terça-feira, 28 de junho de 2022

Mulheres e trans nos esportes: cada qual na sua raia.

 

BLOG  ORLANDO  TAMBOSI


É certa a decisão de federação da natação de regular disputas esportivas. Vilma Gryzinski para a revista Veja:


De causa justa e humana, a luta pela aceitação e o respeito por pessoas que têm identidades sexuais diferentes da própria biologia transformou-se num festival de absurdos e até, incoerentemente, de injustiças flagrantes. Uma das mais conhecidas: homens que se identificam como mulheres trans passaram a participar de competições esportivas com mulheres biológicas, sem alterar as vantagens masculinas naturais em matéria de força, envergadura, ossatura e capacidade cardíaca e pulmonar. O caso mais conhecido é o de Lia Thomas, que antes de se declarar mulher competia no time masculino de natação da Universidade da Pensilvânia. Apesar dos quase 2 metros de altura e dos ombros poderosos, não se destacava. Quando passou a disputar com mulheres biológicas, virou uma campeã. Uma comparação: o prodigioso Michael Phelps ganhou a medalha de ouro — mais uma, na maior coleção do mundo — nos 200 metros estilo borboleta no Rio, ao vencer Masato Sakai por uma fração de segundos de 0,04. Numa competição universitária de nado livre, Lia Thomas bateu a segunda colocada por 38 segundos.

Thomas não praticou nenhuma malandragem. Foi a federação americana de natação que estabeleceu, como único parâmetro competitivo para mulheres trans, a redução da contagem de testosterona. É uma decisão espetacularmente injusta, tanto que a Federação Internacional de Natação agora proibiu a participação de mulheres trans em competições femininas caso não tenham feito tratamento hormonal para diminuir as características masculinas antes de entrar na puberdade.

A vitimização de mulheres em nome de uma visão distorcida e autoritária da causa trans vai além das competições esportivas. A própria palavra “mulher” vem sendo progressivamente eliminada, a pretexto de não discriminar mulheres biológicas que se tornam homens trans. Na Escócia, um doador de sangue de 66 anos ficou revoltado ao ser submetido a uma pergunta absurda: se era gestante. A pergunta é obrigatória no serviço público de saúde para doadores ou pacientes que fazem exames de imagem que exigem proteção adicional em caso de gravidez. Como homens trans com o aparelho reprodutivo feminino intacto podem engravidar, a pergunta se tornou obrigatória para todos.

Muito pior do que a linguagem que trata o público como idiota é o incentivo à transição a jato para crianças e adolescentes que mostram algum sinal de disforia de gênero. Tratamentos hormonais e cirurgias radicais como a mastectomia dupla e a ablação dos testículos viraram terapia-padrão.

Seres humanos são naturalmente complicados e a reação a intervenções dessa magnitude, que abrangem desde o prazer sexual até a capacidade reprodutiva, pode ir do contentamento ao profundo arrependimento. “O Juramento de Hipócrates foi substituído por uma falácia: a crença segundo a qual, ao bloquearmos a puberdade de crianças e depois alterá-las cirurgicamente, estamos restaurando o que é delas por direito”, condenou o psicólogo canadense Jordan Peterson. “Que alguém que se declare médico faça isso com crianças me parece ser algo digno de pena de cadeia.” Peterson é um provocador profissional e passa por cima das complexidades envolvidas, mas os abusos e até o puro modismo estão ficando cada vez mais evidentes. Pode ser coincidência que a filha de Jennifer Lopez e um filho de Elon Musk tenham aparecido na mesma semana com identidades de gênero diferentes?

Publicado em VEJA de 29 de junho de 2022, edição nº 2795

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