Em
sua caçada montante, a Operação Lava-Jato nunca esteve tão perto de
capturar o terceiro homem na linha de sucessão da República: o senador
Renan Calheiros, do PMDB de Alagoas, que preside o Senado Federal. A
revista Veja teve acesso a um despacho sigiloso do ministro Teori
Zavascki, cuja leitura traz quatro revelações: • O homem da mala do
PMDB, o empresário e advogado Felipe Rocha Parente, fez um acordo de
delação premiada e apresentou cinco anexos, como são chamados os itens
que compõem a lista do que o delator pretende detalhar. • Em um dos
cinco anexos, Parente conta que entregava propinas para a cúpula do
PMDB. Eram fruto de dinheiro desviado da Transpetro, subsidiária da
Petrobras. • Entre os beneficiários das propinas saídas da Transpetro,
estão Renan Calheiros e seu colega de Senado Jader Barbalho, do PMDB do
Pará. • O anexo de Parente ainda precisa ser comprovado no curso da
delação, mas já foi confirmado por pelo menos três delatores.
As
revelações do despacho de Teori jogam luz sobre um dos momentos mais
barulhentos da Lava-Jato, ocorrido entre maio e junho passado. Nessa
ocasião, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de uma só
tacada, pediu ao Supremo Tribunal Federal que decretasse a prisão de
Renan Calheiros, do senador e então ministro do Planejamento Romero Jucá
e do ex-presidente da República José Sarney. Os três peixões graúdos do
PMDB haviam sido gravados por Sérgio Machado, que comandou a Transpetro
durante doze anos por indicação da cúpula peemedebista. Machado
negociava um acordo de delação premiada e tentava reunir evidências que
sustentassem a estrondosa revelação que faria tão logo assinasse o
acordo: como foram distribuídas propinas de 100 milhões de reais ao
partido que hoje governa o país. As prisões pedidas por Janot foram
rejeitadas pelo Supremo, mas, em segredo, os investigadores fecharam um
acordo de colaboração com Felipe Parente, o entregador de propinas. Do
seu depoimento, surgiram os laços que comprometem o PMDB com a
Transpetro. O lado visível desses laços já era conhecido. Renan
Calheiros era um dos principais fiadores da permanência de Sérgio
Machado no comando da Transpetro. O lado invisível apareceu com a
delação do próprio Sérgio Machado, que contou que Renan era bem
remunerado pela fiança. No início do esquema, recebia um porcentual
sobre cada contrato assinado com a estatal. Depois, optou por um
mensalão de 300 000 reais, que eram repassados pelo próprio Sérgio
Machado, segundo ele mesmo. Em anos eleitorais, o numerário se
multiplicava. De 2004 a 2014, Renan embolsou 32 milhões de reais, ainda
segundo Machado. Desse total, pelos cálculos do delator, empreiteiras do
petrolão simularam ter doado 8 milhões de reais ao diretório nacional
do PMDB. Os outros 24 milhões foram entregues em dinheiro vivo. É nessa
etapa — na entrega em dinheiro vivo — que entra Felipe Parente. Ao menos
até 2007, era ele quem fazia entregas a Renan, conforme contou Sérgio
Machado. Em seus depoimentos, mantidos em sigilo, Felipe Parente
confirmou ter distribuído propina da Transpetro a pedido de Sérgio
Machado. Citou nomes, lugares e circunstâncias em que o dinheiro foi
entregue. Para oferecer provas concretas, deu informações sobre hotéis
onde se hospedou para finalizar o trabalho. Contou que, numa ocasião,
foi orientado a deixar a “encomenda” destinada ao senador Jader Barbalho
com uma tal de “Iara”. Os investigadores chegaram a Iara Jonas, senhora
de pouco mais de 60 anos, assessora de confiança de Jader Barbalho.
Lotada no gabinete do senador, com salário de quase 20 000 reais, ela
trabalha para a família Barbalho há 22 anos. Apresentado à fotografia de
Iara, Parente reconheceu-a como a destinatária do dinheiro.
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