Caso de homem sem memória por dois meses ainda é mistério médico

Cérebro de Alcino Garajau tem irrigação sanguínea irregular, diz médico.
Especialistas divergem sobre diagnóstico de amnésia global transitória.

Do G1, com informações do Fantástico

O caso do capixaba Alcino Garajau, que no início do ano sofreu durante dois meses com perda de memória, ainda não foi bem esclarecido pelos médicos. No dia 18 de janeiro, Alcino acordou no meio da noite sem se lembrar onde estava ou quem era a mulher ao seu lado na cama. Durante os dois meses seguintes, ele e a mulher, Priscila Damasceno, largaram o emprego e começaram a viver em função do esquecimento. Procuravam um especialista, que desse a resposta, a solução para o problema.
O médico que atendeu Alcino já tem um primeiro diagnóstico: “A gente chama de amnésia global transitória. Você pode perder a memória por algum tempo, 4h, 6h 12h e recuperar a memória pro progressivamente”, afirma o neurocirurgião Élcio Machado.

Para o coordenador do departamento científico de neurologia cognitiva da Academia Brasileira de Neurologia, o caso de Alcino tem peculiaridades, por isso não poderia ser chamado de amnésia global transitória.
“Ela geralmente tem uma duração curta, em horas, minutos no máximo horas. Ele conhece as pessoas que o cercam: conhece esposa, filhos, mas não sabe o que está fazendo, não sabe onde está”, explica o neorologista Ivan Okamoto.
Como Alcino passou dois meses sem memória, seu caso é considerado muito raro. Depois de uma série de exames, o que o médico dele já conseguiu descobrir é que a irrigação sanguínea no cérebro não funcionava bem. Para reverter o problema, ele precisa fazer uma cirurgia para implantar um stent na veia que não deixava o sangue passar.
Em maio, porém, as lembranças de Alcino voltaram tão inexplicavelmente quanto se perderam em 18 de janeiro. “Minha cabeça deu um... Sabe como se tivesse vindo tudo de uma vez. Como se eu fosse um garoto, começasse a falar sem parar”, lembra.
Hoje, Alcino se sente outra pessoa. “Eu tenho que ser mais carinhoso, mais atencioso, mais afetivo”, relfete Alcino.
O apoio de Priscila, sua esposa que ele não reconhecia, fez com que ele se apaixonasse novamente por ela. “Eu percebi que era muito mais difícil para ela do que pra mim, que não lembrava. Eu comecei a olhar para ela com outros olhos”, revela.
E a vida mudou. Tudo ficou um pouco mais leve. Ele viu como se fosse pela primeira vez os filmes que antes eram os seus favoritos. E reaprendeu uma antiga paixão.
“Olhava o Ronaldinho jogando no Flamengo e a Priscila dizia: ‘é seu time’. Mas pra mim era indiferente”, lembra.