BLOG ORLANDO TAMBOSI
É certa a decisão de federação da natação de regular disputas esportivas. Vilma Gryzinski para a revista Veja:
De
causa justa e humana, a luta pela aceitação e o respeito por pessoas
que têm identidades sexuais diferentes da própria biologia
transformou-se num festival de absurdos e até, incoerentemente, de
injustiças flagrantes. Uma das mais conhecidas: homens que se
identificam como mulheres trans passaram a participar de competições
esportivas com mulheres biológicas, sem alterar as vantagens masculinas
naturais em matéria de força, envergadura, ossatura e capacidade
cardíaca e pulmonar. O caso mais conhecido é o de Lia Thomas, que antes
de se declarar mulher competia no time masculino de natação da
Universidade da Pensilvânia. Apesar dos quase 2 metros de altura e dos
ombros poderosos, não se destacava. Quando passou a disputar com
mulheres biológicas, virou uma campeã. Uma comparação: o prodigioso
Michael Phelps ganhou a medalha de ouro — mais uma, na maior coleção do
mundo — nos 200 metros estilo borboleta no Rio, ao vencer Masato Sakai
por uma fração de segundos de 0,04. Numa competição universitária de
nado livre, Lia Thomas bateu a segunda colocada por 38 segundos.
Thomas
não praticou nenhuma malandragem. Foi a federação americana de natação
que estabeleceu, como único parâmetro competitivo para mulheres trans, a
redução da contagem de testosterona. É uma decisão espetacularmente
injusta, tanto que a Federação Internacional de Natação agora proibiu a
participação de mulheres trans em competições femininas caso não tenham
feito tratamento hormonal para diminuir as características masculinas
antes de entrar na puberdade.
A
vitimização de mulheres em nome de uma visão distorcida e autoritária
da causa trans vai além das competições esportivas. A própria palavra
“mulher” vem sendo progressivamente eliminada, a pretexto de não
discriminar mulheres biológicas que se tornam homens trans. Na Escócia,
um doador de sangue de 66 anos ficou revoltado ao ser submetido a uma
pergunta absurda: se era gestante. A pergunta é obrigatória no serviço
público de saúde para doadores ou pacientes que fazem exames de imagem
que exigem proteção adicional em caso de gravidez. Como homens trans com
o aparelho reprodutivo feminino intacto podem engravidar, a pergunta se
tornou obrigatória para todos.
Muito
pior do que a linguagem que trata o público como idiota é o incentivo à
transição a jato para crianças e adolescentes que mostram algum sinal
de disforia de gênero. Tratamentos hormonais e cirurgias radicais como a
mastectomia dupla e a ablação dos testículos viraram terapia-padrão.
Seres
humanos são naturalmente complicados e a reação a intervenções dessa
magnitude, que abrangem desde o prazer sexual até a capacidade
reprodutiva, pode ir do contentamento ao profundo arrependimento. “O
Juramento de Hipócrates foi substituído por uma falácia: a crença
segundo a qual, ao bloquearmos a puberdade de crianças e depois
alterá-las cirurgicamente, estamos restaurando o que é delas por
direito”, condenou o psicólogo canadense Jordan Peterson. “Que alguém
que se declare médico faça isso com crianças me parece ser algo digno de
pena de cadeia.” Peterson é um provocador profissional e passa por cima
das complexidades envolvidas, mas os abusos e até o puro modismo estão
ficando cada vez mais evidentes. Pode ser coincidência que a filha de
Jennifer Lopez e um filho de Elon Musk tenham aparecido na mesma semana
com identidades de gênero diferentes?
Publicado em VEJA de 29 de junho de 2022, edição nº 2795
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