Confira entrevista exclusiva à Tribuna da Bahia
por
Osvaldo Lyra
Publicada em TRIBUNA DA BAHIA
Presidente do PT na Bahia, Everaldo
Anunciação acredita que é imperiosa a necessidade de o partido se
reconstruir como forma de garantir a própria sobrevivência, construindo
novas lideranças e buscando uma maior participação popular.
Nesta entrevista à Tribuna, o petista faz uma análise sobre as eleições municipais em Salvador e no interior do Estado, e atribui a derrota da candidata Alice Portugal (PCdoB) a um erro estratégico. Everaldo Anunciação disse ainda que a legenda não cogita colocar o ex-governador Jaques Wagner como candidato ao governo em 2018, e que os esforços caminham no sentido de garantir a reeleição do atual governador, Rui Costa. Para ele, os partidos aliados do prefeito ACM Neto estão imbuídos em dividi-los. “É uma tentativa de nos dividir, porque unidos nós demonstramos capacidade de continuar esse projeto que está dando certo na Bahia”. Confira:
Tribuna - Que leitura o senhor faz desse momento da política no país? Ainda muito tenso?
Everaldo Anunciação - Sem dúvida, a gente vive um momento no Brasil onde o ataque à democracia, materializado no golpe no Congresso Nacional, independente de quem queira fazer avaliação a favor ou contra, modificou o estado de direito democrático que o país vinha vivendo. E isso, por consequência, também as eleições de 2016, com suas regras diferenciadas. Ela também traz no seu bojo, em algumas cidades, a presença de atores que chamam a atenção da democracia e da segurança da sociedade, que atuam no ilícito, nas drogas, nos jogos de azar, coisas que criam um cenário de reflexão. Associado a isso, temos um número de abstenções, votos brancos e nulos, que muitas vezes são superiores aos votos de alguns prefeitos. Então há esse clima no Brasil, e recentemente com investigações no Senado questionadas pelo próprio STF.
Tribuna - O PT foi o partido que mais perdeu espaço nas últimas eleições, principalmente na Bahia. Como avalia esse cenário?
Everaldo Anunciação - É verdade. Acho que se fizer uma análise cronológica do que aconteceu nesse novo milênio das eleições, dá para entendermos que tem muita ligação entre quem está no poder central, na Presidência da República, e as eleições municipais. Por exemplo, em 2000, o DEM, na época, PFL, o PMDB e o PSDB, cada um administrava mais de mil prefeituras no Brasil, estamos falando de 70%. Já em 2002, com a eleição do presidente Lula, esse quadro começou a se reverter nas eleições de 2004. O PT e o PMDB passam a dirigir o governo central. O PMDB se estabiliza e o PT vai em uma crescente. Com o golpe em 2016 e a perda do governo central, esses partidos de oposição apresentam um crescimento melhor, e o PT tem uma queda de 600 prefeituras para algo próximo a 300. Isso também tem a ver com os ataques que o PT sofre desde 2005, com o mensalão, e agora mais recentemente a investigação da Lava Jato, que foi direcionada a um único partido. Isso influencia até mesmo na Bahia, onde temos o terceiro melhor governador avaliado nas pesquisas, e a base aliada tendo eleito 278 prefeituras. O PT tinha a expectativa de eleger mais, fez 39, estamos participando do segundo turno em Vitória da Conquista e mais cinco cidades estão com ações judiciais. Então, o PT teve uma diminuição apesar da boa distribuição e do retorno de alguns prefeitos a cidades importantes como Lauro de Freitas, Senhor do Bonfim e Cruz das Almas.
Tribuna - Como o senhor avalia a derrota de Alice Portugal nas eleições de Salvador? Houve erro na escolha ou na condução da campanha?
