MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 30 de junho de 2012

Com 10 km de ciclovias, Porto Alegre cumpre só 20% do total para 2014


Prefeitura terá dois anos para atingir os outros 80% até a Copa do Mundo.
Ciclistas e especialistas ouvidos pelo G1 avaliam que 'muito pouco' foi feito.

Do G1 RS

Lagartixa 4 (Foto: Caetanno Freitas/G1)Ciclofaixa da Av. Icaraí é um dos melhores locais para pedalar, diz ciclista (Foto: Caetanno Freitas/G1)
Andar de bicicleta em espaços padronizados e seguros é o sonho de muitos porto-alegrenses que priorizam o veículo de duas rodas como meio de transporte. Mas na capital gaúcha, ainda não existem ciclovias ou ciclofaixas que interliguem as principais zonas da cidade e que permitam um deslocamento contínuo. Por isso, cada vez mais, surgem campanhas de conscientização, faixas de protesto e manifestações a favor dos ciclistas. Pessoas que, sobretudo, desejam uma cidade com “mais amor, menos motor”, como define uma das bandeiras.
O poder público ainda não entrou de cabeça nessa história"
Fernando Lindner, arquiteto e urbanista
Mas seria possível transformar a cidade e fazer algo semelhante ao que existe em Copenhague e Amsterdã? A verdade é que em Bogotá - bem mais próxima à realidade brasileira - a população conseguiu a tão esperada mudança. Em sua rápida passagem por Porto Alegre no início de junho, o ex-prefeito da capital colombiana Enrique Peñalosa relatou ao público do “Fronteiras do Pensamento” que a cidade dispõe, atualmente, de 500 quilômetros de ciclovias. Diariamente, segundo ele, são cerca de 350 mil pessoas andando de bicicleta nas ruas, o que representa 5% da população. Para Peñalosa, se a capital gaúcha tivesse 20% do que há em Bogotá, se tornaria exemplo para o mundo inteiro.
O arquiteto e urbanista Fernando Lindner faz coro ao discurso de Peñalosa. Em contato com o G1, Lindner disse que é preciso multiplicar tudo que está sendo feito para remodelar a cidade. “O que temos agora são pequenas experiências. O poder público ainda não entrou de cabeça nessa questão. Para poder transitar naturalmente, o ciclista precisa ter um ponto de partida e um destino final. Não adianta termos um local ligando nada a lugar nenhum”, sustenta.
Lagartixa 1 (Foto: Caetanno Freitas/G1)Lagartixa testou trecho da Avenida Ipiranga
(Foto: Caetanno Freitas/G1)
O projeto da prefeitura, no entanto, corresponde a metade do sugerido por Peñalosa e Lindner. Segundo a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Porto Alegre terá 50 quilômetros de ciclovias até 2014 que vão interligar todas as regiões da cidade, desde a Zona Sul até a Zona Norte.
Até o momento, a capital já atingiu 20% do total prometido e terá de acelerar as obras se quiser atingir os outros 80% nos próximos dois anos. Atualmente, existem apenas trechos isolados para os ciclistas, como na Avenida Icaraí - onde há uma ciclofaixa, Diário de Notícias, Ipiranga e também em bairros como Restinga e Ipanema.
Testamos as ciclovias e a ciclofaixa
Paulo Roberto Alves, 39 anos, conhecido como “Lagartixa”, aceitou o desafio do G1 para testar o que já existe em Porto Alegre. Ele utiliza a bicicleta como meio de transporte há mais de 20 anos e afirma que, na prática, “muito pouco” foi feito até agora. Contudo, Alves prega otimismo para se aproximar do sonho tão distante. Lagartixa, que diz “odiar política e políticos”, trabalha desde o início do século em prol dos ciclistas.
“As ciclovias são que nem um berçário. São ferramentas fundamentais para o desenvolvimento de uma cidade. Ando em bicicleta há muito tempo e tenho bastante experiência com isso. Acredito que estejamos no caminho certo, a ideia é essa. É preciso ser otimista. Transformar a cultura da sociedade e o pensamento das pessoas será a parte mais complicada do processo. E principalmente dos motoristas”, afirma.
Lagartixa 2 (Foto: Caetanno Freitas/G1)Ciclistas tem de se arriscar em meio aos carros onde não há espaço para pedalar em Porto Alegre
(Foto: Caetanno Freitas/G1)
A pedido do G1, Lagartixa circulou pela Avenida Ipiranga, que tem menos de 500 metros de ciclovia prontos dos 9,4 quilômetros previstos pela prefeitura. “O grande problema é que o trecho da Ipiranga está isolado. Não se tem uma continuidade, digo, utilidade. Você vê mais pedestres do que ciclistas andando por aqui. Por outro lado, a proteção é boa, resistente ao impacto e o piso também é muito bom, favorece o deslocamento”.
A pior delas, segundo ele, é a Diário de Notícias que é “tomada por pedestres”. “Deveríamos criar uma campanha de conscientização forte e persistente que ande no mesmo ritmo, ou até mais rápido, do que a construção das ciclovias”, ressalta.
Na ciclofaixa da Avenida Icaraí, na Zona Sul da cidade, está o modelo a ser seguido, avalia Lagartixa. “Na minha opinião, ciclofaixa é melhor que ciclovia. Mas, de novo, há que se ter respeito. Na Icaraí, os motoristas estacionam em cima do espaço destinado aos ciclistas. Isso é lamentável”, diz.
Lagartixa 3 (Foto: Caetanno Freitas/G1)Ciclovia da Av. Diário de Notícias é uma das piores
na opinião de Lagartixa (Foto: Caetanno Freitas/G1)
"Para se aproximar do patamar ideal, acredito que a cidade merecesse ao menos 150km de ciclovias. Assim, poderíamos conectar todas as zonas da cidade", afirma Lagartixa.
Espaço vazio
Não é só para os experientes que o trecho da ciclovia da Ipiranga é é considerado pouco útil. Para quem aderiu recentemente à bicicleta, a sensação é a mesma.
O estudante de jornalismo Brunno Bonelli prefere a rua do que o espaço inaugurado pela prefeitura. “Não faz sentido para quem anda de bicicleta. Andando por ali, você só perderá tempo e paciência”.
Outro problema apontado por Bonelli é a falta de bicicletários na cidade. “Quando você opta por andar de bicicleta, reduz custos e otimiza seu tempo. Mas assume o risco de deixá-la amarrada em postes, lixeiras, em locais inadequados, correndo o risco de ser roubada”, relata. Lagartixa também critica a falta destes espaços: “É legal incentivar as pessoas a andarem de bicicleta, mas onde elas vão deixá-las com segurança?”
Aluguel de bikes
A partir de agosto, os porto-alegrenses poderão usufruir de um sistema de aluguel de bicicletas automatizado. A ideia é disponibilizar um portal na internet onde o usuário poderá realizar um cadastro que permitirá a liberação de bicicletas em qualquer um dos 30 pontos espalhados pela capital. A EPTC estima que o valor de aluguel fique em torno de R$ 10 mensais. Serão cerca de 600 bicicletas de aluguel para a cidade.
"O ciclista poderá liberar a bicicleta para uso por meio do celular. Ele deverá fazer isso ou entrando na internet ou enviando seu número de cadastro para a central que ainda está sendo criada", afirmou ao G1 o diretor-presidente EPTC, Vanderlei Cappellari. "O aluguel terá um valor simbólico para que um número maior de pessoas possa ter acesso às bicicletas da prefeitura", ressaltou.
Situação das obras
Em maio, a prefeitura deu início à segunda etapa da ciclovia da Ipiranga, que corresponde ao trecho entre a Edvaldo Pereira Paiva (Beira-Rio) e a Érico Veríssimo e totaliza mais 1,4 quilômetros. A previsão é de que os trabalhos sejam finalizados em setembro. Depois será a vez da última parte, a mais extensa delas, entre a Érico Veríssimo e a Antônio de Carvalho. O total será de 9,4 quilômetros de ciclovia.
Além das ciclovias da Diário de Notícias, Restinga, Ipanema e ciclofaixa da Icaraí, a prefeitura informou ao G1 que o termo de autorização para a obra para a construção da ciclovia da Avenida Sertório, na Zona Norte, já está licitado. Ainda não há, no entanto, uma data para o início dos trabalhos.
Com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal, ainda deverão ser construídas as seguintes ciclovias: Tronco (5,6 quilômetros), Edvaldo Pereira Paiva (6,3 quilômetros), Voluntários da Pátria (3,5 quilômetros) e Severos Dullius (1,6 quilômetros). Também existem projetos em andamento para analisar a viabilidade de ciclovias na Padre Cacique, Mauá, Vicente Monteggia e Edgar Pires de Castro.

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