Economia rumo certo, recorde de abertura de empresas, mais crédito e expectativas para a COP 30: presidente do Sebrae faz um balanço de 2024
Décio Lima fala com a Agência Sebrae de Notícias sobre o crescimento do número de novas pequenas empresas e analisa os fatores que marcaram o ano
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Os pequenos negócios estão fechando o ano com um balanço positivo e grandes expectativas para 2025. Aumento das projeções de crescimento da economia, mais empregos gerados e empresas abertas: 2024 manteve a expansão da economia brasileira e tendência deve continuar no próximo ano.
Só pelo
Programa Acredita, até o fim de outubro, foram concedidos R$ 2,3 bilhões
aos pequenos negócios, por meio de 38 mil operações de crédito em todo o
país – um aumento de 72% em comparação ao ano anterior. Além disso,
foram realizados 280 mil atendimentos com crédito assistido, 60 mil
horas de consultoria e 400 mil horas de capacitação.
Para
entender como foi o impacto dos últimos 12 meses nas micro e pequenas
empresas, a Agência Sebrae de Notícias conversou com o presidente do
Sebrae Nacional, Décio Lima.
Veja os principais pontos da entrevista:
ASN – Fazendo
um balanço de 2024, nós tivemos um crescimento no PIB, só no último
trimestre, de 4% – e até mais de 4%, se a gente comparar com o ano
anterior, um bom momento para a economia. Podemos dizer que esse cenário
foi favorável para o empreendedor?
Décio –
Com certeza. Eu trago aqui aquele sentimento que foi cunhado no modelo
econômico da humanidade, do qual, inclusive, veio o Prêmio Nobel de
Economia em 2002, conceito esse de Daniel Kahneman, que foi um
psicólogo, não um economista, que disse que a economia é comportamento. O
comportamento do Brasil, portanto, mudou já a partir de 2023. Mudou no
sentido de podermos permitir ter esse processo de otimismo que já se
revela. Cartesianamente também, nos números. No ano passado e neste ano,
nós nos tornamos o segundo país do mundo a receber investimentos
internacionais. Pela primeira vez, o Brasil, ao mesmo tempo, lidera o
Mercosul, o G20 e os BRICs e constrói um processo de integração com um
resultado fantástico. Inclusive, este ano, registramos a abertura de 300
novos mercados internacionais. O Brasil sai do mapa da fome e gera
empregos em patamares próximos do que foi realizado há 13 anos. Saímos
de 12%, 13% de desemprego para 6,2%, menos taxa dos últimos 13 anos.
Portanto,
a economia é comportamento e o comportamento hoje do Brasil estabelece
um marco histórico de oportunidades que o país nunca teve. Nós estamos
diante de desafios enormes na economia e na vida da humanidade. São três
conceitos que são hoje paradigmas para o processo econômico. A
sustentabilidade, a inovação e a economia globalizada. Nesses três
aspectos, o Brasil está vivendo extraordinariamente essa janela de
oportunidade. Primeiro que, na sustentabilidade, só o Brasil tem seis
biomas, só o Brasil tem a Amazônia. O Brasil é, portanto, o espaço
territorial para salvar o planeta, tanto que este ano ficou confirmado
que o Brasil recepcionará, no ano que vem, a COP30, trazendo para esse
debate todo o planeta, e que será realizado numa parte da Amazônia, no
estado do Pará, colocando o Brasil no centro do debate da transição
verde. Outro aspecto é o da inteligência artificial e da inovação, que
não tem mais volta também. A sustentabilidade e a inovação são conceitos
que revolucionam, portanto, o modelo econômico.
Somente
com o Desenrola, R$ 6 bilhões já foram renegociados, beneficiando 95
mil negócios (importante lembrar que o prazo termina no próximo dia 31).
Cerca de 72% dos donos de pequenos negócios que aderiram ao Desenrola
têm interesse em obter crédito novo. O interesse é maior entre os MEI,
grupo em que 91,6% confirmam essa intenção. Já entre os donos de
microempresas e empresas de pequeno porte, esse percentual é de 41,7%.
Entre os donos de pequenos negócios que não aderiram ao Programa
Desenrola, 65,1% afirmaram que não possuíam dívidas, 10,5% disseram que
não se enquadram nos critérios do programa e 7,2% citaram dificuldades
com burocracia.
ASN – Falando em geração de emprego: como podemos relacionar o impulso que as pequenas empresas representam para a economia do país?
Décio
– A taxa de desemprego é a menor em toda a história no Brasil e as
micro e pequenas empresas (MPE) respondem por aproximadamente 6 em cada
10 vagas de trabalho criadas no país, melhorando o nível de remuneração
dos trabalhadores e pulverizando oportunidades.
São milhões de
empreendedores e empreendedoras que acordam pela manhã e conseguem se
virar, buscar o próprio sustento e fazem a economia girar. Com isso,
movimentam bairros, cidades, municípios, movimentam o país e contribuem
para o desenvolvimento econômico. Mais de 2 milhões de empregos foram
criados este ano e, até o presente momento, foram registradas também 4
milhões de micro e pequenas empresas. Isso significa uma nova atividade
econômica gerando renda.
Não podemos falar em um mundo
sustentável, inovador e globalizado, se convivemos com 750 milhões de
pessoas passando fome no Brasil. No espaço da inclusão, os resultados
são fantásticos – quando o presidente Lula assumiu o governo, tínhamos
50 milhões de brasileiras e brasileiros no Mapa da Fome. Hoje são 18
milhões, grande parte deles buscaram no empreendedorismo, e não em um
emprego formal, a sua resiliência. O Sebrae tem muito orgulho de ser
grande parte dessa capilaridade na vida dos brasileiros e das
brasileiras que saíram do Mapa da Fome. Nós temos atendido, assistido,
formalizado e dado aquilo que é importante para que ele tenha
desenvoltura no seu próprio negócio.
ASN – Como
você enxerga as dificuldades para conseguir crédito, uma vez que
somente com recursos é possível ampliar os negócios, principalmente para
as micro e pequenas empresas?
Décio – O
crédito é uma luta permanente, porque o Brasil, infelizmente, é o palco
das maiores taxas de juros do mundo. Não há explicação. Ao mesmo tempo,
eu não perco o otimismo com relação a estabelecer essa luta contra os
juros, que começa com a base da taxa Selic. Nesse sentido, estamos todos
com uma grande expectativa de mudança no Banco Central que, por razões
injustificáveis no passado recente, antes desse governo do presidente
Lula com Geraldo Alckmin, recebeu uma autonomia sem igual, ou seja, são
os banqueiros que decidem a carga de juros que afeta a economia
brasileira. Para ajudar a mudar esse cenário, o presidente Lula lançou
um programa chamado Acredita, no qual o Sebrae se inclui com base em
parte daquilo que nós temos para oferecer, por meio do Fundo de Aval
para Micro e Pequena Empresa (Fampe), com o aporte de R$ 2 bilhões do
Sebrae. Mas de que tamanho é esse crédito? Para se ter uma ideia, nós
historicamente já tínhamos esse fundo garantidor, que nos permitia em
torno de R$ 1 bilhão por ano de crédito para micro pequenas empresas.
Até o fim de 2024, chegamos a aproximadamente em R$ 2,5 bilhões, mas
temos uma capilaridade expressiva para atender a pequena economia.
Então,
o crédito é imprescindível, no entanto, o diagnóstico é que 88% dos
micro e pequenos empreendedores no Brasil não têm acesso a crédito. Isso
é inimaginável, mas se explica porque o pequeno não tem garantia para
dar para o banqueiro e, além disso, o Brasil não tem uma cultura de
aval. Quando a gente avaliza, abre a porta do banco.
E
tem um outro fator também que é importante. Nós estamos trabalhando com
todas: cooperativas de crédito, Banco do Brasil, Caixa Econômica, os
bancos privados. Estamos tentando trazer todos os bancos e quando vem
todo o sistema financeiro, a gente cria uma competição e o interesse
aumenta para o banco receber esse empreendedor. E ainda estamos
oferecendo crédito especial para as mulheres com 100% de garantia do
Fampe. Junto com o crédito, nós temos o Desenrola Pequenos Negócios,
para a micro e pequena empresa e para o MEI. Junto com o crédito, nós
temos o Desenrola Pequenos Negócios, para a micro e pequena empresa e
para o MEI, que é uma grande oportunidade: você resolve o passado e já
obtém crédito para impulsionar ainda mais a sua empresa. Por fim, temos o
Mutirão do Crédito, que teve início em Brasília, que vai levar os
serviços ao povo brasileiro, com tendas que a gente organiza em espaços
movimentados das cidades. É onde todos os setores envolvidos com a
política de crédito vão estar com o Sebrae para oferecer serviços e
soluções ao empreendedor.
ASN – O
empreendedor tem no Sebrae um braço para o ajudar a alavancar os
negócios. Hoje em dia é um desafio manter um negócio aberto, mas não é
só criar uma empresa, certo?
Décio – O
Sebrae é a porta dos sonhos, mas sonhos que se realizam e se
concretizam. O Sebrae está entre as 10 marcas de maior credibilidade do
país. Somos a primeira instituição do Brasil com maior responsabilidade
social e ganhamos o prêmio – também muito importante – de “lugar mais
incrível para se trabalhar”, porque o Sebrae consegue ser uma
instituição diferente de tudo que o Brasil até o momento conseguiu
produzir. Se você imagina criar o seu negócio em Serviços, Comércio,
Indústria da Transformação ou Agricultura, procure o Sebrae, porque
estamos ali para abraçar a sua ideia para que você possa enfrentar a
voracidade natural da disputa do mercado.
