Enquanto juro do cartão de crédito chega a 361% ao ano, quem vende fiado não cobra a mais
por
iG Minas Gerais
Publicada em TRIBUNA DA BAHIA
Nesses tempos em que a taxa de juros do
cartão de crédito chega a 361,4% ao ano – dados de setembro da
Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e
Contabilidade (Anefac) –, poder comprar e pagar até 30 dias depois, sem
qualquer acréscimo, virou a salvação para quem ainda utiliza a
tradicional caderneta da vendinha. “Com essa crise, poder comprar de
tudo, arroz, feijão, produto de limpeza, e pagar um mês depois é ótimo.
Eu não uso mais outro supermercado. Agora que meu marido está
desempregado, ajuda ainda mais”, conta a funcionária pública Rose Kelly
Rodrigues Campos, 35, cliente da Mercearia do Tião, no Alto Vera Cruz,
região Leste da capital.
“Eu tenho caderneta há muitos anos. Com essa economia de hoje, ajuda, sim, poder acertar no dia do pagamento. Quando eu preciso, pego as coisas aqui”, relata a agente administrativa do município Ângela de Souza, 53, que tem conta no Armazém do Zé Totó, no bairro Aparecida, região Noroeste da cidade. Segundo Geraldo Magela Mendes Meira, gerente da Mercearia do Tião, mais de 50% das vendas são anotadas, mesmo o número de cadernetas não sendo grande.
São cerca de 50 clientes. “Aqui é sem nenhuma anuidade, sem juros, sem taxa. E o preço é o mesmo, não muda nada”, afirma Meira. Para Rose Kelly, o preço é competitivo. “É a mesma coisa que nos supermercados”, diz a cliente. Para José Alves dos Santos, o Zé Totó, a caderneta funciona para “fidelizar o cliente”. No armazém, além do pagamento mensal, alguns clientes acertam por semana, e a escolha é do consumidor. São cerca de 20 cadernetas, mas Zé Totó também aceita fiado.
“O freguês vem, pega uma coisa, paga uns dias depois, pega outra. O importante é assinar a notinha, para a gente poder cobrar depois”, explica. Para ele, o comerciante tem que ter sensibilidade social. “Se a pessoa não está podendo pagar, eu dou mais uns dias, sem cobrar por isso. Eu, que também sou pequeno, tenho que entender”, afirma. No bairro Nova Floresta, o mercadinho Katanga também aceita tanto a caderneta quanto o fiado. “O que sai mais no fiado é a cerveja e alguma coisa para acabar o mês”, diz a gerente do Katanga, Neide Ameno. Cliente antigo. Os comerciantes que adotam a caderneta mantêm o serviço, mas só para clientes antigos sem abrir exceção. “A gente não aceita mais cliente. Quem tem a caderneta hoje é porque é cliente de mais de 15 anos”, diz Meira. Zé Tótó confirma: “quando abre pra cliente novo, acaba ficando no prejuízo”, conclui.
Inadimplência Risco. Dono da mercearia Nova Floresta, Sebastião Pereira diz que prefere pagamento no cartão, cujo pagamento é certo. Mas mantém cerca de 15 cadernetas para atender o cliente antigo.
Carnês em desuso nas grandes A utilização dos carnês está caindo nos grandes magazines nacionais. O Via Varejo, grupo que reúne as Casas Bahia e o Ponto Frio, informou, por meio de nota, que no seu último relatório de resultados, referente ao segundo trimestre de 2015, houve uma queda de 0,1% nesta modalidade de pagamento (carnês), em comparação ao segundo trimestre de 2014. Já o Magazine Luíza também informou que não utiliza mais o carnê de pagamento.
“É como se fosse da família” A caderneta, tão vantajosa para o consumidor, diante de uma inflação de 8,49% nos dez primeiros meses do 2015, está sendo mantida pelos tradicionais armazéns e mercearias de bairro. O Armazém do Zé Totó, no bairro Aparecida, está no mesmo ponto há 75 anos e já faz parte da vida dos moradores do bairro. “O fiado do Zé Totó funciona na base da confiança. Eu compro aqui há 30 anos, desde que cheguei ao bairro, com 10 anos. É como se a gente fosse da mesma família”, conta o aposentado José Arlindo Soares Lima. No bairro Alto Vera Cruz, a Mercearia do Tião existe há 40 anos. “Quem começou aqui foi meu pai, e adotamos a caderneta desde o começo”, conta Geraldo Magela Mendes Meira. “Com isso, o público da caderneta já está mais filtrado, não dá problema de inadimplência porque todo mundo se conhece”, conta. É o caso da funcionária pública Rose Kelly Rodrigues Campos.
