Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais de domingo, 21 de novembro:
Bolsonaro
prometeu dar aumento a todo o funcionalismo federal: com a tal emenda
que dá um chega pra lá nos precatórios, sobra no Orçamento algum
dinheiro. Um quarto, talvez um terço, paga a ajuda do Auxílio Brasil; e a
maior parte será dividida entre verbas para os parlamentares amigos da
casa e o funcionalismo. Jogar para algum dia no futuro dívidas que a
Justiça já mandou pagar talvez seja ilegal, mas isso não preocupa o
presidente: ele já informou ao funcionalismo que quer dar o aumento. Se
não conseguir, tem em quem jogar a culpa: ou nos parlamentares de
oposição ou no Supremo. E passará aos servidores a ideia de que os
inimigos do presidente são também inimigos da categoria.
Parece
brilhante: ou Bolsonaro consegue dar o aumento e ganha adeptos no
funcionalismo ou não consegue e faz com que ministros do Supremo e
parlamentares percam prestígio. Uma política de longo alcance: se algum
adversário do presidente ganhar a eleição, terá muito mais dificuldades
para governar, precisando pagar as dívidas passadas.
É
um bom jogo para melhorar as chances de Bolsonaro. Ele não pode ficar
sem cargo eletivo que lhe garanta foro privilegiado e outras vantagens.
Sem cargo, logo verá que os antigos aliados lhe darão o mesmo tratamento
que deu a seus seguidores que caíram em desgraça.
Mas,
como ensinava Tancredo Neves, quando a esperteza é muita ela engole o
esperto. E se Bolsonaro, que criou as dificuldades para seu sucessor,
ganhar a eleição?
O sentido das palavras
Bolsonaro,
que precisa de uma legenda para disputar eleições, brigou há dias com
Valdemar Costa Neto, cacique do PL, partido que se ofereceu para abrigar
o presidente. Mas em política o eterno pode durar pouco. Valdemar Costa
Neto reuniu o PL e recebeu dos caciques estaduais uma carta branca para
atrair Bolsonaro. OK, vamos imaginar que o cacique maior precise do
voto dos caciques menores para fazer o que quiser. Imaginemos, também,
que as promessas sejam cumpridas. Mas sempre será importante saber o
que, de fato, foi prometido.
“Carta branca”, por exemplo, é o que foi oferecido por Bolsonaro para os ministros Sergio Moro e Paulo Guedes.
Quer dizer...
Bolsonaro
não quer que o PL apoie, em São Paulo, o candidato de Doria ao governo.
Mas 40 prefeitos do partido já fecharam com ele. Bolsonaro não quer que
o PL apoie candidatos do PT. Mas será difícil romper o elo entre o PL e
o PT no Piauí. Na Bahia, o PL fecha com ACM Neto, cacique supremo do
DEM. No Pará, o PL fecha com o MDB do governador Helder Barbalho, numa
aliança que já fez sete anos e traz bons resultados ao partido. Barbalho
não gosta de Bolsonaro, Bolsonaro não gosta de Helder, mas o PL não
leva nenhuma vantagem em romper com o governador. Em Pernambuco, o nome
favorito de Bolsonaro é o de Gilson Machado, ministro do Turismo nas
horas vagas, que destina boa parte do tempo a assassinar boas músicas na
sanfona.
Em
São Paulo, Bolsonaro quer o ministro Tarcísio de Freitas como candidato
ao Governo (mas quem irá ensinar-lhe a diferença entre o Palácio dos
Bandeirantes, a Rodovia dos Bandeirantes e a Ponte das Bandeiras?) O PL
até tem boa vontade, mas a boa vontade não se estende a perder o que já
tem.
O bom negócio
Quando
Valdemar Costa Neto diz que um bom acordo é aquele que é bom para os
dois, isso significa que tem de ser bom para o PL e para ele.
Bezerrão macaqueado
Luciano
Hang, o véio da Havan, lançou moda: como ele, que plantou em suas lojas
umas cópias terríveis da Estátua da Liberdade, a Bolsa de Valores (B3)
colocou numa das ruas mais antigas de São Paulo a estátua de um touro,
macaqueando o bicho (símbolo dos investidores que se esforçam para
elevar o valor das ações) exposto em Wall Street, Nova York.
Mas
o touro lembra mesmo o Bezerro de Ouro citado na Bíblia, cujos
adoradores o Senhor condenou à morte. A diferença é que o da Bíblia era
de ouro mesmo e dispensava maquiagem em cima de metal mais barato para
parecer valioso.
Novo ninho
O
general Santos Cruz, aquele que era amigo de Bolsonaro há mais de 40
anos e foi seu poderoso ministro até que Carluxo, o filho 02, implicou
com ele, prepara sua entrada no Podemos – o mesmo partido de Sergio
Moro, que foi superministro de Bolsonaro até que, sentindo-se
descartado, pediu para sair. Santos Cruz deve ser candidato a algum
cargo no Rio ou em Brasília.
Se
ficar no Rio, o Podemos gostaria de vê-lo candidato a governador. Pelo
jeito, o Podemos se transforma aos poucos no partido dos mais poderosos
ex-amigos de Bolsonaro. Devem estar esperando a chegada de Paulo Guedes.
Pastore, sem jogadas
Affonso Celso Pastore, professor, ex-presidente do Banco Central, é o chefe da equipe econômica que assessora Sérgio Moro.
Mas Pastore não é Guedes: se o Governo fizer bobagem, sai na hora e diz por que saiu.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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