Paulo Guedes, em artigo publicado pelo jornal O Globo:
A histórica
associação entre enormes estruturas burocráticas de administração
centralizada e os regimes políticos degenerados é bem documentada.
Tocqueville registrou a tradição dirigista de centralização
administrativa francesa como eixo de autoritarismo encadeando através do
tempo os regimes monarquista, revolucionário e bonapartista. O
despotismo absolutista, o terror jacobino e as guerras napoleônicas
tornaram-se possíveis pela concentração de poder inerente às engrenagens
dirigistas.
Da mesma forma, a
impressionante burocracia prussiana, da máquina militarista imperial aos
correios, às ferrovias e à previdência social arquitetada por Bismarck,
seguiu ampliando suas engrenagens muito além do Antigo Regime
guilhermino. Proliferou em meio à avalanche social-democrata da
República de Weimar, até atingir seu clímax no capitalismo de Estado sob
comando do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães.
Degeneração moral e política também do socialismo soviético do século XX
ao socialismo bolivariano do século XXI.
Essa linha lógica
costura os fatos nos últimos 40 anos da História brasileira. Os
militares no Antigo Regime de 1964 e a social-democracia hegemônica
desde a redemocratização, em 1985, empurraram os gastos públicos de
menos de 20% para mais de 40% do Produto Interno Bruto. A corrupção
sistêmica tem aqui suas raízes profundas, penetrando muito além da
superfície política. Envergonhou os militares, devastou a “direita”
fisiológica e desmoralizou a “esquerda” social-democrata. A Operação
Lava-Jato devora o PT, o PMDB e o PSDB, grandes partidos que se revezam
no poder há nove mandatos presidenciais. A morte da Velha Política agora
em 2017 marca o fim de uma era, e as campanhas eleitorais em 2018 serão
o anúncio do nascimento da Nova Política. Nossas instituições estão
sendo testadas. O governo Temer se comprometeu com o controle de gastos,
a reforma trabalhista e a reforma da Previdência. Seu eventual
sucessor, Rodrigo Maia, assumiu a Câmara dos Deputados com os mesmos
compromissos. Devem submeter as matérias ao Congresso, recorrendo ao
“fechamento de questão” para sua aprovação. Sem isso, são alvos fáceis
para as precipitadas sugestões de antecipação das eleições
presidenciais. Nossa democracia segue em marcha.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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