Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais deste domingo:
Perdão
não é a palavra juridicamente correta. Mas, na prática, os processos
contra Lula, 76 anos de idade, têm de voltar ao começo, para um dia
desses, quem sabe, chegar a uma conclusão. Até o neto dos atuais juízes
proferir a sentença, Lula é ficha limpa – tão limpa quanto a de Flávio
Bolsonaro, cujo processo sobre rachadinhas ficou para lá, ou a do
presidente da República, que não enfrentará ação por usar métodos
irregulares na campanha porque as próximas eleições estão logo aí, mas
nas quais a Justiça promete punir quem cometer irregularidades que já
estavam fora da lei quando ele foi eleito.
Aliás,
os dois candidatos ficha-limpa já se enfrentaram neste ano, na disputa
pelo apoio de Valdemar Costa Neto, que foi condenado pelo Mensalão e
passou algum tempo na prisão por isso. Costa Neto apoiou Lula e Dilma,
agora apoia Bolsonaro; e, no livre exercício de seu comando sobre um
partido, enfrentou Ciro Nogueira, do PP, aquele que chamava Bolsonaro de
fascista e hoje é homem forte de seu Governo, ambos abrindo as portas
de suas legendas para filiar o presidente. Segundo Bolsonaro, Valdemar
tem 99% de chances de ter ganho a disputa contra Ciro. Mas, se não me
falha a memória, em qualquer dos casos Bolsonaro controlará a sigla, mas
sem acesso aos fundos de campanha. Ciro e Valdemar podem não ser os
políticos ideais, mas burros é que não são. Seus cofres não têm porta de
saída.
Dúvida: nessas negociações todas, quem é que busca cem anos de perdão?
Memorex nele
Aí
entra Sergio Moro na disputa. Em sua primeira grande entrevista após
ter entrado num partido político, que anuncia sua candidatura à
Presidência, Moro revela um sério problema de memória: ele sempre disse
que não era nem seria político, sempre disse que seu objetivo não era
ser presidente. Bom, já há algum tempo virou político, ao aceitar o
convite de Bolsonaro para ser ministro da Justiça. E, na entrevista à
Folha de S.Paulo, disse que seu projeto de país já existia há tempos,
aguardando “o momento certo”. Falha de memória: se ele não queria ser
político nem presidente, para que criou um projeto de país?
E que “momento certo” era esse que aguardava?
Marechal de toga
Um
dos pontos mais importantes da entrevista de Moro passou batido. Só um
colunista, Reinaldo Azevedo, parece ter percebido o quanto é ditatorial.
Moro se propõe a criar, sem demora, uma Corte Nacional Anticorrupção,
espécie de Lava Jato acima do Poder Judiciário.
Talvez
Moro não tenha percebido que esse mecanismo já existiu durante a
ditadura militar. Era a Comissão Geral de Investigações, CGI, sob o
comando do marechal Estevão Taurino de Resende Neto (e, depois dele, do
almirante de Esquadra Paulo Bosísio, que mais tarde seria ministro da
Marinha). Funcionou? Depende: o ex-governador Leonel Brizola, adversário
do regime, foi investigado. Já as acusações contra Antônio Carlos
Magalhães e José Sarney foram esquecidas. Eram aliados. A CGI, com poder
ilimitado, teve resultados pífios. Crime não se combate com tribunal de
exceção, mas com trabalho diário. O problema é que trabalhar não rende
fotos, nem viagens, ou diárias. Trabalhar dá trabalho.
Presitour
Bolsonaro
deve embarcar nesta semana para o Oriente Médio. Participa da
ExpoDubai, da inauguração da embaixada em Manama, capital do Bahrein, e
passa pelo Qatar. A parte importante da viagem foi cancelada: a ida ao
Iraque, para discutir compras de petróleo. O cancelamento foi motivado
por questões de segurança: no dia 6, houve um atentado contra o
primeiro-ministro iraquiano Mustafá al-Khadimi (que nada sofreu).
Dúvida 1
Comprar petróleo? E a autossuficiência anunciada desde o Governo Lula?
Dúvida 2
Já
que estará no Oriente Médio, como anda a transferência da Embaixada do
Brasil em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém? É promessa de campanha.
Prioridades
A
viagem de Bolsonaro é também um presente para seu superministro Paulo
Guedes, que deve acompanhá-lo. Guedes já enviou ofício à Câmara
informando que, por estar em viagem com o presidente, não poderá depor
no dia marcado, depois de amanhã, sobre sua off-shore – empresa montada
num paraíso fiscal, as Ilhas Virgens. Mas o superministro ganhou apenas
algum tempo: seu depoimento foi remarcado para o dia 23.
Tempos de ódio
O
colunista Gustavo Alonso, da Folha, disse que Marilia Mendonça vivia em
luta com a balança, mas fazia um regime radical e perdia peso. Um
manifesto com 908 assinaturas diz que há gordofobia e machismo e exige
desculpas do jornal e demissão do colunista.
Dá para aguentar?
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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