Everaldo Anunciação - Uma coisa que nós temos que aprender é a ter um plano estratégico. O tempo que levamos discutindo uma candidatura em Salvador levou a uma decisão muito próxima às eleições, que já foram curtas. Esse foi um dos erros. Não materializo na pessoa ou no partido o erro, mas na estratégia e na ausência ao longo dos últimos quatro anos de uma oposição em relação ao governo municipal, que viveu basicamente da mídia, de propaganda enganosa, pongando em obras do governo do Estado. É comum vermos placas do governo municipal em obras do governo do Estado, o que fazia uma confusão na cabeça do eleitorado. Mas também não resta dúvida que o prefeito pegou uma prefeitura arrasada, e o feijão com arroz que ele fez terminou dando uma sensação de melhoria para a população.
Tribuna - Muitos se queixam que o governador Rui Costa se prendeu muito à gestão e deixou a política muito solta. Isso vai ter impacto em 2018?
Everaldo Anunciação - Primeiro que há uma divergência sobre essa questão de Rui se preocupar com a gestão e não fazer política. A melhor coisa para a política e para a população é ter um bom gestor, que cuida do dinheiro público com carinho e atenção e materializa em realizações para a população. É para isso que elegemos um governador, um presidente… Acho que a articulação política de Rui, de coordenar uma base aliada ampla, como a que temos na Bahia, dá uma demonstração de força política quando toda a base aliada vota contra o golpe. Tivemos manifestações de 24 parlamentares federais de unidades da base, e olha que só temos seis votos do PT. São 18 votos que tivemos na Câmara contra o golpe, sob coordenação do governador. No momento mais crítico da política, de defesa da democracia, a liderança política de Rui Costa demonstrou unidade da base aliada, e saiu das eleições com 70% dos municípios sob a coordenação do governo. Acho que é um equívoco deixar de reconhecer o pequeno crescimento que a oposição teve em algumas cidades, centros como Camaçari e Simões Filho, mas penso que a intervenção política do governador foi de manter a base unida, e isso ele conseguiu. Acho que temos que ter cuidado nas avaliações porque quem tem uma base aliada que teve a vitória de 278 prefeituras não pode minimizar essa avaliação por interesses de partido e de parlamentares e não ficar fazendo críticas que só beneficiam a oposição que quer nos dividir.
Tribuna - O prefeito ACM Neto diz que pode trabalhar para 2018 e se lançar na disputa. Como vê esse cenário?
Everaldo Anunciação - Primeiro, acho que é uma hipocrisia dele dizer que não está discutindo 2018. Quem não está discutindo não faz aquela quantidade de gravações em apoio a candidatos, inclusive da base aliada, na tentativa de tentar cooptar, e não faz o investimento de mídia que ele está fazendo. Ele é candidato, e vai disputar porque é o representante dos golpistas na Bahia, e um representante da ala conservadora, mesmo sendo jovem. Tem práticas antigas da política, inclusive essa de omitir a disposição de fazer uma disputa em 2018. Mas tenho ouvido nas ruas que as pessoas estão muito satisfeitas com o governador Rui Costa, e acho que é bom para a democracia a gente ter essa disputa entre o DEM, que é uma oposição conservadora, ultrapassada, junto com o PSDB, o PMDB, e as forças progressistas da Bahia encabeçadas pelo PT, PSD, PP, PDT para que a gente qualifique o debate, não em pessoa, mas em projetos.
Tribuna - Quais são as estratégias do PT para chegar fortalecido em 2018?
