A cada hora, onze pessoas procuraram atendimento médico com sintomas de dengue, zika e chikungunya no primeiro trimestre deste ano em Minas Gerais. Foram 22.928 vítimas do mosquito Aedes aegypti, transmissor dessas doenças, que poderá se multiplicar ainda mais em abril, graças ao clima propício e a enorme quantidade de criadouros, como pontos com água parada e lixo acumulado.
Venda Nova é a região com maior quantidade de focos de Aedes aegypti, seguida por Pampulha
Os dados são da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e mostram a realidade entre 1º de janeiro e 27 de março. Apenas de dengue foram 17.706 casos prováveis, 4.852 de chikungunya e outros 370 de zika nesse período – cerca de 267 notificações das enfermidades a cada dia.
Os números já acendem um alerta, mas tendem a ficar ainda maiores. “Final de março e todo o mês de abril são, normalmente, períodos em que aumentam os focos do mosquito. Difícil dizer um motivo exato, mas pode ser devido ao fato de ainda ser uma época com chuvas e temperaturas elevadas”, afirma o coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Dengue, Mauro Martins Teixeira, que também é professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG.
O pior é que, assim como os criadouros crescem, o risco de contaminação das pessoas pelas doenças transmitidas pelo Aedes também. No ano passado, abril teve 125.482 casos suspeitos das três enfermidades. A dengue liderou naquele mês, com 123.175 notificações.
Aedes dengue
COMBINAÇÃO FATAL – Lixo e água atraem mosquito
Para evitar que números tão altos se repitam, existe um esforço maior no combate ao mosquito por parte do governo do Estado. Tanto que o investimento nas ações contra o vetor deverá ser 9,42% superior ao aplicado no ano passado. Há uma previsão de gasto da ordem de R$ 41,95 milhões para isso, contra R$ 38,33 milhões em 2016. Outros R$ 47,6 milhões serão direcionados para emergências em saúde, somando R$ 89 milhões.
Mas há necessidade de envolvimento da população. “É importantíssimo que haja um engajamento nas ações de eliminação dos criadouros. São dez minutinhos para olhar o acúmulo de água nos ralos, vasinhos de flores e caixa d’água que vão salvar vidas”, afirma a superintendente de Vigilância Epidemiológica da SES-MG, Deise Aparecida dos Santos.
“Neste ano, vamos investir mais de R$ 40 milhões em ações de combate ao Aedes aegypti" (Fabiano Pimenta Júnior, subsecretário de Saúde de BH)
Descaso
Na capital, porém, encontrar locais que servem como criadouros para o Aedes aegypti não é tarefa difícil. É o caso de uma área abarrotada de entulho às margens da rodovia MG–020, no bairro Novo Tupi, Norte da cidade.
Na semana passada, a reportagem do Hoje em Dia flagrou carcaças de computador, latas, pneus velhos, aparelhos de TV e outros materiais acumulados próximo à calçada. Ontem, o cenário de descaso permanecia. Os mesmos materiais que podem acumular água e servir como um meio de reprodução para as larvas estavam no local.
Uma mulher, que diz morar na região, informou que a limpeza é feita “às vezes” quando passa um caminhão da coleta de lixo.
Lixo Aedes
FLAGRA – Reportagem constatou aparelhos de TV, carcaças de computador e muito lixo jogados às margens da MG-020
Poucos quilômetros adiante, na Via 240, também na zona Norte, mais exemplos de riscos, com pneus velhos, potes de plástico, garrafas destampadas e lixo em várias partes da avenida. Situação é a mesma nos canteiros da pista do Move da avenida Cristiano Machado.
“Uma dificuldade que encontramos é que fazemos a coleta hoje e daqui a 15 dias tem o mesmo acúmulo. Nosso desafio é mostrar para a sociedade os riscos para a saúde pública ao jogar lixo na rua”, afirma o secretário-adjunto da Secretaria de Saúde de BH, Fabiano Pimenta Júnior.
Segundo ele, o trabalho de limpeza é feito em conjunto com a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) e regionais.
Incidência de chikungunya e febre amarela urbana preocupa
Apesar de o Aedes aegypti ser vetor de várias doenças, duas das doenças transmitidas por ele são mais preocupantes em 2017. Uma delas é o avanço da chikungunya, que neste ano chegou com mais força em Minas. A outra é a febre amarela urbana. 
Até o momento, os 376 casos confirmados no Estado são da chamada febre amarela silvestre, transmitida por mosquitos de mata dos gêneros Haemagogus e Sabethes.
“O último caso do tipo urbano aconteceu no país em 1942. Depois não temos registro. Mas, diante de casos em várias cidades, ficamos alertas para evitar que ela volte”, afirma a superintendente de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde de Minas Gerais, Deise Aparecida dos Santos.
Já a chikungunya não está apenas no âmbito das possibilidades: já é uma realidade no Estado. No primeiro trimestre deste ano, foram 4.852 casos prováveis registrados. O número é maior do que em todo 2016, quando foram 500 notificações.
Crítico
Por enquanto, 126 cidades já registraram casos da enfermidade. Mas Governador Valadares, no Leste, é a que tem a pior situação, com 3.074 notificações, seguida por Teófilo Otoni (651), Conselheiro Pena (308), Aimorés (174) e Medina (106).
Para Deise, uma das hipóteses para o estouro da doença em Valadares é a poluição do rio Doce após o rompimento da barragem da Samarco, que forçou os moradores a armazenarem água. “A população dependia do rio e a água ficou imprópria para consumo. As pessoas podem ter acondicionado água de forma inadequada”.
“O número de contaminados por dengue e zika caiu porque muita gente já foi infectada” (infectologista Marcelo Simão Pereira)
E as chances de mais contaminados pela doença são grandes. “O vírus circula pelo Estado porque há uma movimentação intensa de pessoas. Como poucos já foram contaminados (por chikungunya), é grande o número de mineiros que ainda não têm imunidade contra a doença”, afirma o infectologista Marcelo Simão Ferreira.
Zika