ASN – E quanto ao trabalho efetivado em parceria com a ApexBrasil, quais são os principais e resultados e metas?
Décio
– O objetivo do convênio é promover a internacionalização de pequenos
negócios brasileiros, contribuindo para seu o aumento de competitividade
e diferenciação, além do incremento da participação das pequenas
empresas nas exportações do Brasil. As ações propostas incluem a
sensibilização para cultura exportadora, jornada digital (oferta de
conteúdo, cursos e ferramentas digitais para internacionalização),
consultorias (Sebraetec e outras) para implementação do plano de
exportação, criação da figura do agente de Mercado Internacional, apoio
para viagem de empresários para ações de promoção comercial e promoção
de eventos para startups.
A previsão é de R$ 174 milhões de
investimento entre as duas instituições nos 3 anos de convênio, com
expectativa de negócios na ordem de R$ 3 bilhões. Isso significa que a
cada R$ 1 (um real) investido, esperamos o retorno de R$ 17 (dezessete
reais) em negócios internacionais. A previsão de Atendimento é de 15 mil
empresas sensibilizadas.
Agora, estamos conseguindo inserir os pequenos negócios nos mercados internacionais. Com isso, estamos com este comportamento otimista, criando uma economia compartilhada, com todos crescendo – o Brasil cresce e o ambiente se humaniza. Queremos trazer este entusiasmo verdadeiro, pulverizado nas pequenas economias espalhadas por todo o nosso país. Esse setor representa quase 95% das empresas brasileiras e, só no ano passado, nos empregos formais, foi responsável por 80% da empregabilidade brasileira.
ASN – Como o Sebrae está atuando no âmbito do programa Brasil Mais Produtivo?
Décio
– A participação efetiva dos pequenos negócios articulada pelo Sebrae
no Programa Brasil Mais Produtivo, do presidente Lula e do vice Geraldo
Alckmin, permite a inclusão deste segmento na inclusão socioeconômica,
no desenvolvimento sustentável, na inovação e competitividade no setor.
O
Sebrae é dos pequenos, que juntos são os grandes, pois representam a
pujança da economia, das cadeias produtivas do Brasil. Desde o começo do
projeto da neoindustrialização, estamos com a responsabilidade de
atender e produzir resultados para 200 mil indústrias de transformação.
Já contabilizamos mais de 44 mil empresas e induzimos a transformação
dos processos das participantes com inovação, gerando efeitos para levar
os pequenos negócios para uma economia globalizada e sustentável.
Entre
os pequenos negócios, 88% não tinham acesso a crédito por não terem
aquela exigência inicial do aval ou da garantia. O crédito é fundamental
para o crescimento e para dar escala à neoindustrialização. Em todas as
atividades que estão na abertura de mercados, nós, do Sebrae em
parceria com a Apex, estamos levando o pequeno empreendedor. Qualquer
brasileiro ou brasileira está comprando do outro lado do mundo. Temos
que fazer com que o processo de globalização também seja um processo de
inclusão dos pequenos negócios.
ASN –
No setor do Turismo, os pequenos negócios também são muito fortes. O
que está sendo feito neste sentido de preparar essas empresas para o
aumento do fluxo de turistas para o Brasil?
Décio
- Somente nos 10 primeiros meses do ano, o país já recebeu 5,4 milhões
de turistas internacionais, gerando US$ 6 bilhões (R$ 34,9 bilhões) de
impacto na economia, um expressivo aumento de 5,9% em relação às
receitas do ano passado. Esse desempenho não só reforça a importância
financeira do turismo, como também demonstra a importância dos
investimentos feitos pelo presidente Lula e o vice Geraldo Alckmin para
recuperar a imagem do Brasil no exterior.
Outros fatores também
contribuem para este desempenho, o país lidera o Mercosul, prepara-se
para assumir a presidência dos BRICS em 2025 e, mais recentemente,
obtivemos uma vitória histórica com a assinatura do acordo de livre
comércio entre a União Europeia e o Mercosul, depois de 25 anos de
negociações.
Os pequenos negócios, responsáveis por 97% dos
empreendimentos turísticos no Brasil, são fundamentais nesse cenário.
Hospedarias familiares, restaurantes locais, transportes turísticos,
guias autônomos e artesãos compõem uma extensa cadeia produtiva que
movimenta economias regionais e promove a inclusão social. O aumento do
turismo internacional impulsiona diretamente essas atividades, gerando
empregos, fortalecendo economias locais e ajudando a distribuir a
riqueza de maneira mais equilibrada pelo território nacional.
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