MEDIÇÃO DE TERRA

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sábado, 26 de outubro de 2013

Detentos se preparam para as provas do Enem prisional, em Goiás


Testes para presos em todo o país acontece nos dias 3 e 4 de dezembro.
Condenados veem exame como oportunidade de reintegração à sociedade.

Sílvio Túlio Do G1 GO

Detentos de Goiás estudam e se preparam para fazer o Enem prisional (Foto: Sílvio Túlio/G1)Airam, André e Thiago: detentos veem oportunidades no Enem (Foto: Sílvio Túlio/G1)
Enquanto mais de 7 milhões de estudantes em todo o Brasil farão o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) neste final de semana, detentos ainda se preparam para o exame prisional, marcado para os dias 3 e 4 de dezembro. Em Goiás, segundo estimativa da Secretaria da Administração Penitenciária e Justiça (Sapejus), cerca de 500 presos devem prestar a prova. Para muitos deles, essa é a grande chance de garantir a redução dos dias na cadeia e buscar uma reintegração à sociedade.

As inscrições para o Enem prisional vão até o dia 5 de novembro. Na Penitenciária Odenir Guimarães (POG), em Aparecida de Goiânia, três detentos relataram ao G1 como está sendo feita a preparação para o teste. Assim como os cerca de 160 reeducandos, eles têm aulas diárias na Escola Estadual Dona Lourdes Estivalete Teixeira, que fica no complexo.

Condenado a 18 anos de detenção por uma série de roubos, Airam Gonçalves da Mota, de 28 anos, vai fazer o Enem prisional pela primeira vez. Ele já cumpriu três anos da pena e sonha conseguir pontuação para cursar a disciplina de Segurança da Informação. "É uma oportunidade muito grande, uma porta para outras possibilidades. Além disso, estudar abre a mente, nos faz pensar além do mundo em que a gente vive. Podemos refletir sobre uma forma de ressocializar outra vez", pondera. Ele afirma que lê bastante e se considera pronto para fazer a prova.
Airam trabalha como faxineiro voluntário na cadeia. É casado e tem dois filhos, de 11 e 7 anos. É da família que ele recebe o incentivo para continuar estudando e se sair bem no Enem. O preso também elogia os profissionais que o ajudam. "As aulas são diferentes e os professores muito dedicados. Fazem a gente mudar o modo de pensar", salienta.
Contra a injustiça
Diferente de Airam, André Fernandes, vai fazer o Enem prisional pela segunda vez.Ele passou dez dos seus 28 anos dentro de uma cela. Condenado por assalto e tráfico de drogas, ainda faltam cinco anos e sete meses para ele ser libertado. O grande sonho é uma vaga no curso de Direito.
"Na cadeia a gente sofre muita injustiça. Eu mesmo já tenho direito ao semiaberto, mas até hoje o juiz não analisou o pedido. Sendo um advogado, sei pelo que posso lutar. É difícil, mas eu não vou desistir", garante.
O envolvimento como o crime, segundo ele, estava "dentro de casa". Dos oito irmãos, três já cumpriram algum tipo de pena. As amizades erradas também são apontadas pelo preso como influências para o caminho da ilegalidade.
André é casado e com a atual mulher tem dois filhos, de 4 e 3 anos. De outros dois relacionamento, teve outros dois filhos mais velhos. Nem mesmo nos domingos de visita ele deixa de trabalhar. O intuito é mostrar para as suas crianças que o pai é hoje uma pessoa do bem.
Detentos de Goiás estudam e se preparam para fazer o Enem prisional 2 (Foto: Sílvio Túlio/G1)Escola dentro do presídio tem boa estrutura e três pavilhões (Foto: Sílvio Túlio/G1)
"Quando meus filhos vêm me visitar, divido o tempo com eles e vendendo espetinhos. Um dia na escola, um coleguinha de um deles disse que o pai era policial e perguntou o que o dele fazia. Aí ele respondeu: 'Meu pai vende espetinho'. Fiquei feliz porque ele não me vê como um presidiário e sim como um homem trabalhador. Luto para que meus filhos não passem pelo que eu estou passando", explica.
'Construindo' um futuro
Desde pequeno, o grande sonho de Thiago Carlos Martins Lourenço, de 32 anos, era trabalhar na construção civil. "Sempre sonhei em ser engenheiro", conta. No entanto, o envolvimento com as drogas interrompeu o desejo. Preso por tráfico, ele foi condenado a dez anos de detenção.
Neste ano, ao fazer o Enem prisional pela segunda vez, ele espera retomar a busca pela profissão. "Estou empenhado. Um primo meu já é engenheiro e isso me incentiva."
O ramo que escolheu o ajuda também, além de erguer casas e prédios, a "construir" um novo futuro. Casado, Thiago atua como cozinheiro voluntário no presídio. Ele acredita que um bom resultado no exame pode ser o primeiro passo para uma reintegração na sociedade.
Detentos de Goiás estudam e se preparam para fazer o Enem prisional 3 (Foto: Sílvio Túlio/G1)Uma das salas de aula que recebe os detentos
(Foto: Sílvio Túlio/G1)
"O Enem nos faz enxergar benfeitorias além das portas do presídio. Também nos mostra que devemos pensar muito bem antes de tomar as decisões na vida", afirma.
Redução na pena
Airam, André e Thiago concluíram o Ensino Médio na escola do presídio. Com três pavilhões, o colégio poderia receber até 300 presos, mas atende apenas pouco mais da metade. Grande parte dos 1,6 mil detentos não usufrui do benefício e abandona a possibilidade de deixar a cadeia antes do fim da pena.
De acordo com a lei, cada 12 horas de estudo representa um dia de remissão, ou seja, um dia a menos a ser cumprido na condenação. Além disso, a formação no Ensino Médio conta pontos na ficha de comportamento. Para ter acesso ao semiaberto, além de uma conduta exemplar, é necessário ter cumprido um sexto da pena para crimes comuns e dois quintos para crimes hediondos.
Para o diretor da POG, Marcos Vinícius Alves, a continuidade nos estudos até mesmo dentro de uma penitenciária pode servir de estímulo para a busca de uma nova vida. "Muitos que cometeram crimes chegam aqui e se arrependem. A educação é um dos tópicos principais para reerguer uma pessoa, não tenho dúvida disso", opina.
Caso algum dos detentos consiga pontuação necessária para fazer um curso superior, e ele estiver em regime fechado, é preciso que o Estado entre na Justiça para garantir a vaga dele.
Detentos de Goiás estudam e se preparam para fazer o Enem prisional 4 (Foto: Sílvio Túlio/G1)Possibilidade de remissão de pena pelo Enem também anima os presos (Foto: Sílvio Túlio/G1)

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