Everaldo Anunciação - Primeiro, reafirmar a tática eleitoral de política de alianças. Acho que o que deu certo e fez com que milhões de jovens negros e pobres pudessem fazer universidade, que milhões de famílias tivessem a casa própria, foi a política de alianças que nos levou ao governo e a diversas cidades no interior do Estado. Segundo, manter a relação da composição da chapa, que se amplia agora com a vaga no Senado, e a gente ocupar esses espaços, contemplando todos os partidos e sem ter nenhuma perspectiva de um se sobrepor ao outro. Terceiro, fazer com que o governo Rui continue nessa linha, fazendo ações que estão mudando radicalmente a concepção da política, mas também a política pública está cada vez mais próxima de quem precisa. Acho que esses são os eixos principais e nós, que somos da base aliada, não devemos cair nas armadilhas que a oposição coloca a todo momento, para pôr em dúvida sobre quem será o candidato a governador, da relação dos secretários internamente, de quem vai compor chapa, porque a oposição só tem uma chapa com condições reais de competir. É uma tentativa de nos dividir, porque unidos nós demonstramos capacidade de continuar esse projeto que está dando certo na Bahia.
Tribuna - Fala-se na base sobre a possibilidade de o ex-governador Jaques Wagner assumir a candidatura do governo. Há alguma possibilidade disso ou o candidato é Rui?
Everaldo Anunciação – Temos muita clareza do PT e nas manifestações de outros partidos sobre isso. Óbvio que o fato de ser governador não é direito adquirido, mas sem dúvida é a condição de um governo que está sendo conduzido por Rui, que o legitima para ser o nosso candidato. E sobre Wagner, há quase um consenso entre os partidos de que ele deva disputar uma vaga no Senado. No momento certo vamos construir essa chapa para construir a vitória que foi consagrada nas três últimas eleições. Então essa intriga da oposição de tentar nos dividir não vai dar certo, é melhor encontrar outra. Até porque, Rui é o candidato natural à reeleição.
Tribuna - Muito se fala de partidos insatisfeitos que ameaçam mudar de lado, a exemplo do PP, nomes do PSD, PR… O senhor acha que de fato pode haver uma debandada de parte dos aliados?
Everaldo Anunciação – Nesse cenário que estamos vivendo, tem um tema muito importante que é a reforma política. Penso que é um debate com o qual eu concordo e que precisa acontecer. A reforma política vai consolidar a disputa no campo democrático, da transparência, para que o eleitorado tenha mais segurança do seu voto. Então pode haver um remanejamento, uma mudança de opção partidária a partir da reforma. Eu penso que não tem motivo é para parlamentar falar de insatisfação, porque todos os partidos da base aliada têm presença dentro do governo, com regras estabelecidas. Insatisfação após o período eleitoral é natural. Quem ganha quer ganhar mais espaço, quem perde não quer perder seus espaços. Mas não pode ser essa a essência da política. A essência tem que ser aquele que se candidata se propor a fazer ação pública. As insatisfações são naturais e podem ser administradas. O que temos que pensar daqui para frente é como podemos fazer mais pelo povo baiano.
Tribuna - Há uma insatisfação clara com a atuação do secretário Josias Gomes na articulação política do governo. O PT vai ajudar o governador na escolha do próximo nome?
Everaldo Anunciação – O PT não está contando com a mudança na Secretaria de Relações Institucionais. Não é de Rui nem das Relações Institucionais a culpa pela diminuição do número de prefeituras do PT. O processo é inverso, temos é que melhorar as condições da política para ampliar essa força e nos preparar para o embate. Os cargos e as secretarias são de livre nomeação do governador, isso não passa por nós, e não estamos fazendo avaliação nem das Relações Institucionais nem de outras secretarias.
Tribuna - Acredita que o ex-governador Jaques Wagner irá para qual área do governo?
Everaldo Anunciação – Já disse publicamente que Jaques Wagner vinha compor a equipe de Rui. Quem não gostaria de ser substituído por um quadro capacitado como o Wagner? Penso que a experiência dele tanto de articulação política, como de desenvolvimento ou de planejamento estratégico cabem no governo. Então você tem um craque como Wagner que pode jogar do gol ao ataque e como centroavante. Particularmente, acho que nessa área estratégica de desenvolvimento e planejamento daria uma grande contribuição e reforçaria o time, que ficaria em condições quase imbatíveis com essa composição que já está aí.
