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sexta-feira, 2 de junho de 2023

DPU cobra apuração do ataque contra indígenas Pataxó em fazenda no Sul da Bahia

Defensoria Pública da União (DPU)

DPU cobra apuração do ataque contra indígenas Pataxó em fazenda no Sul da Bahia

O tiroteio aconteceu, na última terça-feira (30), na Fazenda Matozinho, área em processo de demarcação; um indígena está hospitalizado após ser atingido por tiro

A Defensoria Pública da União (DPU) solicitou ao governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues Souza, e ao secretário de Segurança Pública, Marcelo Werner, que apurem o ataque, ocorrido na última terça-feira (30), contra os indígenas Pataxó que ocupavam a Fazenda Matozinho, localizada no entorno do Parque Monte Pascoal, entre Porto Seguro (BA) e Itamaraju (BA). A instituição também pede o uso da Força Nacional de Segurança Pública para resguardar a integridade dos povos originários da região.

Realizada por homens fortemente armados, a ação contra os Pataxós ocorreu no mesmo dia em que foi aprovado, na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei (PL) nº 490/2007, que trata do Marco Temporal na demarcação de terras indígenas. O caso está sendo acompanhado pela Delegacia de Policia de Eunápolis (23ª Coorpin).

Segundo o defensor regional de Direitos Humanos na Bahia, Gabriel César, que assina o ofício, a fazenda, inteiramente inserida em território de ocupação tradicional em fase de demarcação, a Terra Indígena Barra Velha, foi retomada pelos indígenas no início daquele dia.

Durante o tiroteio, o indígena Carlos Fernando Aquino dos Santos, 27 anos, foi atingido por um disparo de arma de fogo na região da lombar e levado para um hospital de Itamaraju (BA). Ele passou por cirurgia e o quadro é estável. Outro indígena, Alessandro Silva dos Santos, conseguiu fugir e foi localizado na mata, horas depois, com hematomas.

No documento enviado pela DPU, o defensor público federal destaca que a prisão do cacique Nilson Berg Fonseca, por suposta prática dos crimes de apropriação indébita e esbulho possessório, foi feita com presteza, enquanto não houve a mesma agilidade para deter os autores dos disparos contra o indígena Carlos Fernando Aquino dos Santos.

“A prisão está sendo noticiada em diversos veículos de imprensa, acompanhada de uma narrativa fantasiosa do episódio, em visível tentativa de criminalização do movimento. A mesma agilidade, infelizmente, não foi empregada para apreender o potencial autor da tentativa de homicídio”, destaca.

Região de conflitos

O Sul da Bahia é conhecido pelos constantes conflitos entre fazendeiros e comunidades tradicionais, sobretudo indígenas. O defensor teme que, com a definição pelo Marco Temporal, os embates sejam intensificados.

O projeto fixa que uma terra indígena só poderá ser demarcada se ficar comprovado que os povos estavam no território até 5 de outubro de 1988, data em que foi promulgada a Constituição Federal. Caso o critério seja estabelecido, afetará dezenas de comunidades indígenas na Bahia.

“Além de inconstitucional, o marco temporal desconsidera os povos que tiveram terras invadidas à época da Constituição e tiveram que se retirar das áreas tradicionalmente ocupadas. Ele anistia a violência que os indígenas sofreram na época. Não consideram que muitos indígenas só começaram a retornar às suas terras após o avanço das políticas indígenas no Brasil, conclui o defensor.

Defensoria Pública da União Defensoria Pública da União (DPU)Gloria Melgarejoimprensa@dpu.def.br (21) 96972-2081

 

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