Num retrato da deterioração da economia brasileira, o Banco Central
revisou suas projeções e admitiu que a recessão econômica será ainda
mais grave que a esperada antes. Mesmo assim, o brasileiro terá de
conviver com inflação alta por pelo menos dois anos. A projeção para a
queda na atividade econômica passou de 2,7% para 3,6% em 2015. Para o
ano que vem, a expectativa é que a economia brasileira encolha 1,9%.
Segundo o relatório trimestral de inflação, a previsão para o Índice de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado oficialmente no sistema de
metas, também está maior: subiu de 9,5% para 10,8%. Para o ano que vem, a
estimativa passou de 5,3% para 6,2%. E, pela primeira vez, o BC
divulgou a previsão para 2017: 4,8%.
As
perspectivas do BC para a economia neste ano estão alinhadas com as do
mercado financeiro. Os analistas esperam retração de 3,7% para este ano
com inflação de 10,7%. No entanto, para o ano que vem, o BC enxerga um
quadro melhor porque os economistas apostam em recessão de 2,8% e
inflação de 6,87%.
A probabilidade estimada de a inflação ultrapassar o limite
superior do intervalo de tolerância da meta em 2016 é de 41% e, em
2017, de 20%.
Esse é o primeiro relatório de inflação do Banco Central divulgado
após o Comitê de Política Monetária admitir que só conseguirá levar a
inflação para a meta de 4,5% em 2017. A escolha foi não sacrificar ainda
mais a já debilitada economia com uma carga de juros ainda maior para
cumprir o objetivo depois que as expectativas foram desancoradas pelo
descontrole das contas públicas e também pelo envio de um orçamento
deficitário para o ano que vem ao Congresso.
ENERGIA: ALTA DE 4,6% EM 2016
O texto ainda
não leva em consideração a troca do ministro da Fazenda, ma última
sexta-feira, que teve uma reação ruim no mercado e fez o dólar aumentar.
Ou seja, o possível impacto nos preços de importados e seu efeito na
inflação ainda não foram levados em conta. No entanto, o BC revisou o
peso das tarifas de serviços públicos — um dos vilões da disparada da
inflação neste ano.
A projeção para a variação dos chamados preços administrados
aumentou de 15,4% para 18,2% em 2015. Isso considera uma alta de 20,7%
da gasolina e 51,6% na conta de luz. Para 2016, a projeção para a
inflação das tarifas públicas subiu de 5,7% para 5,9%. Só não é maior
porque a Petrobras não tem espaço para apertar mais os preços dos
combustíveis.
“Essa projeção considera, para combustíveis, que os preços
domésticos da gasolina e do óleo diesel encontram-se acima dos
praticados no mercado internacional, restringindo, dessa forma,
eventuais elevações”.
Para os preços da energia, a projeção de 4,6% para 2016 leva em
conta redução da tarifa em dólar da usina de Itaipu e manutenção das
bandeiras tarifárias no ano que vem, apesar da queda dos riscos
hídricos e desligamento de usinas térmicas de maior custo. Em 2017, a
projeção de reajustes dos itens administrados é de 5,0%.
Por outro lado, o BC diz que a alta do dólar beneficia as exportações e isso deve fazer os empresários voltarem a investir.
SALÁRIOS PRESSIONAM INFLAÇÃO
“O comitê
entende que, em prazos mais longos, emergem bases para ampliação da
taxa de investimento da economia, para uma alocação mais eficiente dos
fatores de produção e, consequentemente, para que as taxas de
crescimento do PIB potencial e efetivo retomem patamares mais elevados”,
diz o Banco Central antes de fazer um alerta tudo depende da melhoria
das contas públicas e da cena política:
“A velocidade da materialização das mudanças acima citadas e dos
ganhos delas decorrentes depende, fundamentalmente, de uma trajetória
de superavit primários (economia para pagar juros da dívida)
que fortaleça a percepção de sustentabilidade do balanço do setor
público, além da redução de incertezas que cercam o ambiente
doméstico”.
Sobre o mercado de trabalho, o Copom alerta que as negociações
salariais dão peso excessivo à inflação passada, principalmente,
neste ano de tarifaço. Mesmo com a alta do desemprego, os salários
continuam a ser fonte de perigo para a inflação e para a queda da
produtividade no Brasil.
“Assim, não obstante a ocorrência de variações reais de salários
mais condizentes com as estimativas de ganhos de produtividade do
trabalho, e apesar do processo de distensão em curso no mercado de
trabalho, o Comitê avalia que a dinâmica salarial ainda origina
pressões inflacionárias de custos”.
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