Em entrevista à Veja, magistrado disse que delações causarão "turbulência grande"
Repercute muito a declaração do juiz federal Sérgio Moro, na revista Veja deste fim de semana, de que "pela extensão da colaboração, haverá uma turbulência grande". O magistrado completa: "Espero que o Brasil sobreviva". No país, hoje, são US$ 700 bilhões de investimentos estrangeiros. E se essa declaração de Moro for tomada pelos investidores como algo preocupante e real, é uma dúvida, sim, se o Brasil sobreviverá.
O que se subentende dessa declaração do juiz é que, com a quantidade de políticos e empresários envolvidos na Lava Jato e nos crimes de corrupção, remontamos aos brioches de Maria Antonieta. A França não acabou, os homens que debochavam da pobreza (Les Misérables) morreram, não acabaram. A França mergulhou em uma crise e até Robespierre foi executado em sua própria guilhotina. Mas a França não acabou.
A Venezuela, país que no passado teve o poder econômico como sócio do poder político, tal como vem acontecendo no Brasil, afastando cada vez mais a pobreza do direito de viver, não acabou. Acabam os ladrões do poder econômico. A miséria se alastra naquele país, os poderosos do passado e do presente desapareceram e outros estão prestes a desaparecer, mas a Venezuela não acabou.
Acaba a democracia, o direito constitucional, o direito de ir e vir, e se instala um poder violento que emerge para a mão de um líder que pode ser sanguinário, tudo isso num país de 70 milhões de habitantes. Reflitamos, então, numa nação de 200 milhões de habitantes onde 180 milhões são pobres e assistem, todos os dias, em função da Lava Jato, que o poder político em todos os níveis acabou.
O PT - cujo DNA e alma é Lula - é acusado de forma comprovada ou não, e a opinião pública toma conhecimento com raiva e frustração. O PSDB - cujo DNA é o próprio José Serra, porque todos no entorno dele são seus filhotes, estendendo os filhotes até a outros partidos - também é acusado de ter recebido no caixa dois US$ 10 milhões, que na época correspondiam a R$ 23 milhões. Os acusadores agora são acusados. Se acusa até o Palácio do Planalto.
O poder econômico, por sua vez, assiste aos seus maiores empresários e executivos irem para a cadeia, faltando ainda acabar a Operação Zelotes para ver também banqueiros envolvidos em corrupção.
A delação premiada é um acinte à opinião pública. Os destruidores do Brasil recebem de prêmio a diminuição de suas penas para irem morar em suas casas no exterior. Como pode a Justiça premiar quem está destruindo um país e acabando com o povo? Já somos mais de 20 milhões de desempregados, o crescimento é negativo. Premiar o destruidor deste povo chega a ser um cinismo macabro, dirão muitos, e com razão. Só resta o Judiciário que, em muitos casos, é colocado em dúvida até pelo próprio Judiciário. E esse "só resta" é porque só resta mesmo. O Legislativo já não é mais considerado. Quando a polícia invade o Legislativo, o povo tem o direito de não acreditar mais nele.
Num momento em que o país vive a excelência da representatividade da democracia, que é o voto, nos deparamos com mais de 50% de eleitores que não querem saber de eleição. O que esperar, portanto, da frase do juiz Sérgio Moro quando afirma que espera que o Brasil sobreviva? Sobreviverá sim, senhor juiz. Depende da forma como sobreviverá: ou com todos os sistemas que compõem a democracia, que fazem sofrer e destroem as perspectivas de um povo de mais de 200 milhões de habitantes, com empresários mergulhados na lama da corrupção, quando o poder político já não existe mais, ou se estes segmentos desaparecerem absolutamente de qualquer intimidade com os alicerces do país. Porque, para que o país sobreviva e renasça, a bactéria dessa gente tem de ser destruída.
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