Tribuna - O PT trouxe muitos avanços para o Brasil, mas muitos dos seus integrantes se deslumbraram com mistura de poder e dinheiro. O PT tem salvação?
Everaldo Anunciação – Claro. Muitas lideranças do PT, muitas das quais presas, não estão com apropriação de recursos para benefício próprio. Os erros do PT vão entrar em uma regra estabelecida pelos que estavam no poder há muito tempo, de fazer parte dessa regra de ter acabado com essa coisa de caixa 2 e financiamento privado de campanha. Segundo, o legado que o PT deixou para a democracia, mudando radicalmente a condição de vida das pessoas, é um marco na história do mundo. Óbvio que cometeu erros, que devem ser corrigidos, mas o PT ainda é o partido que hegemoniza a visão de uma sociedade igual, justa e fraterna.
Tribuna - Dá para resgatar o partido ou a ideia é partir para a composição de uma nova sigla, com outros parâmetros?
Everaldo Anunciação – Vamos realizar no ano que vem, no primeiro semestre, um congresso para elegermos novas direções com a participação direta, essa é a minha defesa. Vamos fazer reflexões, fortalecer o partido, restabelecer a relação com os movimentos sociais e com a sociedade que concorda com os princípios do PT, mesmo não sendo filiados. É o que chamo de sociedade petista. Uma chama dessa não pode ser apagada apenas por interesse dos golpistas, que já comprovaram que querem vender a nação e tirar direitos e conquistas sociais alcançados ao longo dos últimos 14 anos.
Tribuna - O ex-presidente Lula foi indiciado pela terceira vez na Operação Lava Jato. Como avalia essa ação do Judiciário e da força-tarefa?
Everaldo Anunciação – Primeiro, não tenho dúvida de que toda essa articulação feita pelo grande capital e pela oposição tem o objetivo de destruir o PT e sua principal liderança, que é o ex-presidente Lula. E isso está se materializando com um ataque midiático intenso desde 2005, e ele busca tornar Lula inelegível para as eleições de 2018, porque todas as pesquisas mostram condição concreta de disputa do ex-presidente. Se pegarmos o conteúdo da Lava Jato, ela vai desmontando por si só, não tem sustentação legal, e com a prática hipócrita que alguns partidos fazem de ética e moral, ela também se desmorona. Serra, Aécio, Alckmin com a prática de caixa 2, é isso que temos que pedir, passar o Brasil a limpo. Penso que essa tentativa de tirar Lula de circulação de 2018 não está surtindo efeito e espero que não extrapole os limites da lei e respeitem à democracia.
Tribuna - Há clima para o ex-presidente Lula se candidatar e chegar forte em 2018?
Everaldo Anunciação – Sem dúvida alguma. As últimas pesquisas têm mostrado isso, e isso se deve com a participação dos partidos aliados, o que temos que ampliar com a sociedade brasileira.
Tribuna - Com o resultado das eleições, acelerou o processo de eleição para o comando do PT. Quem vai assumir o PT na Bahia e o diretório nacional?
Everaldo Anunciação – Vamos realizar eleições no mês de março para eleger direção nacional, estadual e municipal. Continuo defendendo desde as últimas eleições a busca da unidade. O PT tem a questão da proporcionalidade, acho que a gente poderia antecipar isso e buscar nomes que possam nos representar e enfrentar essa nova etapa de reconstrução do partido.
Tribuna - Após o recado dado pelas urnas, qual mensagem o senhor deixa para a população da Bahia?
Everaldo Anunciação – Quero terminar o segundo turno dessas eleições e desejar sucesso àqueles que ganharam, que entendam realmente o recado das urnas. Que respeitem as abstenções, brancos e nulos, que são um sinal da insatisfação do povo, e por isso devem melhorar e qualificar a sua gestão. Acho que a participação popular é fundamental para a consolidação da democracia no Brasil, e aos que perderam seguir a orientação do senador Otto Alencar: aspirina para diminuir a reclamação, de preferência com suco de maracujá para seguirmos em frente, porque esse país ainda tem muito a se construir.
Colaborou: Guilherme Reis
Nesta entrevista à Tribuna, o petista faz uma análise sobre as eleições municipais em Salvador e no interior do Estado, e atribui a derrota da candidata Alice Portugal (PCdoB) a um erro estratégico. Everaldo Anunciação disse ainda que a legenda não cogita colocar o ex-governador Jaques Wagner como candidato ao governo em 2018, e que os esforços caminham no sentido de garantir a reeleição do atual governador, Rui Costa. Para ele, os partidos aliados do prefeito ACM Neto estão imbuídos em dividi-los. “É uma tentativa de nos dividir, porque unidos nós demonstramos capacidade de continuar esse projeto que está dando certo na Bahia”. Confira:
Tribuna - Que leitura o senhor faz desse momento da política no país? Ainda muito tenso?
Everaldo Anunciação - Sem dúvida, a gente vive um momento no Brasil onde o ataque à democracia, materializado no golpe no Congresso Nacional, independente de quem queira fazer avaliação a favor ou contra, modificou o estado de direito democrático que o país vinha vivendo. E isso, por consequência, também as eleições de 2016, com suas regras diferenciadas. Ela também traz no seu bojo, em algumas cidades, a presença de atores que chamam a atenção da democracia e da segurança da sociedade, que atuam no ilícito, nas drogas, nos jogos de azar, coisas que criam um cenário de reflexão. Associado a isso, temos um número de abstenções, votos brancos e nulos, que muitas vezes são superiores aos votos de alguns prefeitos. Então há esse clima no Brasil, e recentemente com investigações no Senado questionadas pelo próprio STF.
Tribuna - O PT foi o partido que mais perdeu espaço nas últimas eleições, principalmente na Bahia. Como avalia esse cenário?
Everaldo Anunciação - É verdade. Acho que se fizer uma análise cronológica do que aconteceu nesse novo milênio das eleições, dá para entendermos que tem muita ligação entre quem está no poder central, na Presidência da República, e as eleições municipais. Por exemplo, em 2000, o DEM, na época, PFL, o PMDB e o PSDB, cada um administrava mais de mil prefeituras no Brasil, estamos falando de 70%. Já em 2002, com a eleição do presidente Lula, esse quadro começou a se reverter nas eleições de 2004. O PT e o PMDB passam a dirigir o governo central. O PMDB se estabiliza e o PT vai em uma crescente. Com o golpe em 2016 e a perda do governo central, esses partidos de oposição apresentam um crescimento melhor, e o PT tem uma queda de 600 prefeituras para algo próximo a 300. Isso também tem a ver com os ataques que o PT sofre desde 2005, com o mensalão, e agora mais recentemente a investigação da Lava Jato, que foi direcionada a um único partido. Isso influencia até mesmo na Bahia, onde temos o terceiro melhor governador avaliado nas pesquisas, e a base aliada tendo eleito 278 prefeituras. O PT tinha a expectativa de eleger mais, fez 39, estamos participando do segundo turno em Vitória da Conquista e mais cinco cidades estão com ações judiciais. Então, o PT teve uma diminuição apesar da boa distribuição e do retorno de alguns prefeitos a cidades importantes como Lauro de Freitas, Senhor do Bonfim e Cruz das Almas.
Tribuna - Como o senhor avalia a derrota de Alice Portugal nas eleições de Salvador? Houve erro na escolha ou na condução da campanha?
