Lucas Prates / Hoje em Dia
Aline Bonnerau - Agora proprietária de uma minifábrica de pão de queijo
Realidade para um número cada vez maior de brasileiros, o desemprego já
atinge mais de 8,2 milhões de pessoas no país. Sem fonte de renda e com
poucas perspectivas de voltar ao mercado de trabalho, cujas portas
estão fechando, trabalhadores demitidos têm tomado o rumo do
empreendedorismo. Segundo o Sebrae, três a cada dez dispensados do
antigo emprego investem no próprio negócio.
Para entrar no universo dos patrões, entretanto, é preciso muito mais
que dinheiro na conta bancária e uma boa ideia na cabeça. Antes de
gastar todo o fruto da indenização e do FGTS na abertura da empresa é
preciso fazer pesquisa, aprender sobre gestão e elaborar um plano de
desenvolvimento do negócio, alertam consultores do Sebrae-MG.
“Percebemos que os novos empreendedores têm um perfil em comum. Na
maioria, são pessoas que perderam o emprego. Essa é hoje nossa maior
demanda”, diz a analista do Sebrae-MG Silmara Ribeiro, que dá expediente
em uma unidade da instituição no Shopping Uai, no Centro de Belo
Horizonte.
O movimento aparece também nas estatísticas do IBGE. Em um ano, 522 mil
brasileiros passaram a engrossar a fila dos desempregados, aumento de
45% entre junho de 2015 e igual mês no ano anterior. No mesmo período,
considerando-se só a Região Metropolitana de Belo Horizonte, pelo menos 8
mil pessoas começaram a trabalhar por conta própria.
“Os números mostram que o aumento de trabalhadores autônomos tem sido
uma tendência. Com o crescimento do desemprego muitos fazem esse
caminho”, avalia a técnica do IBGE Adriana Beringuy.
Motor
Modalidade que mais cresce no país, a figura do Microempreendedor
Individual (MEI ) é o atual motor do empreendedorismo. “A pessoa pode
contratar até um funcionário e ter faturamento anual de no máximo R$ 60
mil. Não precisa alugar um espaço e enfrenta menos burocracia. E o mais
interessante é o direito a benefícios previdenciários”, detalha Silmara
Ribeiro. A analista diz que a formalização da atividade via MEI é o
primeiro passo indicado, já que com ela, além da nova carreira, o
empreendedor garante a Previdência a custo baixo.
Medicina oriental
Despedida do emprego em 2014, Adriana Fagundes Gomes entrou para o time
dos microempreendedores individuais há um mês. Diante da falta de vagas
no mercado de trabalho, ela resolveu intensificar a produção de tabelas
de reflexologia podal, pontos de tratamento da medicina oriental e
plantas medicinais que criou. Com o êxito nas vendas, já traduz o
material para o inglês e o espanhol.
Ex-técnico de uma empresa de telefonia, Flávio Santana mudou de ramo
“na cara e na coragem”. Agora vende produtos para cabelos. “Com a crise,
muita gente deixou de frequentar salão. A cliente compra meu produto e
faz o tratamento em casa”.
Especialistas aconselham a realização de testes de mercado
Em tempos de turbulência econômica, aumenta a proporção de
empreendedores que buscam a realização do sonho do próprio negócio por
necessidade. Pelo menos 30% dos brasileiros o fazem porque precisam
encontrar um meio de gerar renda e pagar as contas. E é aí que mora o
perigo.
“A crise está durando mais tempo do que imaginávamos e as pessoas estão
precisando de dinheiro para sobreviver. E não há perspectivas de
melhora no mercado de trabalho neste ano e até meados de 2016. A
reinserção pode levar um prazo longo, até 12 meses. Aí surge a vontade
de empreender. Só que lucro rápido não existe. O retorno do investimento
pode levar mais de um ano”, adverte o analista do Sebrae-MG Aroldo
Araújo.
Segundo ele, um dos erros mais comuns é deixar a emoção sobressair à
razão. Não é porque a pessoa gosta de jantar fora que vai montar um
restaurante, por exemplo. “Até o ano passado, mesmo sem planejamento,
alguns tinham sucesso porque todo mundo estava consumindo. Com a crise, é
preciso redobrar os cuidados, testar o mercado e ter foco”.
Criatividade
O momento exige criatividade até mesmo de quem está há anos à frente do
negócio. “Uma loja especializada em moda festa pode passar a apostar em
roupas mais casuais e baratas. Também vale fazer parcerias e somar a
oferta de serviços”, indica Araújo.
Diretora regional da Associação Brasileira de Franchising em Minas,
Danyelle Van Straten diz que o Brasil é um dos países mais
empreendedores do mundo. E defende a franquia como modelo de
associativismo e empreendedorismo. “A mortalidade de um negócio
individual é quase sete vezes maior que o da franquia”, diz. O
investimento é a partir de R$ 5 mil. “Mas o céu é o limite”, frisa
Danyelle. Geralmente é exigido o pagamento de royalties.
Pulo do gato é oferecer ao cliente solução com diferencial
Aproximadamente ¾ dos brasileiros têm vontade de empreender. E à medida
que o desemprego cresce e a estabilidade desaparece, o desejo vira uma
necessidade. “Mais de 30% dos empreendedores são situacionistas”, diz o
coordenador regional da Endeavor em Minas, Ênio Borges.
Mas a necessidade em si não é só ruim. “Não dá para olhar a queda do
PIB e desanimar. Mais do que o dado macroeconômico a seu favor, o
empreendedor precisa de um diferencial, de oferecer uma solução ao
cliente”, afirma Borges. O pesquisador do Sebrae-MG Ricardo Leopoldo
ressalta que um item básico para quem deseja empreender é a afinidade
com o negócio.
Minifábrica
E foi justamente esse o ingrediente que levou a ex-gerente regional de
uma joint venture Aline Bonnereau a investir R$ 7 mil em uma minifábrica
de pão de queijo. Em abril deste ano, ela recebeu do chefe a notícia
que ninguém quer ouvir. Sem emprego, descobriu na receita artesana,
sempre tão elogiada por amigos, a chance para voltar a ganhar dinheiro.
Criou a marca “Meu Pão de Queijo”, se formalizou como MEI, comprou
máquina de ensacar e de fazer a massa, criou logomarca, plotou o carro,
fez banners de divulgação e cartões de visita. Hoje, os cinco sabores da
iguaria estão em lojas de Nova Lima e do Mercado Central. “Vou até
contratar uma ajudante”, comemora.
Mais de 40% das dúvidas dos empreendedores se referem à gestão financeira do negócio, diz o Sebrae-MG
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