Carmen Lins
Carlos Lacerda foi um grande governador do Rio de Janeiro. Construiu escolas, o aterro do Flamengo, idealizado por Lota Macedo Soares, abriu o Túnel Rebouças, trouxe água para a cidade através da Adutora de Gandu. Foi um dos líderes da Revolução de 64, mas soube se penitenciar quando entendeu que os militares não cumpririam a promessa de realizar eleições em 1966 e formou a Frente Ampla com JK e Jango. Foi cassado e quando apenas faltava um ano para readquirir seus direito politicos, morreu.
Mas em seu belíssimo livro “A Casa do Meu Avó” (elogiado por Carlos Drummond), ele diz” “nós começamos cedo e duramos pouco. Não vivemos muito, vivemos depressa” (página 42 de “A Casa do Meu Avô”).
DIREITA E ESQUERDA – Muito interessante, também, seu pensamento sobre direita e esquerda, nas entrevistas com o jornalista Augusto Nunes, que escreveu a biografia dele:
“Eu nunca fui, em outras palavras, da esquerda festiva. Essa glória eu tenho, nunca pertenci à esquerda festiva, que inclusive é um fenômeno relativamente novo.
Eu nunca seria capaz de fazer o papel do Chico Buarque de Holanda, cuja música eu aprecio muito e cujo caráter não aprecio nada. Estou falando dele, mas não especialmente dele. Só citando um exemplo.
Digo isso porque é uma esquerda festiva que é contra um regime do qual ele vive, no qual se instala, do qual participa lindamente, maravilhosamente etc. Eu não conheço nenhum sacrifício que ele tenha feito senão a censura em suas músicas por suas idéias.
Agora, acho que se ele tem essas idéias, então seja coerente, viva essas idéias, viva de acordo com elas. Isso não é nenhum caso particular com o Chico. Estou apenas dando um exemplo. Enfim, tenho horror à esquerda festiva porque acho que é uma forma parasitária de declarar guerra a uma sociedade da qual se beneficia e participa integralmente.
Hoje em dia tenho muito medo da palavra esquerda, como tenho medo da palavra direita, porque acho que a evolução política do mundo confundiu muito essas noções. Antigamente, a gente sabia o que era um reacionário. Na Revolução Industrial, um reacionário era um lorde que vivia sem trabalhar, à custa do trabalho dos párias indianos e do trabalho de crianças de 12 anos nas fábricas de tecidos ou nas minas de carvão; então, esse era um reacionário. Um revolucionário era quem declarava guerra a tudo isso e que fazia qualquer sacrifício para acabar com aquela situação.
Depois, numa certa época, um homem de esquerda era quem queria fazer certas reformas através da manifestação da vontade do povo: eleições livres, comícios, explicações ao povo – enfim, educação política do povo, debates, para chegar a determinadas posições reformistas, ou até mais radicais; enquanto um reacionário era quem não queria eleições, queria uma ditadura, queria uma elite dominante e uma massa obediente.
A partir de certa altura da evolução política do mundo, isso se embaralhou completamente: os reacionários querem eleições e a esquerda não as quer. Só as quer quando está fora do poder; quando está no poder, proíbe!
(Carlos Lacerda, no livro “Depoimentos”. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1978, página 54)
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Carlos Lacerda foi um grande governador do Rio de Janeiro. Construiu escolas, o aterro do Flamengo, idealizado por Lota Macedo Soares, abriu o Túnel Rebouças, trouxe água para a cidade através da Adutora de Gandu. Foi um dos líderes da Revolução de 64, mas soube se penitenciar quando entendeu que os militares não cumpririam a promessa de realizar eleições em 1966 e formou a Frente Ampla com JK e Jango. Foi cassado e quando apenas faltava um ano para readquirir seus direito politicos, morreu.
Mas em seu belíssimo livro “A Casa do Meu Avó” (elogiado por Carlos Drummond), ele diz” “nós começamos cedo e duramos pouco. Não vivemos muito, vivemos depressa” (página 42 de “A Casa do Meu Avô”).
DIREITA E ESQUERDA – Muito interessante, também, seu pensamento sobre direita e esquerda, nas entrevistas com o jornalista Augusto Nunes, que escreveu a biografia dele:
“Eu nunca fui, em outras palavras, da esquerda festiva. Essa glória eu tenho, nunca pertenci à esquerda festiva, que inclusive é um fenômeno relativamente novo.
Eu nunca seria capaz de fazer o papel do Chico Buarque de Holanda, cuja música eu aprecio muito e cujo caráter não aprecio nada. Estou falando dele, mas não especialmente dele. Só citando um exemplo.
Digo isso porque é uma esquerda festiva que é contra um regime do qual ele vive, no qual se instala, do qual participa lindamente, maravilhosamente etc. Eu não conheço nenhum sacrifício que ele tenha feito senão a censura em suas músicas por suas idéias.
Agora, acho que se ele tem essas idéias, então seja coerente, viva essas idéias, viva de acordo com elas. Isso não é nenhum caso particular com o Chico. Estou apenas dando um exemplo. Enfim, tenho horror à esquerda festiva porque acho que é uma forma parasitária de declarar guerra a uma sociedade da qual se beneficia e participa integralmente.
Hoje em dia tenho muito medo da palavra esquerda, como tenho medo da palavra direita, porque acho que a evolução política do mundo confundiu muito essas noções. Antigamente, a gente sabia o que era um reacionário. Na Revolução Industrial, um reacionário era um lorde que vivia sem trabalhar, à custa do trabalho dos párias indianos e do trabalho de crianças de 12 anos nas fábricas de tecidos ou nas minas de carvão; então, esse era um reacionário. Um revolucionário era quem declarava guerra a tudo isso e que fazia qualquer sacrifício para acabar com aquela situação.
Depois, numa certa época, um homem de esquerda era quem queria fazer certas reformas através da manifestação da vontade do povo: eleições livres, comícios, explicações ao povo – enfim, educação política do povo, debates, para chegar a determinadas posições reformistas, ou até mais radicais; enquanto um reacionário era quem não queria eleições, queria uma ditadura, queria uma elite dominante e uma massa obediente.
A partir de certa altura da evolução política do mundo, isso se embaralhou completamente: os reacionários querem eleições e a esquerda não as quer. Só as quer quando está fora do poder; quando está no poder, proíbe!
(Carlos Lacerda, no livro “Depoimentos”. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1978, página 54)
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