Everaldo Anunciação - Uma coisa que nós temos que aprender é a ter um plano estratégico. O tempo que levamos discutindo uma candidatura em Salvador levou a uma decisão muito próxima às eleições, que já foram curtas. Esse foi um dos erros. Não materializo na pessoa ou no partido o erro, mas na estratégia e na ausência ao longo dos últimos quatro anos de uma oposição em relação ao governo municipal, que viveu basicamente da mídia, de propaganda enganosa, pongando em obras do governo do Estado. É comum vermos placas do governo municipal em obras do governo do Estado, o que fazia uma confusão na cabeça do eleitorado. Mas também não resta dúvida que o prefeito pegou uma prefeitura arrasada, e o feijão com arroz que ele fez terminou dando uma sensação de melhoria para a população.
Tribuna - Muitos se queixam que o governador Rui Costa se prendeu muito à gestão e deixou a política muito solta. Isso vai ter impacto em 2018?
Everaldo Anunciação - Primeiro que há uma divergência sobre essa questão de Rui se preocupar com a gestão e não fazer política. A melhor coisa para a política e para a população é ter um bom gestor, que cuida do dinheiro público com carinho e atenção e materializa em realizações para a população. É para isso que elegemos um governador, um presidente… Acho que a articulação política de Rui, de coordenar uma base aliada ampla, como a que temos na Bahia, dá uma demonstração de força política quando toda a base aliada vota contra o golpe. Tivemos manifestações de 24 parlamentares federais de unidades da base, e olha que só temos seis votos do PT. São 18 votos que tivemos na Câmara contra o golpe, sob coordenação do governador. No momento mais crítico da política, de defesa da democracia, a liderança política de Rui Costa demonstrou unidade da base aliada, e saiu das eleições com 70% dos municípios sob a coordenação do governo. Acho que é um equívoco deixar de reconhecer o pequeno crescimento que a oposição teve em algumas cidades, centros como Camaçari e Simões Filho, mas penso que a intervenção política do governador foi de manter a base unida, e isso ele conseguiu. Acho que temos que ter cuidado nas avaliações porque quem tem uma base aliada que teve a vitória de 278 prefeituras não pode minimizar essa avaliação por interesses de partido e de parlamentares e não ficar fazendo críticas que só beneficiam a oposição que quer nos dividir.
Tribuna - O prefeito ACM Neto diz que pode trabalhar para 2018 e se lançar na disputa. Como vê esse cenário?
Everaldo Anunciação - Primeiro, acho que é uma hipocrisia dele dizer que não está discutindo 2018. Quem não está discutindo não faz aquela quantidade de gravações em apoio a candidatos, inclusive da base aliada, na tentativa de tentar cooptar, e não faz o investimento de mídia que ele está fazendo. Ele é candidato, e vai disputar porque é o representante dos golpistas na Bahia, e um representante da ala conservadora, mesmo sendo jovem. Tem práticas antigas da política, inclusive essa de omitir a disposição de fazer uma disputa em 2018. Mas tenho ouvido nas ruas que as pessoas estão muito satisfeitas com o governador Rui Costa, e acho que é bom para a democracia a gente ter essa disputa entre o DEM, que é uma oposição conservadora, ultrapassada, junto com o PSDB, o PMDB, e as forças progressistas da Bahia encabeçadas pelo PT, PSD, PP, PDT para que a gente qualifique o debate, não em pessoa, mas em projetos.
Tribuna - Quais são as estratégias do PT para chegar fortalecido em 2018?
Everaldo Anunciação - Primeiro, reafirmar a tática eleitoral de política de alianças. Acho que o que deu certo e fez com que milhões de jovens negros e pobres pudessem fazer universidade, que milhões de famílias tivessem a casa própria, foi a política de alianças que nos levou ao governo e a diversas cidades no interior do Estado. Segundo, manter a relação da composição da chapa, que se amplia agora com a vaga no Senado, e a gente ocupar esses espaços, contemplando todos os partidos e sem ter nenhuma perspectiva de um se sobrepor ao outro. Terceiro, fazer com que o governo Rui continue nessa linha, fazendo ações que estão mudando radicalmente a concepção da política, mas também a política pública está cada vez mais próxima de quem precisa. Acho que esses são os eixos principais e nós, que somos da base aliada, não devemos cair nas armadilhas que a oposição coloca a todo momento, para pôr em dúvida sobre quem será o candidato a governador, da relação dos secretários internamente, de quem vai compor chapa, porque a oposição só tem uma chapa com condições reais de competir. É uma tentativa de nos dividir, porque unidos nós demonstramos capacidade de continuar esse projeto que está dando certo na Bahia.
