Bem, a eleição municipal terminou, os vitoriosos agora vão se defrontar com a realidade da crise das administrações públicas, pois foram eleitos exatamente para gerir imensas massas falidas, devido à irresponsabilidade congênita dos políticos brasileiros, que não se envergonham de fazer dívidas colossais para que seus sucessores encontrem uma forma de mantê-las sob controle, já que não será possível pagá-las ou sequer diminuí-las. Aliás, somente Freud pode explicar por que os políticos lutam com tanto empenho para administrar massas falidas.
Enquanto começa a transição e os futuros prefeitos enfim tomam consciência dos gravíssimos problemas que terão pela frente, em Brasília o foco da política inevitavelmente se voltará para a gravíssima crise institucional entre os três Poderes da República, que ainda está longe de ser superada.
PANOS QUENTES – Depois de dar uma força enorme a Renan Calheiros, que ofendeu ao ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, chamando-o de “chefete de Polícia”, e também ao juiz Vallisney Oliveira, considerando-o um “juizote de primeira instância”, o ministro Gilmar Mendes resolveu colocar panos quentes e disse neste domingo que já está superada a tensão entre Renan e a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, que na semana passada respondeu duramente à ofensa ao magistrado federal.
Embora Renan tenha telefonado para pedir desculpas, o episódio não foi resolvido e a tendência é de agravamento. Na reunião convocada sexta-feira pelo presidente Temer para apaziguar a situação, a ministra Cármen Lúcia até suportou a presença de Renan, mas não esboçou um só sorriso. Manteve a seriedade e a severidade o tempo todo. Como diria Chico Anysio, a vingança dela será maligna.
LINHA SUCESSÓRIA – A ministra Cármen Lúcia vai destruir Renan Calheiros com calma e tranquilidade. E até já deu o primeiro passo para prestar esse incomensurável serviço à nação, ao marcar para quinta-feira o julgamento da ação para impedir que réus de processos criminais possam estar na linha sucessória da Presidência da República, como é justamente o caso de Renan, como presidente do Senado. O parlamentar alagoano já responde a 12 inquéritos no Supremo, mas ainda não é réu em nenhum deles.
Portanto, o segundo passo de Cármen Lúcia será pautar o julgamento da denúncia contra Renan devido à pensão alimentícia paga à filha dele pela empreiteira Mendes Júnior, um caso escabroso que envolve também a emissão de notas fiscais frias. O inquérito rola desde 2007, está prestes a prescrever, e somente uma ministra como Cármen Lúcia teria coragem de colocá-lo em votação. Se Renan se tornar réu, automaticamente o Supremo terá de suspender seu mandato, como recentemente ocorreu com Eduardo Cunha na presidência da Câmara.
UM NOVO CUNHA – Renan luta desesperadamente para se livrar da Justiça e conta com apoio dos caciques do PMDB, além do próprio presidente Michel Temer. Mas isso não vai adiantar nada. No fundo, Renan sabe já que se tornou o novo Eduardo Cunha e sua derrocada é somente questão de tempo.
O destino dele está nas mãos de Cármen Lúcia. Ou a presidente do Supremo cumpre o dever funcional e consagra sua biografia, ou cairá na vala comum de tantos outros magistrados sem caráter e sem dignidade, que acabaram se curvando aos detentores do poder. Eis a questão, diria Hamlet. Pessoalmente, apostos todas as fichas na honorabilidade de Cármen Lúcia.
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