Os fatos sociais não são diretamente observáveis. Esses fatos podem ser interpretados a partir da significação dada pelos indivíduos. Assim, os cientistas devem desenvolver uma teoria adequada para analisar os fatos. Artur Ceolin para o Instituto Mises:
Desde
o seu surgimento em 1871, a Escola Austríaca de Economia vem fornecendo
oposição sistemática ao empirismo no desenvolvimento da ciência
econômica. O Methodenstreit persiste, mesmo com participantes
diferentes. O positivismo e suas diferentes correntes de pensamento são
constantemente criticados pelos economistas austríacos.
Mas
as raízes das tentativas de tornar a pesquisa objetiva são muito mais
antigas. No Renascimento, por exemplo, o desenvolvimento das ciências
naturais negligenciou o essencialismo metodológico, conforme Huerta de
Soto explica no seu artigo "Método y Crisis en la Ciéncia Económica". O
essencialismo era visto como parte da Idade Média e por isso foi atacado
pelos pensadores do Renascimento.
Também
podemos nos lembrar de Francis Bacon, um reconhecido filósofo inglês.
Bacon defendeu a matematização e quantificação de toda experiência
humana, bem como o uso do método das ciências naturais para pesquisar
fenômenos sociais.
A
primeira rodada do Methodenstreit envolveu Carl Menger e a Escola
Histórica Alemã, devendo ser considerada mais do que uma mera batalha de
métodos. Ludwig von Mises explica em seu ensaio “The Historical Setting
of the Austrian School of Economics” que os austríacos se envolveram em
uma batalha sobre a própria definição de ciência. Também, nesse ensaio
ele esclarece ainda mais por que o empirismo se tornou a tendência
dominante na economia.
Mises
apresentou uma forte ligação entre os cientistas e a elite prussiana – e
como suas pesquisas justificavam as pretensões desta elite. Esse
cenário previa um Estado forte e centralizado. Este Estado coordenaria o
crescimento econômico e levaria a Alemanha à proeminência
internacional.
Contemporaneamente
o cenário é bem diferente. Economistas tradicionais são apóstolos do
“rigor científico”. Para eles, a ciência é promovida por meio do uso
adequado de procedimentos econométricos. Além disso, eles consideram que
fatos são fatos, que são estabelecidos e não podem ser distorcidos. Mas
seu método resulta nas mesmas falhas que sempre acompanham o empirismo.
Os
fatos sociais são, naturalmente, fenômenos complexos. Eles envolvem um
número incontável de variáveis. Essas variáveis nem mesmo podem ser
totalmente percebidas e compreendidas pelos pesquisadores nem podem ser
isoladas como um experimento físico ou químico.
Além
disso, o problema é mais profundo. Os fatos sociais não são fatos da
natureza, mas o resultado do significado humano. Não há dinheiro na
natureza; o dinheiro é uma convenção social. Da mesma forma, não podemos
encontrar corporações na natureza, pois são entidades abstratas.
Os
objetivos dos cientistas sociais não envolvem a quantificação e medição
de cada elemento dos fatos. Seu objetivo não é extrair conhecimento
desses procedimentos. Eles não podem estabelecer regras a partir da
experiência, pois cada experiência é complexa e única.
Como
explicado acima, os fatos sociais não são diretamente observáveis.
Esses fatos podem ser interpretados a partir da significação dada pelos
indivíduos. Assim, os cientistas devem desenvolver uma teoria adequada
para analisar os fatos.
Por
que o empirismo persiste em governar a disciplina econômica? É um
método conveniente. A pesquisa confirma as conclusões visadas. A
compreensão de Mises da escola histórica alemã também define a ciência
social contemporânea. Esta é conveniente para aqueles que estão no
poder. Como disse Benjamin Disraeli, "existem três tipos de veracidade:
mentiras, mentiras malditas e estatísticas”.
As
investigações econométricas, embora pretensamente rigorosas, são
inadequadas para pesquisar fenômenos sociais. Não é por acaso que as
pesquisas geralmente confirmam as tendências ideológicas em voga. As
estatísticas podem ser manipuladas e tornadas convenientes.
A
pesquisa empírica tem sua relevância como ilustração da teoria
econômica e da história, mas não é a partir de dados empíricos que a
teoria é construída. A teoria vem do encadeamento lógico de leis
teóricas. Essas leis vêm de axiomas principais. E é essa teoria que
permite a interpretação da complexa realidade social. E este rigor
teórico é que impede a manipulação da realidade segundo grupos de
interesse.
Postado há 1 week ago por Orlando Tambosi
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