“Tem 15 anos ou mais que eu tenho caderneta na Mercearia do Tião”, explica Rose, que chega a gastar até R$ 250 por mês no estabelecimento. O mercadinho Katanga está na bairro Nova Floresta há cerca de 20 anos, mas começou no bairro Santa Tereza há mais de 30, segundo Neide. “Aqui, 100% da clientela é de vizinhos, todos são do bairro. Por isso não tem problema anotar”, afirma a gerente do Katanga, Neide Ameno. O clima de família se repete no Katanga, que tem o nome inspirado em uma cidade africana. “Aqui o clima é muito familiar. Temos clientes que passam na loja todos os dias, são nossos amigos”, afirma a gerente.
“Eu tenho caderneta há muitos anos. Com essa economia de hoje, ajuda, sim, poder acertar no dia do pagamento. Quando eu preciso, pego as coisas aqui”, relata a agente administrativa do município Ângela de Souza, 53, que tem conta no Armazém do Zé Totó, no bairro Aparecida, região Noroeste da cidade. Segundo Geraldo Magela Mendes Meira, gerente da Mercearia do Tião, mais de 50% das vendas são anotadas, mesmo o número de cadernetas não sendo grande.
São cerca de 50 clientes. “Aqui é sem nenhuma anuidade, sem juros, sem taxa. E o preço é o mesmo, não muda nada”, afirma Meira. Para Rose Kelly, o preço é competitivo. “É a mesma coisa que nos supermercados”, diz a cliente. Para José Alves dos Santos, o Zé Totó, a caderneta funciona para “fidelizar o cliente”. No armazém, além do pagamento mensal, alguns clientes acertam por semana, e a escolha é do consumidor. São cerca de 20 cadernetas, mas Zé Totó também aceita fiado.
“O freguês vem, pega uma coisa, paga uns dias depois, pega outra. O importante é assinar a notinha, para a gente poder cobrar depois”, explica. Para ele, o comerciante tem que ter sensibilidade social. “Se a pessoa não está podendo pagar, eu dou mais uns dias, sem cobrar por isso. Eu, que também sou pequeno, tenho que entender”, afirma. No bairro Nova Floresta, o mercadinho Katanga também aceita tanto a caderneta quanto o fiado. “O que sai mais no fiado é a cerveja e alguma coisa para acabar o mês”, diz a gerente do Katanga, Neide Ameno. Cliente antigo. Os comerciantes que adotam a caderneta mantêm o serviço, mas só para clientes antigos sem abrir exceção. “A gente não aceita mais cliente. Quem tem a caderneta hoje é porque é cliente de mais de 15 anos”, diz Meira. Zé Tótó confirma: “quando abre pra cliente novo, acaba ficando no prejuízo”, conclui.
Inadimplência Risco. Dono da mercearia Nova Floresta, Sebastião Pereira diz que prefere pagamento no cartão, cujo pagamento é certo. Mas mantém cerca de 15 cadernetas para atender o cliente antigo.
Carnês em desuso nas grandes A utilização dos carnês está caindo nos grandes magazines nacionais. O Via Varejo, grupo que reúne as Casas Bahia e o Ponto Frio, informou, por meio de nota, que no seu último relatório de resultados, referente ao segundo trimestre de 2015, houve uma queda de 0,1% nesta modalidade de pagamento (carnês), em comparação ao segundo trimestre de 2014. Já o Magazine Luíza também informou que não utiliza mais o carnê de pagamento.
“É como se fosse da família” A caderneta, tão vantajosa para o consumidor, diante de uma inflação de 8,49% nos dez primeiros meses do 2015, está sendo mantida pelos tradicionais armazéns e mercearias de bairro. O Armazém do Zé Totó, no bairro Aparecida, está no mesmo ponto há 75 anos e já faz parte da vida dos moradores do bairro. “O fiado do Zé Totó funciona na base da confiança. Eu compro aqui há 30 anos, desde que cheguei ao bairro, com 10 anos. É como se a gente fosse da mesma família”, conta o aposentado José Arlindo Soares Lima. No bairro Alto Vera Cruz, a Mercearia do Tião existe há 40 anos. “Quem começou aqui foi meu pai, e adotamos a caderneta desde o começo”, conta Geraldo Magela Mendes Meira. “Com isso, o público da caderneta já está mais filtrado, não dá problema de inadimplência porque todo mundo se conhece”, conta. É o caso da funcionária pública Rose Kelly Rodrigues Campos.
“Tem 15 anos ou mais que eu tenho caderneta na Mercearia do Tião”, explica Rose, que chega a gastar até R$ 250 por mês no estabelecimento. O mercadinho Katanga está na bairro Nova Floresta há cerca de 20 anos, mas começou no bairro Santa Tereza há mais de 30, segundo Neide. “Aqui, 100% da clientela é de vizinhos, todos são do bairro. Por isso não tem problema anotar”, afirma a gerente do Katanga, Neide Ameno. O clima de família se repete no Katanga, que tem o nome inspirado em uma cidade africana. “Aqui o clima é muito familiar. Temos clientes que passam na loja todos os dias, são nossos amigos”, afirma a gerente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário