Correio Braziliense
O presidente afastado da empreiteira Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, atuou “em outros flancos do governo federal”, solicitando ao então ministro da Fazenda Guido Mantega (PT) que “os pleitos da empresa fossem atendidos a contento” na Argentina e em Moçambique. A afirmação consta de relatório obtido pelo Correio em que a Polícia Federal afirma que o governador de Minas Gerais e ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, recebeu propina em troca de benefícios à construtora por empreendimentos nos dois países.
O documento está nas mãos do ministro do Superior Tribunal de Justiça Herman Benjamin. Nele, a PF levanta indícios que resultaram na segunda denúncia contra Pimentel e Marcelo Odebrecht por corrupção relacionada a empreendimentos na Argentina e em Moçambique. O relatório policial, que integra a Operação Acrônimo, acrescenta um tópico apenas para Mantega “com o intuito de demonstrar o interesse da empresa Odebrecht em Moçambique e na Argentina e sua atuação em outros flancos do governo federal”.
Nele, relata que, em agosto de 2014 e nas semanas seguintes, o empreiteiro — hoje preso em Curitiba e com acordo de delação premiada na Operação Lava-Jato — teve reuniões com Mantega para discutir o tema, que era do interesse deles e também de Pimentel. Para comprovar, os policiais anexam e-mails de Marcelo Odebrecht e agendas do então ministro detalhando um encontro em 25 de agosto de 2014 em São Paulo, no gabinete ministerial, no edifício do Banco do Brasil.
AVAL PREPARADO – Depois de trocar e-mails com o então chefe da assessoria especial de Mantega, Sérgio Risios Bath, Marcelo Odebrecht acerta uma reunião em 25 de agosto, às 10h. Apesar disso, a agenda oficial do ex-ministro informa apenas “reuniões de trabalho”.
Os e-mails de Marcelo apontam que um dos interesses na conversa era acertar as garantias da Câmara de Comércio Exterior (Camex) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o soterramento da ferrovia de Sarmiento, em Buenos Aires, na Argentina — obra de US$ 1,5 bilhão. É o que diz mensagem de João Carlos Nogueira, diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Internacional, em 22 de agosto de 2014.
CAÇA-FANTASMAS – O advogado de Mantega, José Roberto Batochio, disse que as suspeitas são absurdas e que o ex-ministro tratou com diversos empresários dos mais diversos assuntos econômicos, pois essa era sua função. “Estão vendo fantasma onde não tem nem lençol”, afirmou ao Correio. O defensor de Pimentel, Eugênio Pacelli, disse que a polícia faz “ilações” sem base em fatos. “Se a referência a nome de autoridades em mensagens de terceiros tivesse força de verdade, teríamos inquéritos envolvendo ministros do Supremo Tribunal Federal, referidos, por exemplo, por (ex-senador) Delcídio do Amaral”, avaliou.
A Odebrecht disse que não comentará o assunto.
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