Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais desta quarta-feira:
O
presidente Bolsonaro é candidato à reeleição. Mas, faltando trezentos e
poucos dias para a eleição, não tem partido. Faltam cinco meses para o
prazo final de filiação – e, embora leve votos ao partido a que se
filiar, isso não fica de graça, não. O presidente saiu do PSL porque
Luciano Bivar, o cacique do partido, lhe negou o controle do Fundo
Partidário e das milionárias verbas de campanha. Tentou formar um
partido e fracassou.
Há
profissionais nessa área, mas não são baratos – e hoje não há mais
tempo. Tentou o PL, achando que Valdemar Costa Neto seria flexível. E é –
mas quem manda no partido e em seus cofres é ele. Bolsonaro queria que
seu filho Eduardo “Bananinha”, assim apelidado pelo vice Hamilton
Mourão, tivesse o controle de São Paulo. Brigaram aos palavrões (o que
não quer dizer que um acordo seja impossível. É possível, mas vai custar
mais caro). Há outros partidos, mas em todos há problemas: fortes alas
antibolsonaristas ou bons candidatos que não querem bolsonaristas por
perto. Sem partido, Bolsonaro fica fora do jogo.
Lula,
hoje seu maior adversário, conversou com Alckmin para vice. Difícil:
Alckmin é candidato forte ao Governo paulista e quer se vingar de Doria,
derrotando seu candidato. Deve entrar no PSD, e Gilberto Kassab não
parece disposto a apoiar Bolsonaro. Chapa com dois paulistas (Lula
nasceu no Nordeste, mas politicamente é de São Paulo) fica difícil. Lula
prefere um empresário de vice. Já deu certo uma vez. Por que não
repetir a fórmula?
Jogo sério
Gilberto
Kassab não brinca: é hábil, raciocina friamente, sabe para onde sopram
os ventos. Ele vê os sinais de fraqueza de Bolsonaro: ser rejeitado por
Valdemar Costa Neto é um deles. Outro é ver o presidente ser atacado por
um de seus partidários mais obedientes, o ex-chanceler Ernesto Araújo
(aquele que se orgulhava, como Bolsonaro, do isolamento internacional do
Brasil).
Pior
ainda, Araújo é seguidor, como os filhos 02 e 03 do presidente, do
escritor Olavo de Carvalho, o pai do “bolsonarismo ideológico”. Araújo
ousou criticar o Mito: rejeitou a aproximação entre Bolsonaro e o
Centrão. “Surgiu aquela coisa, ‘precisamos fazer do Centrão a base do
Governo’. O que a gente viu é que o Governo virou a base do Centrão”. Se
até Araújo o critica, imagine os que não são tão fiéis! Kassab está
fora. E, se ele acha que é possível levar Rodrigo Pacheco ao segundo
turno, é bom prestar atenção.
O famoso “quem”?
Tarcísio
de Freitas, que foi alto funcionário do Governo Dilma e é hoje o
ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, pensa em ser candidato a algo
em São Paulo – senador ou governador. OK, não tem partido, não mora em
São Paulo e precisará aprender onde fica a avenida Paulista, mas sonha
com isso. Em Dubai, onde está com o presidente, falou como candidato:
garantiu que o Brasil investirá R$ 1 trilhão em infraestrutura até 2022,
transformando-se num país moderno, eficiente e rico. Talvez não tenha
se lembrado de que o ministro Paulo Guedes tinha prometido arrecadar R$ 1
trilhão no primeiro ano do Governo, só com as privatizações. Mas
lembrou o título de um livro histórico do escritor austríaco Stefan
Zweig, Brasil, País do Futuro, e disse que “nós teremos aquilo que
merecemos ser: o país do futuro”.
Poucos meses depois de publicar o livro, Stefan Zweig se suicidou.
Amaciando arestas
As
prévias para escolher o candidato do PSDB à Presidência provocaram
choques entre os três candidatos, Arthur Virgílio, Eduardo Leite e João
Doria. Mas, ainda antes da escolha, os principais candidatos, Leite e
Doria, já buscam acertar suas diferenças. Trocaram bilhetes amistosos,
marcaram conversas, buscando basicamente evitar que o candidato
derrotado apoie um adversário ou simplesmente cruze os braços e se
esqueça de participar da campanha. Uma ou outra rachadura existirá no
partido (por exemplo, Aécio Neves não fará campanha por Doria, que por
sua vez insiste em expulsá-lo do PSDB). Mas os dois principais
candidatos tentam mesmo a união.
O voto do patrono
O
ex-presidente Fernando Henrique se cadastrou ontem no aplicativo do
PSDB para as prévias – era o último dia do prazo. E poderá votar nas
prévias, no domingo. Fernando Henrique já declarou que vai votar em João
Doria.
Metade do dobro
No
dia 26 de novembro ocorre a maior liquidação do país, a Black Friday.
Pelo menos é o que dizem. Mas os anúncios consultados por este colunista
não autorizam esta previsão. Na última coluna, já citei um produto cujo
preço é de R$ 64 e cai para R$ 62. A respeitada revista econômica
InfoMoney publicou, sob o título “‘Black Fraude’ – Pouco antes da Black
Friday, preços de produtos sobem até 70%, indica Ibevar” (Ibevar é o
Instituto Brasileiro de Estudos do Varejo).
Informa a CNN: “Foi Black Fraude? Cerca de 35% das promoções da data não teve desconto real”.
Cuidado! E boas compras!
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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