principais
questões e vendem soluções fáceis.
Para quem acha que
isso está por acontecer no Brasil, sugiro voltarmos a 1992. Collor caiu,
Itamar Franco assumiu em meio a uma crise econômica parecida com o
pós-Dilma, recessão com inflação, mas ainda pior porque o país não tinha
moeda com um mínimo de credibilidade. Haviam circulado nada menos que
cinco moedas desde 1985, ano da redemocratização.
Em poucos meses de
governo, Itamar teve três ministros da Fazenda. As expectativas só
pioravam diante do então evidente despreparo do presidente para lidar
com tamanha crise. No meio disso, Itamar recebe uma mensagem iluminada
sabe-se lá de onde e nomeia Fernando Henrique Cardoso ministro da
Fazenda. Talvez ninguém tenha sido mais surpreendido do que o próprio
FHC, até então um satisfeito ministro das Relações Exteriores.
A escolha não
entusiasmou. De fato, foi recebida com algum ceticismo. Fernando
Henrique tinha mais credibilidade do que seus antecessores no cargo, mas
não era economista nem especialmente familiarizado com a prática de
política macroeconômica.
Foi, portanto, uma
boa surpresa quando FHC, sociólogo do campo da esquerda à moda europeia,
montou uma equipe com economistas de primeira e deu início a um
programa claro: liquidar a inflação, introduzir a nova moeda e reformar
as instituições econômicas na linha mais liberal e ortodoxa.
Deu no Plano Real e
na eleição de FHC, em primeiro turno, em 1994 e 98, batendo Lula nas
duas vezes. Não parecia, mas acabou sendo o homem certo na hora exata em
que o país mais precisava.
O Real não foi apenas
a introdução de uma moeda estável, reconhecida como tal pela população,
mas o início de uma sequência de reformas que retiraram o caráter
estatizante da Constituição de 1988. Modernizou a administração, do
Ministério da Fazenda às estatais e bancos públicos, e introduziu a
noção e as leis de responsabilidade fiscal.
Portanto, pessoal,
milagres acontecem, e sempre há um jeito de sair da crise. Esta história
parece dar razão à tese segundo a qual a sociedade encontra o líder de
que precisa na hora em que precisa. A crise gera sua solução. Acrescente
aí a doutrina econômica das expectativas racionais — as pessoas sempre
tomam as decisões mais racionais e mais adequadas a seus interesses e
necessidades — e pronto, é só esperar que surja o FHC de 2018.
Fácil demais, simples
demais para ser verdade. O prêmio Nobel de economia deste ano, Richard
Thaler, demonstra exatamente o contrário, que as pessoas frequentemente
tomam decisões irracionais, contrárias a seus interesses. Falava das
decisões econômicas, pessoais, mas pode-se aplicar à política. Quantos
povos em quantos países não votam de maneira totalmente equivocada?
Ou seria Trump um líder selecionado pela História? E Dilma? Temer?
Por outro lado, é um
fato que os franceses, colocados diante de radicais de esquerda
(Mélenchon) e de direita (Marine Le Pen) e representantes da velha
política, elegeram Macron, que se apresentou com uma agenda clara de
reformas ditas impopulares (previdência, com aumento da idade mínima,
trabalhista, com aumento da jornada de trabalho, e privatizações).
Portanto, pessoal, o Brasil não está perdido. Tampouco está salvo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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