O
ritmo desacelerado de desmatamento registrado em três municípios que
estão sob influência da BR-319, em comparação com o ano passado, não
pode motivar a “baixa da guarda” em ações preventivas e de combate à
degradação ambiental na região. É o que aponta o levantamento feito pelo
Observatório BR-319 (OBR-319), no Informativo publicado no mês de
julho.
De
acordo com a publicação, os municípios de Canutama, Manicoré e Porto
Velho apresentaram queda de 23%, 54% e 37%, respectivamente, no
comparativo com junho de 2020.
No
entanto, nos outros 10 municípios que estão sob a influência da
rodovia, houve aumento considerável nos índices de desmatamento. São
eles: Autazes (423%), Careiro da Várzea (202%), Manaquiri (199%),
Careiro (152%), Manaus (111%), Beruri (87%), Tapauá (80%), Lábrea (28%),
Humaitá (25%) e Borba (7%).
“A
ligeira queda apresentada para os municípios da BR-319 se deu devido à
redução em três municípios que geralmente estão no topo do ranking
de desmatamento da região”, explica a bióloga Paula Guarido, uma das
responsáveis pelo monitoramento de queimadas e desmatamento do OBR-319.
“Apesar disso, outros 10 municípios apresentaram aumento e, dentre eles,
sete bateram recorde para o mês [junho] dos últimos 12 anos. Estamos
entrando no período de seca, que apresenta historicamente os mais altos
índices de desmatamento na região. É urgente que medidas eficazes de
combate ao desmatamento e focos de calor sejam implementadas nesse
território”, acrescenta.
Ainda
segundo o Informativo BR-319, feito com base nos dados divulgados pelo
Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), 10 Unidades de
Conservação (UCs) e 15 Terras Indígenas (TIs), localizadas na região da
BR-319, apresentaram desmatamento em junho de 2021. O destaque vai para
as TIs e UCs que apareceram no ranking
das mais desmatadas entre todas da Amazônia Legal: Floresta Nacional do
Bom Futuro, 8º lugar entre as UCs; TI Jauary e TI Karipuna, 6º e 7º
lugar entre as TIs, respectivamente.
Período seco
Pelo
quinto mês seguido foi registrado aumento de desmatamento na região da
Amazônia Legal, que abrange os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato
Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, além de parte do Maranhão.
Esse
dado acende um alerta, segundo especialistas, pois o período mais seco
do ano na região, que compreende os meses de agosto a novembro, está se
aproximando. A época apresenta uma combinação perigosa entre pouca chuva
e forte incidência de radiação solar, que resulta em superaquecimento
do solo e cria as condições ideais para o aumento e propagação de focos
de calor e desmatamento.
“A
estação seca amazônica, que compreende os meses de agosto a novembro, é
um período crítico de desmatamento e queimadas na região. Esses dois
fenômenos vêm sendo cada vez mais relacionados, onde em muitos casos, a
madeira derrubada advinda de desmatamento é posteriormente queimada para
‘limpeza’ da área de forma rápida e barata”, esclarece Guarido. “Além
disso, em anos com altas taxas de desmatamento, como 2019 e 2020, há o
acúmulo de material vegetal seco, que funciona como material inflamável
facilitando a propagação do fogo. Os valores dos últimos meses indicam
que se ações efetivas não forem implementadas, novos recordes de
desmatamento e focos de calor serão batidos nos próximos meses.”
BR-319
A
região da BR-319, no Amazonas, é uma das áreas mais preservadas da
floresta amazônica. No entanto, sofre com o avanço da fronteira de
desmatamento, que vem se expandindo de forma rápida e intensa em sua
direção pelo sul do estado. Com o desmonte sistemático dos órgãos de
comando e controle e a falta de investimento em políticas públicas, a
pavimentação da BR-319 pode intensificar o potencial de dano dos
principais vetores de degradação ambiental na região.
Inaugurada
em 1976, a rodovia possui 885,9 quilômetros de extensão e é a única
ligação terrestre do Amazonas com as demais regiões do Brasil. A
recuperação do asfaltamento da estrada, se realizada sem a devida
governança socioambiental, planejamento e contenção de danos, colocará
em risco uma das áreas mais biodiversas e conservadas da Amazônia.
Com
objetivo de fortalecer a governança local e garantir transparência às
ações desenvolvidas na região, o Observatório BR-319 realiza um trabalho
de monitoramento, além de desenvolver, reunir e disseminar informações e
pesquisas realizadas na área de influência da rodovia para qualificar o
debate sobre os benefícios e os impactos das obras.
O
coletivo é formado pelo Conselho Nacional das Populações Extrativistas
(CNS), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira
(Coiab), Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Fundação Vitória Amazônica
(FVA), Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da
Amazônia (Idesam), Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB),
WCS-Brasil, WWF-Brasil e Transparência Internacional Brasil.
Sugestão de legenda para as fotos
"Incêndio
em área de mata foi registrado no município de Lábrea (AM) na última
sexta-feira (03/08). Queimadas estão se tornando recorrentes nesta época
do ano na Amazônia."
Créditos
Foto: José Rodrigues/Cedida
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