MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Chery inicia recall para trocar peças com material tóxico de carros


Montadora chinesa utilizou amianto, que é cancerígeno, para vedar motor.
Confira quais substâncias já foram banidas de carros no mundo.

Priscila Dal Poggetto Do G1, em São Paulo

chery cielo (Foto: Divulgação)Chery Cielo (Foto: Divulgação)
A Chery inicia nesta segunda-feira (1º) o recall de 12.462 unidades de dois modelos de carros no Brasil, para troca de peças que contêm amianto. O material foi utilizado vedação do motor e do escapamento do Tiggo, e na vedação do motor do Cielo.
O amianto é um material cancerígeno que, assim como outras substâncias tóxicas (veja abaixo), já foi banido dos carros no Brasil e em outros países devido ao alto grau de periculosidade. O recal da Chery no mercado brasileiro é voluntário porque, embora haja a restrição para a produção de peças com a substância, não existe lei no país que obrigue a convocação neste caso. Como os modelos são importados, a homologação dos carros no Brasil foi permitida.
Envolvendo apenas 12.462 unidades no país (confira os chassis ao fim da reportagem), segundo divulgou a empresa, o risco maior pelo uso do amianto nesses veículos não é para os ocupantes, mas para quem manipularia diretamente o material, como mecânicos, dizem especialistas consultados pelo G1.
A Chery afirma que buscou uma empresa autorizada pela Cetesb para fazer o descarte correto do material. Serão trocadas a junta do coletor de admissão e a junta do sistema de escape do Tiggo e a junta do coletor de admissão do Cielo.
"Embora tenha sido constatada que a pequena composição de amianto (asbesto) identificada nos componentes dos veículos não representa nenhum risco à saúde, a Chery alerta aos seus consumidores que não realizem por conta própria a substituição das peças, o que deverá ser feito apenas por técnico qualificado de uma das concessionárias da rede Chery Brasil", diz o comunicado da empresa.
Substâncias tóxicas nos carros (Foto: Editoria de Arte/G1)

De acordo com a montadora chinesa, o recall foi uma decisão assumida pela própria matriz para tratar o assunto de forma clara, já que o tema ganhou repercussão internacional quando carros da marca foram interceptados pela fiscalização alfandegária da Austrália. Ainda segundo a Chery, o fornecedor que utlilizou a substância foi trocado por outro.
A empresa chegou a ser notificada pelo Procon-SP porque anunciou à imprensa que realizaria o recall, mas não realizou anúncios publicitários exigidos para esse tipo de convocação.
Saiba quais são os riscos
Antes de ser banido, em 1991, o amianto da variedade anfibólio (conhecida como amianto azul ou marrom) foi utilizado em larga escala pela indústria automobilística na fabricação de lonas de freio e no revestimento dos discos de pastilhas de freio e embreagem, além na vedação de motores e sistemas de escape. Na China, o uso dessa substância é permitido.
Técnicas como zincagem e bicromatização e o uso do amianto, berílio, tíner, entre outros, hoje são substituídos por materiais orgânicos ou não tóxicos. Isso porque qualquer veículo, quando se desloca, não emite apenas CO2. Diversas substâncias são jogadas no ambiente em micropartículas que nem sempre saem do escapamento. Por causa disso, a exposição aos materiais não é somente de quem dirige ou manipula peças do carro, mas sim de qualquer um que respire partículas expelidas por ele.
"Todas as peças do carro sofrem desgastes e emitem partículas no ambiente, como pneus, freios, discos de embreagem, etc.", afirma o diretor e conselheiro da Sociedade dos Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil), Francisco Satkunas. “Na realidade, o veículo, quando passa, deixa um rastro de emissões e particulados. A gente não enxerga, mas está lá", ressalta o especialista, que inclui o amianto entre tais materiais.
"Na rua, o impacto de 12.462 veículos em todo país deve ser muito pequeno ou desprezível. Com o recall, o problema será resolvido”, afirma o médico pneumologista Ubiratan de Paula Santos. Segundo ele, o risco aumenta quanto maior for o contato com o material e o tempo desse contato, como no caso, por exemplo, de mecânicos. Quem se expõe ao amianto sem a devida proteção, explica, corre o risco de desenvolver doenças como o câncer de pleura tipo mesotelioma, câncer de pulmão e fibrose da pleura.
É preciso fiscalizar o descarte do material do recall"
Ubiratan de Paula Santos, médico
Descarte do materialO pneumologista alerta para que o descarte do material recolhido no recall da Chery seja feito de forma correta e em aterros específicos para materiais perigosos.
“Onde existe material com amianto deve ser programada a remoção progressiva e, neste caso, com uso de roupas especiais. Os resíduos têm que ser dispostos em aterros para materiais perigosos, como recomenda a Cetesb”, diz Santos. “É preciso fiscalizar o descarte.”
A montadora ressalta que tanto o motor quanto o sistema de escape mantêm o material isolado.
Cobre e a extinção do salmão
Mas não é somente o ser humano que se prejudica com as partículas expelidas pelos carros. De acordo com o Satkunas, uma pesquisa feita nos Estados Unidos apontou que as partículas de cobre que são desprendidas durante a frenagem dos carros vão parar em rios por meio do escoamento das águas de chuva e contaminam peixes da espécie salmão.
Freio (Foto: Divulgação)Partes como freio soltam material particulado
(Foto: Divulgação)
“Segundo a pesquisa, hoje, nos Estados Unidos, os carros emitem 37 toneladas métricas de cobre só pelas pastilhas de freio. O salmão ingere esse cobre e somente 10 micro gramas já alteram a capacidade de se locomover do peixe. Por isso, ele não consegue se alimentar e acaba morrendo”, explica.
Por causa do salmão, os EUA querem, em 2014, fazer com que a quantidade de cobre nas pastilhas seja inferior aos atuais 5%. “É preciso achar um substituto ecologicamente viável”, diz o especialista. Pastilhas de freio e de embreagem podem ter até 40 elementos diferentes em sua composição. O cobre é um deles e ajuda a aumentar o atrito que faz com que o carro freie.
Veja chassis dos veículos envolvidos no recall da Chery
Tiggo
Fabricados no Uruguai:
Chassi mais antigo: 9UJDB14B7AU003549 (data de fabricação 11 de fevereiro de 2010)
Chassi mais novo: 9UJDB14BXCU007534 (data de fabricação 17 de agosto de 2011)
Fabricados na China:
Chassi mais antigo: LVVDB14BXBD010310 (data de fabricação: 09 de abril de 2010)
Chassi mais novo: LVVDB14B2CD037938 (data de fabricação: 22 de agosto de 2011)
Cielo
Cielo Sedan:
Chassi mais antigo: LVVDC11B0BD011015 (data de fabricação: 24 de maio de 2010)
Chassi mais novo: LVVDC11B7CD044983 (data de fabricação: 21 de setembro de 2011)
Cielo Hatch:
Chassi mais antigo: LVVDB11B1BD011110 (data de fabricação: 24 de maio de 2010)
Chassi mais novo: LVVDB11B0CD045122 (data de fabricação: 22 de setembro de 2011)

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