Tribuna - Fala-se na base sobre a possibilidade de o ex-governador Jaques Wagner assumir a candidatura do governo. Há alguma possibilidade disso ou o candidato é Rui?
Everaldo Anunciação – Temos muita clareza do PT e nas manifestações de outros partidos sobre isso. Óbvio que o fato de ser governador não é direito adquirido, mas sem dúvida é a condição de um governo que está sendo conduzido por Rui, que o legitima para ser o nosso candidato. E sobre Wagner, há quase um consenso entre os partidos de que ele deva disputar uma vaga no Senado. No momento certo vamos construir essa chapa para construir a vitória que foi consagrada nas três últimas eleições. Então essa intriga da oposição de tentar nos dividir não vai dar certo, é melhor encontrar outra. Até porque, Rui é o candidato natural à reeleição.
Tribuna - Muito se fala de partidos insatisfeitos que ameaçam mudar de lado, a exemplo do PP, nomes do PSD, PR… O senhor acha que de fato pode haver uma debandada de parte dos aliados?
Everaldo Anunciação – Nesse cenário que estamos vivendo, tem um tema muito importante que é a reforma política. Penso que é um debate com o qual eu concordo e que precisa acontecer. A reforma política vai consolidar a disputa no campo democrático, da transparência, para que o eleitorado tenha mais segurança do seu voto. Então pode haver um remanejamento, uma mudança de opção partidária a partir da reforma. Eu penso que não tem motivo é para parlamentar falar de insatisfação, porque todos os partidos da base aliada têm presença dentro do governo, com regras estabelecidas. Insatisfação após o período eleitoral é natural. Quem ganha quer ganhar mais espaço, quem perde não quer perder seus espaços. Mas não pode ser essa a essência da política. A essência tem que ser aquele que se candidata se propor a fazer ação pública. As insatisfações são naturais e podem ser administradas. O que temos que pensar daqui para frente é como podemos fazer mais pelo povo baiano.
Tribuna - Há uma insatisfação clara com a atuação do secretário Josias Gomes na articulação política do governo. O PT vai ajudar o governador na escolha do próximo nome?
Everaldo Anunciação – O PT não está contando com a mudança na Secretaria de Relações Institucionais. Não é de Rui nem das Relações Institucionais a culpa pela diminuição do número de prefeituras do PT. O processo é inverso, temos é que melhorar as condições da política para ampliar essa força e nos preparar para o embate. Os cargos e as secretarias são de livre nomeação do governador, isso não passa por nós, e não estamos fazendo avaliação nem das Relações Institucionais nem de outras secretarias.
Tribuna - Acredita que o ex-governador Jaques Wagner irá para qual área do governo?
Everaldo Anunciação – Já disse publicamente que Jaques Wagner vinha compor a equipe de Rui. Quem não gostaria de ser substituído por um quadro capacitado como o Wagner? Penso que a experiência dele tanto de articulação política, como de desenvolvimento ou de planejamento estratégico cabem no governo. Então você tem um craque como Wagner que pode jogar do gol ao ataque e como centroavante. Particularmente, acho que nessa área estratégica de desenvolvimento e planejamento daria uma grande contribuição e reforçaria o time, que ficaria em condições quase imbatíveis com essa composição que já está aí.
Tribuna - O PT trouxe muitos avanços para o Brasil, mas muitos dos seus integrantes se deslumbraram com mistura de poder e dinheiro. O PT tem salvação?
