Postado em 15/07/2017 9:50 DIGA BAHIA!
A profissão de baiana de acarajé já faz parte da Classificação
Brasileira de Ocupações (CBO), documento que reconhece, nomeia, codifica
e descreve as características das ocupações do mercado de trabalho
brasileiro. Um estudo para viabilizar a inclusão dessa profissão começou
a ser realizado no início do mês, e nesta sexta-feira (14) passou a ser
realidade. A novidade é fruto do esforço da Secretaria Municipal de
Políticas Públicas para Mulheres, Infância e Juventude (SPMJ) junto ao
Ministério do Trabalho. Apenas em Salvador, cerca de 3,5 mil
profissionais devem ser beneficiadas, conforme estimativa da Associação
das Baianas de Acarajé, Mingau e Receptivo da Bahia (Abam).
Desde 2005, as baianas são reconhecidas como Patrimônio Cultural
Imaterial do Brasil pelo Iphan, mas ainda sentiam dificuldade em ter a
profissão reconhecida. Com a inclusão da profissão na CBO, elas passam a
assumir a identidade profissional ao realizar cadastros formais para
tirar documentos como RG e passaporte, ou se cadastrar como
microempreendedor individual. Além disso, a secretária Taissa Gama
lembra que a inclusão facilita a criação de cursos de especialização
para esta área. “Agora elas poderão dizer qual é a verdadeira profissão
que exercem. Essa não é apenas uma conquista das baianas, mas de
Salvador e da Bahia”, afirmou a secretária.
A presidente da Abam, Rita Santos, comemorou a iniciativa,
destacando que essa é uma vitória histórica para as profissionais. “É
uma reivindicação que já vinha fazendo desde 2009, depois que eu não
pude me cadastrar como baiana de acarajé ao fazer o meu passaporte.
Queriam que eu me cadastrasse como cozinheira, mas eu não sou, sou
baiana de acarajé”, disse. Além do reconhecimento, outras ações estão
sendo realizadas em prol das baianas de acarajé. Uma delas é levar
debates às Prefeituras-Bairro para coibir o trabalho infantil nos
tabuleiros.
História – A comercialização do acarajé teve início ainda no
período da escravidão, a partir do século XVI, com as chamadas escravas
de ganho que trabalhavam nas ruas para as suas senhoras (geralmente
pequenas proprietárias empobrecidas), desempenhando diversas atividades,
entre elas, a venda de quitutes nos seus tabuleiros. A relação com a
religiosidade era muito forte e a massa era feita no terreiro, de onde a
baiana saia com todas as obrigações a serem cumpridas a seu Orixá.
Através de um canto tradicional, as baianas chamavam o povo para comprar
e comer. Elas diziam a expressão “acará jê” (de akàrà, bola de fogo, e
jê, vender) em canto, enquanto vendiam. A partir daí, surgiu o nome.
No final do século XIX, as mulheres tinham a permissão de seus
senhores para sair no final do dia, com o tabuleiro na cabeça, protegida
por um torço de pano da costa, para comercializar os bolinhos, feitos
de massa de feijão fradinho descascado, cebola, gengibre e camarão;
fritos no azeite de dendê. Depois da abolição, em 13 de maio de 1888, a
tradição continuou. Até meados da década de 70 do século XX, as baianas
mantiveram o costume de vender o produto somente à tarde e à noite.
Depois que o acarajé conquistou visitantes, passou a ser um dos cartões
de visita da culinária baiana e a ser vendido durante o dia.
O acarajé e o abará são comercializados, atualmente, em Salvador,
por um preço médio de R$ 5, mas é possível encontra-los até mesmo por R$
1. No candomblé, o alimento é preparado para cultuar os orixás Iansã e
Xangô. O ofício das baianas de acarajé está inscrito no Livro dos
Saberes do Iphan, desde 2005, como Patrimônio Cultural Imaterial do
Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário