O
general Vilas Boas, atual Comandante Geral do Exército Brasileiro,
concedeu entrevista recente ao jornal ‘Valor’ e falou sobre o atual
momento político vivido pelo país, além do clamor de parte da sociedade
pela intervenção militar.
Carlos Newton – Tribuna da Internet, analisou a entrevista e você confere abaixo:
A
política nacional sempre foi muito complicada, os observadores
estrangeiros não conseguem entender tamanha esculhambação institucional,
até mesmo os brasileiros têm enorme dificuldade, não conseguem
acompanhar, a todo momento é preciso recorrer à tradução simultânea.
Desde sexta-feira, dia 17, procura-se descobrir o real objetivo da
explosiva entrevista que o comandante do Exército, general Eduardo
Villas Bôas, concedeu à repórter Monica Gugliano, do jornal Valor
Econômico. Como se sabe, chefes militares jamais se pronunciam sobre
assuntos políticos. Quando o fazem, é porque há alguma coisa de errado,
aliás, muito errado.
O
mais impressionante foi a rarefeita repercussão das declarações, que
mesmo assim abalaram as estruturas do poder em Brasília, com reflexos
por todo o país, porque o comandante do Exército não mediu as palavras.
Às vésperas do carnaval, rasgou a fantasia e se incorporou ao Bloco dos
Descontentes, ao afirmar que “somos um país que está à deriva, que não
sabe o que pretende ser, o que quer ser e o que deve ser“.
Ainda
não satisfeito, acrescentou: “Esgarçamo-nos tanto, nivelamos tanto por
baixo os parâmetros do ponto de vista ético e moral, que somos um país
sem um mínimo de disciplina social“.
TRADUÇÃO SIMULTÂNEA –
Ao dar entrevista ao Valor, que é um jornal de circulação mais restrita
na Organização Globo, que comanda sozinha a publicação, desde que a
Folha se desligou da sociedade, o general deixou claro que estava dando
um recado “interna corporis”, destinado a atingir apenas o governo, os
políticos e as lideranças militares.
O
fato concreto é que o descontentamento e a pressão interna nas Forças
Armadas têm cada vez mais intensidade. Entre as lideranças militares,
há consenso de que não há planejamento no país, a administração pública
não tem metas nem visa a atender os reais interesses nacionais.
Um
dos objetivos da entrevista do general Villas Bôas foi acalmar o
pessoal da ativa e também da reserva, pois os três clubes militares
estão defendendo abertamente uma intervenção das Forças Armadas, a
pretexto de moralizar a política e a administração pública.
SEM INTERVENÇÃO –
Com muita habilidade, o comandante do Exército descartou a
possibilidade de derrubada do governo constitucional: “Interpreto o
desejo daqueles que pedem intervenção militar ao fato de as Forças
Armadas serem identificadas como reduto onde esses valores foram
preservados. No entendimento que temos, e que talvez essa seja a
diferença em relação a 1964, é que o país tem instituições funcionando.
O
Brasil é um país mais complexo e sofisticado do que era. Existe um
sistema de pesos e contrapesos que dispensa a sociedade de ser tutelada.
Não pode haver atalhos nesse caminho. A sociedade tem que buscar esse
caminho, tem que aprender por si. Jamais seremos causadores de alguma
instabilidade“.
O
general tem razão. A Constituição deixa claro que cabe às Forças
Armadas “a defesa da Pátria, a garantia dos poderes constitucionais e,
por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”. E a Lei
Complementar nº 97 também é clara: “A atuação das Forças Armadas, na
garantia da lei e da ordem, por iniciativa de quaisquer dos poderes
constitucionais, ocorrerá de acordo com as diretrizes baixadas em ato do
Presidente da República, após esgotados os instrumentos destinados à
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio”.
INTERVIR SIGNIFICA GOLPE –
Sem a menor dúvida, a entrevista confirma a convicção de que não existe
possibilidade de ocorrer a apregoada “intervenção militar
constitucional”. O significado real seria “golpe de estado” ou “golpe
militar”, apenas isso.
Segundo
as cuidadosas declarações do comandante do Exército, essa hipótese
estaria afastada. Mas acontece que as aparências sempre enganam, quando
se trata da política brasileira. Na entrevista, a ênfase dada à moral e à
ética, assim como a incisiva defesa da Lava Jato (“É a grande esperança
de que se produza no país alguma mudança nesse aspecto ético que está
atingindo nosso cerne, que relativiza e deteriora nossos valores“) –
tudo isso demonstra que as Forças Armadas não estão desatentas nem
omissas.
Ainda
em tradução simultânea, o general Villas Bôas deixou claro que, se o
Planalto e o Congresso insistirem nessa irresponsável tentativa de
inviabilizar a Lava Jato, a história vai se repetir no Brasil, e não
será como farsa. Portanto, espera-se que o presidente Michel Temer tenha
um mínimo de juízo e não ouse levar adiante essa injustificável
iniciativa.
***
PS – É
impressionante que Michel Temer, com todo seu preparo e experiência,
ainda não tenha entendido a gravidade da situação. Está caminhando para
complementar 77 anos, mas não parece preocupado com a biografia que o
filho Michelzinho irá aprender no colégio. (C.N.) (Por Carlos Newton, Tribuna da Internet- via Blog do Chiquinho Dornas).
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