Everaldo Anunciação – Claro. Muitas lideranças do PT, muitas das quais presas, não estão com apropriação de recursos para benefício próprio. Os erros do PT vão entrar em uma regra estabelecida pelos que estavam no poder há muito tempo, de fazer parte dessa regra de ter acabado com essa coisa de caixa 2 e financiamento privado de campanha. Segundo, o legado que o PT deixou para a democracia, mudando radicalmente a condição de vida das pessoas, é um marco na história do mundo. Óbvio que cometeu erros, que devem ser corrigidos, mas o PT ainda é o partido que hegemoniza a visão de uma sociedade igual, justa e fraterna.
Tribuna - Dá para resgatar o partido ou a ideia é partir para a composição de uma nova sigla, com outros parâmetros?
Everaldo Anunciação – Vamos realizar no ano que vem, no primeiro semestre, um congresso para elegermos novas direções com a participação direta, essa é a minha defesa. Vamos fazer reflexões, fortalecer o partido, restabelecer a relação com os movimentos sociais e com a sociedade que concorda com os princípios do PT, mesmo não sendo filiados. É o que chamo de sociedade petista. Uma chama dessa não pode ser apagada apenas por interesse dos golpistas, que já comprovaram que querem vender a nação e tirar direitos e conquistas sociais alcançados ao longo dos últimos 14 anos.
Tribuna - O ex-presidente Lula foi indiciado pela terceira vez na Operação Lava Jato. Como avalia essa ação do Judiciário e da força-tarefa?
Everaldo Anunciação – Primeiro, não tenho dúvida de que toda essa articulação feita pelo grande capital e pela oposição tem o objetivo de destruir o PT e sua principal liderança, que é o ex-presidente Lula. E isso está se materializando com um ataque midiático intenso desde 2005, e ele busca tornar Lula inelegível para as eleições de 2018, porque todas as pesquisas mostram condição concreta de disputa do ex-presidente. Se pegarmos o conteúdo da Lava Jato, ela vai desmontando por si só, não tem sustentação legal, e com a prática hipócrita que alguns partidos fazem de ética e moral, ela também se desmorona. Serra, Aécio, Alckmin com a prática de caixa 2, é isso que temos que pedir, passar o Brasil a limpo. Penso que essa tentativa de tirar Lula de circulação de 2018 não está surtindo efeito e espero que não extrapole os limites da lei e respeitem à democracia.
Tribuna - Há clima para o ex-presidente Lula se candidatar e chegar forte em 2018?
Everaldo Anunciação – Sem dúvida alguma. As últimas pesquisas têm mostrado isso, e isso se deve com a participação dos partidos aliados, o que temos que ampliar com a sociedade brasileira.
Tribuna - Com o resultado das eleições, acelerou o processo de eleição para o comando do PT. Quem vai assumir o PT na Bahia e o diretório nacional?
Everaldo Anunciação – Vamos realizar eleições no mês de março para eleger direção nacional, estadual e municipal. Continuo defendendo desde as últimas eleições a busca da unidade. O PT tem a questão da proporcionalidade, acho que a gente poderia antecipar isso e buscar nomes que possam nos representar e enfrentar essa nova etapa de reconstrução do partido.
Tribuna - Após o recado dado pelas urnas, qual mensagem o senhor deixa para a população da Bahia?
Everaldo Anunciação – Quero terminar o segundo turno dessas eleições e desejar sucesso àqueles que ganharam, que entendam realmente o recado das urnas. Que respeitem as abstenções, brancos e nulos, que são um sinal da insatisfação do povo, e por isso devem melhorar e qualificar a sua gestão. Acho que a participação popular é fundamental para a consolidação da democracia no Brasil, e aos que perderam seguir a orientação do senador Otto Alencar: aspirina para diminuir a reclamação, de preferência com suco de maracujá para seguirmos em frente, porque esse país ainda tem muito a se construir.
Colaborou: Guilherme Reis
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