Com calor e El Niño, dengue avança em SP e soluções tecnológicas surgem como alternativa
A associação entre o aumento da temperatura e o fenômeno climático intensifica a proliferação do Aedes aegypti, tornando urgente a adoção de novas tecnologias no combate ao mosquito
Entre
os dias 11 e 16 de novembro de 2024, o Governo de São Paulo realizou a
Semana Estadual de Mobilização contra as Arboviroses, uma ação
estratégica para reforçar o combate ao Aedes aegypti, mosquito
responsável pela transmissão de doenças como dengue, zika e chikungunya.
A mobilização teve como foco a conscientização da população e a
eliminação dos criadouros do mosquito, especialmente em um momento
crítico, com o aumento das chuvas e a proximidade do verão, quando há
maior risco de proliferação do vetor.
Com mais de 2 milhões de casos e 1.900 mortes confirmadas por dengue em 2024 no estado, a ação se tornou ainda mais urgente.
Além da mobilização, o Governo paulista anunciou, na ocasião,
investimentos de R$ 20 milhões para o enfrentamento das arboviroses. O
montante foi destinado à compra de adulticidas, repelentes,
medicamentos, equipamentos de nebulização e à ampliação de leitos
hospitalares, com o objetivo de dar suporte às unidades de saúde que
enfrentam o aumento dos casos. A aplicação desses recursos visou
garantir uma resposta rápida e eficaz às necessidades emergenciais de
combate à dengue e outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.
Estudo da Unicamp destaca o impacto do calor no aumento dos casos de dengue
Nesse contexto, uma pesquisa recente realizada pela Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp) trouxe uma nova perspectiva sobre o
impacto climático no controle da dengue. O estudo concluiu que o aumento
da temperatura pode ter um impacto desastroso na proliferação do Aedes aegypti..
Pesquisadores da Unicamp analisaram os números da dengue em
Campinas, cidade que vive a maior epidemia da doença já registrada, com
mais de 120 mil casos e 80 mortes em 2024. A pesquisa comparou dados
mensais de incidência de dengue, registrados pela Secretaria de Estado
de Saúde de São Paulo, e as médias de temperatura mensal, definidas pelo
Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura
(Cepagri) da Unicamp, entre janeiro de 2013 e dezembro de 2022, focando
na influência do calor e das chuvas no aumento dos casos. Embora fosse
esperado que a precipitação tivesse maior impacto na incidência da
doença, o estudo revelou que o calor foi o principal fator responsável
pelo aumento dos casos.
Os pesquisadores descobriram que um aumento de 1 grau na
temperatura média de um mês pode levar a um crescimento de até 40% nos
casos de dengue dois meses depois. A relação entre o aumento da
temperatura e o ciclo de vida mais rápido do Aedes aegypti foi
destacada, com o calor acelerando o ciclo de reprodução do mosquito,
resultando em uma maior população do vetor e, consequentemente, mais
casos da doença. O estudo também reforçou que, com o agravamento da
crise climática e os picos de temperatura, as epidemias de dengue podem
crescer ainda mais nas cidades brasileiras.
Publicada na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, a
pesquisa também alertou para o acúmulo de água parada e a circulação de
diferentes sorotipos do vírus como fatores adicionais que contribuem
para a disseminação da dengue. A metodologia desenvolvida no estudo pode
ser adaptada para outras cidades, oferecendo uma ferramenta útil para
predições sobre a doença.
Impacto do El Niño no aumento da infestação do Aedes aegypti
Outro fator que tem contribuído para a intensificação da proliferação do Aedes aegypti
é o fenômeno climático El Niño. Pesquisa recente publicada na revista
PLOS Neglected Tropical Diseases revelou que o El Niño está diretamente
associado ao aumento da infestação do mosquito transmissor de doenças
como dengue, zika e chikungunya no Estado de São Paulo. A análise de
dados de 645 municípios paulistas do período entre 2008 e 2018 mostrou
que os índices de larvas do Aedes aegypti em recipientes
descartados ao ar livre aumentam substancialmente durante os anos de El
Niño, quando as temperaturas ultrapassam os 23,3°C e as chuvas excedem
153 mm.
O estudo apontou que as regiões mais vulneráveis à proliferação do
mosquito estão, principalmente, no centro e norte do Estado de São
Paulo, e que as desigualdades sociais também desempenham um papel
importante no agravamento da infestação. Embora o estudo não tenha
analisado diretamente os casos de dengue, a relação entre o aumento da
infestação e o crescimento dos casos da doença é bem estabelecida, uma
vez que o vírus circula ativamente no Estado.
O El Niño, caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano
Pacífico e alterações nas condições atmosféricas, tem impactos globais,
incluindo chuvas excessivas e temperaturas elevadas em diversas regiões.
Este fenômeno tem se tornado mais intenso e frequente, o que torna
urgente o fortalecimento do monitoramento e do controle dos criadouros
do Aedes aegypti, em especial em períodos críticos como o
verão. Nesse cenário, soluções inovadoras, como o uso de tecnologias de
combate ao mosquito, ganham ainda mais relevância.
Soluções tecnológicas ganham força frente ao agravamento das condições climáticas
Com o aumento das temperaturas e o impacto crescente do El Niño, que favorece a proliferação do Aedes aegypti,
as soluções tradicionais de combate ao mosquito, como a eliminação de
criadouros, enfrentam desafios ainda maiores. Nesse cenário, tecnologias
inovadoras começam a se destacar como alternativas eficazes para o
controle do mosquito transmissor de doenças como a dengue, zika e
chikungunya.
