Luiz Costa/Hoje em Dia
Reflexo – Inflação e juros altos afetaram o consumo das famílias
O Brasil encerrará 2014 praticamente estagnado, com o Produto Interno
Bruto (PIB, bens e serviços produzidos) crescendo entre 0,2% e 0,5%, e
vai experimentar em 2015 um cenário de recessão em decorrência das
medidas de ajuste fiscal e da política monetária restritiva como
instrumento de contenção da inflação.
Nessa sexta-feira (28) o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) divulgou o resultado do PIB para o terceiro trimestre
de 2014, que apontou variação positiva de 0,1% sobre o trimestre
anterior, após dois trimestres no vermelho, na série com ajuste sazonal.
Nessa base de comparação, a queda mais acentuada foi verificada na
agropecuária, prejudicada pela seca nas lavouras. A indústria cresceu
1,7% e o setor de serviços contabilizou alta de 0,5%. Dentro da
indústria, a expansão da exploração petrolífera e da extração de gás
natural motivou o desempenho favorável, com o setor extrativo
registrando elevação de 8,2%. No setor de serviços, a intermediação
financeira de seguros foi o destaque positivo, com alta de 3,2%.
Economistas avaliam que em 2014 a deterioração do ambiente econômico
internacional, com redução de demanda e retração de preços de
commodities, enfraqueceu o dinamismo da economia brasileira de forma
geral, além da falta de uma política econômica que atacasse os problemas
estruturais do país. Para 2015 espera-se a manutenção dessa conjuntura
adversa, porém aliada com medidas de arrocho fiscal, com severa
contenção de gastos públicos e a utilização, com mais ênfase, da taxa
Selic para combater a inflação.
“O governo insistiu em medidas econômicas de curto prazo, que não
prepararam o país para o crescimento. O resultado é um zero a zero com
inflação no topo da meta (6,5% ao ano)”, disse o professor de economia
do Ibmec Felipe Leroy.
Ele confia em um crescimento do PIB de 0,2% neste ano, mas projeta um
cenário de contração da economia para 2015. “Será realizado um ajuste
fiscal porque ele deixou de ser opcional, não há outra saída. Ainda
teremos um cenário de juros altos, que inibe o investimento. Se 2014 foi
fraco, o ano que vem tem tudo para ser pior”, afirmou.
O economista da PUC Minas Flávio Constantino acredita que neste ano o
Brasil atingirá crescimento econômico de, no máximo, 0,5%, mas aponta
recessão nos primeiros trimestres de 2015. “Há uma correção de rumo na
economia, essa é a parte boa. No entanto, as medidas têm um impacto ruim
em um primeiro momento para o desempenho da economia, que nos dois
primeiros trimestres de 2015 deverá estar em recessão. Acredito que
haverá melhoria no segundo semestre, mas isso ainda depende do cenário
externo”, afirmou.
Incerteza climática afeta o agronegócio
Principal destaque negativo do PIB do terceiro trimestre em comparação
com o trimestre anterior, com queda de 1,9%, a agropecuária ainda
convive com as incertezas climáticas para projetar seu comportamento em
2015. Por sua vez, o comércio espera a dimensão do ajuste fiscal a ser
promovido.
A coordenadora técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do
Estado de Minas Gerais (Faemg), Aline Veloso, prevê que neste ano o
setor, apesar do tombo no terceiro trimestre, vai terminar com
crescimento, ainda que tímido.
“O café e a cana sofreram neste terceiro trimestre impactos muito
fortes da seca, o que provocou essa queda. Mas o café, no ano, tem uma
valor da produção bruta em alta em virtude da recuperação dos preços e
dos volumes exportados. O mesmo ocorre com as carnes”, afirma Aline.
Para 2015, a Faemg avalia que o resultado da safra de grãos e mesmo a
colheita do café estão muito atrelados ao nível de chuvas. “Pela seca
que experimentamos neste ano, vamos monitorar de perto as previsões. Se
chover, o ano será bom, especialmente para os grãos”, disse Aline.
A Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), que já
revisou a taxa de crescimento neste ano de 3,5% para 2,5%, não projeta
otimismo para o ano que vem. “Inflação e juros altos reduziram o consumo
das famílias neste ano, que tiveram aumento de custos com alimentação e
aluguel. Precisamos agora ter mais noção do tamanho do ajuste que o
governo promoverá para medir seus impactos”, disse a economista da
entidade, Ana Paula Bastos.
PIB foi de R$ 1,289 trilhão
Em valores correntes, o PIB no terceiro trimestre de 2014 alcançou R$
1,289 trilhão, sendo R$ 1,104 trilhão referente ao Valor Adicionado a
preços básicos e R$ 184,6 bilhões aos Impostos sobre Produtos Líquidos
de Subsídios.
A Agropecuária registrou R$ 57,5 bilhões, a Indústria, R$ 283,3 bilhões e os Serviços, R$ 763,7 bilhões.
Entre os componentes da demanda, a Despesa de Consumo das Famílias
totalizou R$ 815,1 bilhões, a Despesa de Consumo da Administração
Pública, R$ 275,7 bilhões, e a Formação Bruta de Capital Fixo, R$ 224,2
bilhões.
A Balança de Bens e Serviços ficou deficitária em R$ 31,9 bilhões e a Variação de Estoque foi positiva em R$ 5,9 bilhões.
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