As purgações políticas e criminais não mudaram a natureza do ex-presidente. Editorial do Estadão:
O
ex-presidente Lula da Silva começou a viajar pelo Brasil para se
reapresentar aos eleitores e construir alianças políticas com vistas à
campanha eleitoral de 2022. Neste giro de conversas, entrevistas e
negociações, não é difícil para Lula parecer um estadista digno de ser
eternizado em bronze quando seu principal adversário, até o momento, é
Jair Bolsonaro, o mais inepto, irresponsável e inconsequente dos
presidentes que governaram a Nação ao longo destes quase 132 anos de
história republicana.
O
busílis é que a perspectiva de um Lula estadista, ou mesmo genuinamente
democrata, não passa de licença poética que serve apenas para acalmar
corações incautos, talvez por estarem tão exaustos do desabrido
desrespeito de Bolsonaro aos mandamentos mais comezinhos de uma vida
civilizada que qualquer um que demonstre viabilidade eleitoral e não
expila ódio pelas ventas dia sim e outro também passe a ser visto como
uma boa alternativa para liderar o País. Não é com este espírito que se
escolhe um bom presidente da República.
A
turnê pré-eleitoral de Lula da Silva tem trazido à tona a sua velha
natureza, autoritária e personalista, da qual é muito difícil escapar,
por mais que tente. Ao que parece, as purgações políticas e criminais
pelas quais Lula passou nos últimos anos não mudaram para melhor a sua
essência. Ao contrário, podem ter feito surgir no ex-presidente um
desejo inconfessável de vingança contra tudo e contra todos que lhe
causaram dissabores. O jornalismo independente é tido por Lula como um
destes percalços.
Na
recente passagem pela Região Nordeste, em duas ocasiões o ex-presidente
voltou a falar em “regulação da mídia”, eufemismo para censura e
intervenções em veículos de comunicação que ousem publicar aquilo que o
demiurgo de Garanhuns quer manter ao abrigo da luz. Em discurso no Rio
Grande do Norte, no dia 25 passado, Lula alçou a tal “regulação da
mídia” ao topo de suas prioridades caso seja eleito para um novo
mandato. No dia seguinte, em entrevista à Rádio Metrópole, da Bahia,
Lula mentiu ao afirmar que “não sabe se será candidato à Presidência”,
mas, caso seja e vença a eleição, reafirmou o compromisso de levar
adiante o acalentado plano de cercear a liberdade de imprensa. A razão
para isto é bastante reveladora de seu desapreço pela democracia. “Estou
ouvindo muito desaforo. Leio muito a imprensa. Tem alguns setores da
imprensa que não querem que eu seja candidato, porque, se eu for eleito,
vou regular os meios de comunicação deste país”, disse Lula. “Vi como a
imprensa destruía o (Hugo) Chávez na Venezuela”, concluiu. Outra
mentira: o chavismo está sólido e a imprensa venezuelana virou fumaça.
A
simpatia pelo falecido ditador venezuelano é mais um elo da corrente do
atraso que liga Lula da Silva e Jair Bolsonaro. Não se trata de
equiparar os desmandos de um e de outro – cada um pernicioso à sua
maneira. Entretanto, é inegável que ambos não reúnem as credenciais
morais, políticas e administrativas para governar o Brasil e dar cabo de
suas renitentes mazelas.
Não
é trivial o desafio posto diante dos democratas que querem ver o Brasil
livre das amarras do populismo iliberal. Lula e Bolsonaro, os dois
pré-candidatos à Presidência mais bem colocados nas pesquisas de
intenção de voto atualmente, são a quintessência do populismo que
ampliou a distância que separa o Brasil de seu futuro auspicioso.
O
Brasil não merece ser governado por qualquer um a partir de 2023, nem
tampouco por alguém “menos pior” do que Bolsonaro. O País precisa de uma
liderança proba, competente, liberal, humana, sensível às necessidades
mais prementes da população e antenada com os desafios globais de um
mundo em vertiginosa transformação.
Felizmente,
as pesquisas de intenção de voto indicam que é enorme o contingente de
brasileiros que também anseiam por esta candidatura entre as duas
margens do abismo. As forças vivas da Nação devem o quanto antes
construir, juntas, este projeto de salvação nacional.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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