Merval Pereira analisa o estranho adiamento da oitiva do tiranete Lula anteriormente marcado para o próximo dia 3 de maio:
O possível adiamento
do depoimento de Lula ao Juiz Sérgio Moro decorre do receio de
manifestações populares em Curitiba ou sinaliza que Lula pode ser preso a
qualquer momento? A Polícia Federal pediu esse adiamento por que, como
alega oficialmente, quer mais tempo para organizar o esquema de
segurança na cidade, ou está juntando mais provas contra o
ex-presidente? Foi uma vitória de Lula? Foi uma demonstração de medo de
Moro?
Nenhuma explicação
oficial faz sentido. Desde março a data está marcada, e os organismos de
segurança tiveram tempo suficiente para organizar seus esquemas
preventivos. Se foram surpreendidos com uma movimentação acima do normal
dos militantes petistas, serviços de informação e segurança não são.
Difícil entender a
comemoração dos petistas e aliados, pois a situação de Lula fica cada
vez mais fragilizada a cada depoimento, como os de João Santana e Monica
Moura dados ontem no processo do Tribunal Superior Eleitoral, ou do
próprio ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, que demonstrou uma intimidade
com Lula e sua família que não pode ser negada, pois quando foi levado
coercitivamente para depor, o próprio ex-presidente admitiu que era
amigo de Léo Pinheiro.
Evidentemente são
ex-amigos agora, mas Lula procura atenuantes para as acusações, alegando
que o ex-presidente da OAS as fazia por que está negociando uma delação
premiada. Claro que com isso procura também deslegitimar as palavras de
Léo Pinheiro, mas as evidências são muitas.
A possibilidade de
Lula vir a ser preso nos próximos dias existe, diante da denúncia de que
ele orientou seu amigo a destruir qualquer prova que ligasse o
pagamento de propinas ao triplex do Guarujá. Aconteceu assim com o
ex-senador Delcídio do Amaral, diante de uma gravação explosiva em que
relatava as manobras para impedir que Nestor Cerveró denunciasse Lula.
O fator surpresa,
naquela ocasião, foi fundamental para que o Senado aprovasse sua prisão.
Já no depoimento de Léo Pinheiro, a divulgação do vídeo tirou o impacto
da revelação, feita diante de advogados diversos e procuradores do
Ministério Público. Creio que só se surgirem novas provas – será isso
que a Polícia Federal busca? – se justificaria a prisão de Lula neste
momento.
Assim como não
acredito que o Juiz Sérgio Moro esteja preparando a prisão do
ex-presidente para o dia do depoimento, a não ser que Lula perca o
controle e afronte sua autoridade, no que também não acredito. Seria uma
atitude irresponsável que não o ajudaria em nada, ao contrário.
O comportamento da
defesa do ex-presidente é muito próximo, em diversas ocasiões, de uma
afronta à autoridade do Juiz Sérgio Moro, que tem conseguido se manter
frio diante das provocações. Fazer a mesma pergunta diversas vezes, de
maneira diferente, é costumeira forma de a defesa tentar protelar a
decisão final.
Arrolar 87
testemunhas de defesa é claramente um desafio e outra tentativa de
ganhar tempo, e Moro caiu na esparrela ao exigir a presença de Lula em
cada um dos interrogatórios. Nada indica que tenha poder para tal, e a
única coisa que conseguiu foi mostrar a motivação protelatória da
defesa, mas deu margem a que fosse acusado mais uma vez de perseguidor
de Lula.
Para o ex-presidente,
o melhor cenário é ser condenado em segunda instância a tempo de ser
impedido de concorrer às eleições de 2018. Posaria de vítima e não
correria o risco de ser derrotado. Ninguém leva a sério a pesquisa da
CUT/Vox Populi que indica Lula como vencedor do primeiro turno. É só uma
pressão política contra sua prisão.
Mesmo que fosse
correta, é preciso ser muito ingênuo para acreditar que Lula, com todas
essas acusações, especialmente depois das delações dos executivos da
Odebrecht, conseguirá manter essa pretensa popularidade numa campanha
presidencial acirrada como a que se aproxima.
O que é grave é esse
ambiente de confronto que está sendo armado para o dia do
interrogatório. Afinal, Lula é intocável? Está acima das leis? (O
Globo).
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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