Fechadas, freadas bruscas, batidas… Essa é a dura realidade de quem precisa cruzar ruas e avenidas da capital goiana todos os dias. Agressões verbais e físicas – algumas que já resultaram até mesmo em mortes – já foram registradas por causa do estresse enfrentado por motoristas, ciclistas e pedestres.
O fotógrafo Rodrigo Cabral, de 29 anos, afirma que até tenta ficar calmo quando assume o volante de seu carro, mas nem sempre consegue. Segundo ele, algumas atitudes o irritam mais quando está dirigindo: veículo lento pela pista da esquerda e “fechadas”. “Se estou com pressa para chegar a algum compromisso, fico chateado ao cruzar com motoristas que insistem em permanecer desse lado, mas andando devagar. Esses são os piores!”
Quando recebe uma fechada, o fotógrafo confessa que acaba xingando o outro condutor. “Mas, como ando com vidros fechados, acho que eles não escutam. E eu não me meto em confusões.” Na opinião do fotógrafo, os momentos mais difíceis para se dirigir na capital são durante a chuva ou nos horários de pico. “Nessas horas, o trânsito para e é preciso ter muita paciência para enfrentar a situação”.
Rodrigo acredita que nem todos são mal educados. “Mas uma coisa é preciso ressaltar: celular e direção não combinam!” De modo geral, segundo o fotógrafo, muitas pessoas falam e manuseiam o aparelhinho quando estão na direção de um veículo. “E isso tira a atenção sobre o que está acontecendo à sua frente, principalmente no caso de motoristas mais jovens.”
De bike
O professor de Física do Colégio Militar Polivalente Vasco dos Reis, Matheus de Souza Oliveira, 40 anos, conta que anda de bicicleta a maioria das vezes em que sai de casa. “Mesmo assim, a falta de educação dos motoristas é o que mais me estressa.” Ele cita como exemplos os condutores que passam pela calçada e aqueles que pegam a faixa errada de propósito. “Será que essas pessoas não pensam que estão atrapalhando os outros?”, critica.
O professor comenta que os horários mais difíceis para enfrentar as ruas de Goiânia são o início da manhã e o da noite. “Geralmente, está todo mundo saindo ou voltando para casa e a paciência fica bem curtinha nesses momentos.” Matheus defende investimentos em mais educação para os condutores e a criação de ciclovias como saídas para melhorar o tráfego na capital. “O atual modelo, que estimula o transporte de carro individual, é insustentável.”
Calma sempre
Manter a calma na direção de um veículo não é fácil, mas os condutores precisam tentar. É a dica do motorista profissional José Alves da Silva, 55 anos, que atua na profissão há sete anos. “Procuro ficar tranquilo para evitar acidentes. Se for brigar com todo mundo que me fechar no trânsito, acabarei apanhando ou morrendo”, pontua.
Mesmo assim, ele afirma que já se envolveu em dois acidentes: em um, bateu em um veículo que vinha na contramão da pista onde ele estava. No outro, ele foi atropelado por um carro quando estava conduzindo uma moto.
O motorista conta que no primeiro acidente, após a colisão, desceu do veículo e prestou assistência ao jovem. Ele relata que foi elogiado pela mãe do moço, que o agradeceu por ele ter se preocupado com o filho. “Naquele momento, o que me interessava era saber se o rapaz estava machucado e não discutir com ele sobre quem estava certo ou errado.”
No segundo acidente, ocorrido há um ano, ele explica que voltava para casa de moto e a pista estava molhada. “Um carro parou sobre a faixa de pare e eu esperei que saísse. Como ele continuava parado, acelerei e não vi um outro veículo. Os dois condutores estavam discutindo. Então, o outro saiu e me atropelou”. Por causa deste acidente, José ficou de licença três meses.
Hábitos novos
Segundo a presidente da Comissão de Trânsito do Conselho Regional de Psicologia (CRP/GO), Simone Minasi, o cotidiano gera o estresse no trânsito e algumas situações impedem as pessoas de permanecerem tranqüilas. “Nossas reações são psíquicas e físicas e, no segundo caso, podem ocasionar até mesmo a morte de quem está por perto”.
A psicóloga elenca alguns conselhos para que os condutores evitem ficar estressados quando estiverem dirigindo. “Sair com maior margem de tempo para chegar ao seu destino, ouvir música menos agitada e focar no ato de dirigir para fazer essa direção com mais qualidade são algumas atitudes que podem ajudar o motorista”, destaca ela.
Simone chama a atenção para outro fato importante: o uso de celulares pelos motoristas. “Não pode acontecer o que está acontecendo: acessar as redes sociais em detrimento da boa direção porque compromete a a atenção, que deve estar focada no tráfego”.
Ela ressalta ainda que a falta de educação dos motoristas também pode causar estresse. Para que isso mude, segundo ela, é preciso um trabalho individual orientando ao condutor que está em um espaço coletivo. “Só construiremos um trânsito melhor se as pessoas mudarem sua mentalidade. É uma questão cultural até”.
De acordo com Simone, para estar inserido neste meio, a pessoa precisa ter algumas qualidades como aptidão, equilíbrio e responsabilidade. “A falta de cordialidade também deveria ser um ponto a ser discutido. Se eu tenho um carro maior, então posso me aproveitar disso para ‘passar por cima’ do outro, que é menor ou mais barato?”, questiona a psicóloga.
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