Uma dessas soluções é o Aedes do Bem™, que usa mosquitos Aedes
aegypti machos autolimitantes para combaterem a própria espécie,
funcionando como um larvicida fêmea-específico e controlando as fêmeas
que picam e transmitem doenças como dengue, zika, chikungunya e febre
amarela. A solução, desenvolvida pela multinacional de biotecnologia
Oxitec, fundada na Universidade de Oxford, na Inglaterra e presente no
Brasil há mais de uma década, está em comercialização desde 2021. Ela
foi aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) em
2020.
A Oxitec desenvolveu duas versões do produto para o controle do Aedes aegypti:
o Aedes do Bem™ PRO e o Aedes do Bem™ MINI. O Aedes do Bem™ PRO vem com
uma caixa reutilizável, é voltado para o tratamento de áreas amplas e
pode ser instalado em espaços públicos. Já o Aedes do Bem™ MINI vem com
uma caixa reciclável e é destinado a residências. Ambos os modelos
contêm um suporte plástico interno e um pote com ovos dos mosquitos
Aedes do Bem™, que, ao serem ativados com água limpa, eclodem e geram
apenas mosquitos machos.
Assim que os machos atingem a fase adulta, em cerca de 10 a 14
dias, voam para o ambiente urbano, procurando ativamente e acasalando
com as fêmeas do Aedes aegypti. Deste cruzamento, apenas os
descendentes machos chegam à fase adulta, herdando dos Aedes do Bem™ a
característica larvicida fêmea-específica. O resultado é a queda do
número de fêmeas transmissoras de doenças, e, consequentemente, o
controle populacional direcionado do Aedes aegypti na área.
O Aedes do Bem™ age especificamente no controle do Aedes aegypti
e não afeta outras espécies de insetos benéficos ao meio ambiente, como
abelhas, borboletas e joaninhas; não causa nenhum dano ao meio
ambiente, às pessoas e aos animais; não é tóxico e nem alergênicos; não
se concentra ao longo da cadeia alimentar e não causa efeitos adversos
quando consumido por outros animais.
A diretora da Oxitec no Brasil, Natalia Ferreira, reconheceu a
importância da realização da Semana Estadual de Mobilização contra as
Arboviroses, destacando as ações de conscientização e eliminação de
criadouros do Aedes aegypti. No entanto, ela enfatizou que, com
o agravamento das temperaturas e o impacto do fenômeno El Niño, a
adoção de soluções tecnológicas são um complemento essencial a essas
ações. "Diante do cenário climático desafiador, é fundamental que a
população se engaje ativamente no combate ao mosquito. Além disso,
tecnologias como o Aedes do Bem™ oferecem uma alternativa eficaz e
sustentável para controlar a população do mosquito, trabalhando em
conjunto com as ações tradicionais", afirmou Natalia.
Resultados comprovados
Em Indaiatuba, no interior de São Paulo, um projeto piloto de
combate ao vetor, conduzido pela Oxitec em parceria com as autoridades
municipais, demonstrou resultados altamente positivos na supressão das
populações de mosquitos em áreas urbanas densamente povoadas. Durante
cinco anos, a aplicação da tecnologia foi supervisionada pela Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e, após a aprovação comercial
em 2020, continuou a ser implementada.
Os dados do projeto, publicados em 2022 na revista científica
Frontiers in Bioengineering and Biotechnology, indicaram uma redução de
até 96% nas populações de Aedes aegypti nas áreas tratadas, quando
comparadas a regiões não tratadas da cidade.
Em Congonhas, cidade mineira conhecida pelo alto índice de casos de
dengue, a aplicação da mesma tecnologia também produziu resultados
excepcionais. Durante um dos surtos de dengue mais severos da história
do país, Congonhas conseguiu manter o aumento controlado de casos em
apenas 299%, uma diferença de 90% em relação ao aumento explosivo
observado em cidades vizinhas, que registraram picos de até 7.000% nos
casos da doença.
Desde a implementação da tecnologia em julho de 2023, os dados de infestação do mosquito Aedes aegypti
em Congonhas, divulgados pela prefeitura da cidade, mostraram uma queda
significativa. O índice LIRAa (Levantamento Rápido de Índices para
Aedes aegypti) da cidade, medido em janeiro de 2024, registrou um valor
médio de 1,8, marcando uma melhora substancial em relação ao ano
anterior, quando o índice médio foi de 2,8. Em maio de 2024, após 10
meses de uso do Aedes do Bem™, Congonhas alcançou um marco histórico: a
inexistência de criadouros do mosquito em 1.004 imóveis vistoriados, com
índices de infestação considerados indetectáveis.
Esses resultados demonstram a capacidade do Aedes do Bem™ em
controlar de maneira eficaz o Aedes aegypti, sem causar danos ao meio
ambiente ou a outras espécies. Com os índices de infestação quase
zerados e uma redução significativa nos casos de dengue, Congonhas se
consolida como um exemplo de sucesso no uso de inovações biotecnológicas
no combate às arboviroses.
Sobre a Oxitec
A Oxitec é líder mundial em soluções sustentáveis de engenharia
biológica para as ameaças representadas pelas maiores pragas do mundo
para a saúde humana, segurança alimentar e sustentabilidade ambiental. A
primeira a comercializar soluções espécie-específicas, direcionadas e
autolimitantes, a Oxitec desenvolveu a plataforma de Tecnologia do Bem™,
que está promovendo soluções diversificadas para desafios críticos em
todo o mundo. Impulsionada por uma equipe composta por 15 nacionalidades
e com fortes parceiros, colaboradores e distribuidores em vários países
e mercados, a Oxitec está liderando a transição global para o manejo
sustentável de pragas.
Manu Vergamini
manu.vergamini@vireinoticia.com.br
(11) 98772-1162
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