Signatários defendem que Brasil ‘não pode se apresentar como uma sociedade permanentemente em crises intermináveis ou em risco de retrocesso ou rupturas institucionais’. Reportagem publicada pelo Estadão:
Após o recuo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp),
entidades do agronegócio brasileiro divulgaram um manifesto nesta
segunda-feira, 30, em que pedem “liberdade para empreender, gerar,
compartilhar riqueza, contratar e comercializar, no Brasil e no
exterior”, além de defenderem o estado democrático de direito. “É o
estado democrático de direito que nos assegura essa liberdade
empreendedora essencial numa economia capitalista”, reforça o texto, no
qual o setor agroindustrial defende a democracia – leia a íntegra
abaixo.
O texto das entidades do agronegócio foi divulgado após a Fiesp decidir adiar a publicação de um manifesto que pediria a pacificação entre os três Poderes, em um movimento que teve a participação do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), aliado do presidente Jair Bolsonaro.
Segundo a Fiesp, em nota divulgada nesta tarde, o adiamento atende ao
interesse de dezenas de entidades que manifestaram apoio à causa.
Manifestações neste sentido estão sendo produzidas às vésperas do 7 de
Setembro, que terá atos convocados por Bolsonaro e seus apoiadores.
“Diante
da decisão da Fiesp, essas entidades acharam melhor se manifestarem de
forma conjunta e independente”, diz Marcello Brito, da presidente da
Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). “Entendemos que se
manifestar faz parte do espírito republicano.”
O
documento é assinado por várias entidades representativas do
agronegócio brasileiro, entre elas, Associação Brasileira do Agronegócio
(Abag), Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais
(Abiove), Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição
Vegetal (Abisolo), Associação Brasileira de Produtores de Óleo de Palma
(Abrapalma), Croplife Brasil (que representa empresas de defensivos
químicos, biológicos, mudas, sementes e biotecnologia), Indústria
Brasileira de Árvores (Ibá) e Sindicato Nacional da Indústria de
Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg).
O
texto, que não cita o presidente Jair Bolsonaro, afirma que as amplas
cadeias produtivas e setores econômicos representados por essas
entidades precisam de estabilidade, segurança jurídica e harmonia para
poder trabalhar. Segundo as entidades, a liberdade empreendedora de que
precisam é o inverso de aventuras radicais, greves e paralisações
ilegais. “De qualquer politização ou partidarização nociva que, longe de
resolver nossos problemas, certamente os agravará”, afirmam as
entidades.
As
entidades dizem que estão preocupadas com os atuais desafios à harmonia
político-institucional e à estabilidade econômica e social do País. “Em
nome de nossos setores, cumprimos o dever de nos juntar a muitas outras
vozes, num chamamento a que nossas lideranças se mostrem à altura do
Brasil e de sua história”, afirmam.
O
texto lembra que, sob a Constituição Federal de 1988, a sociedade
escolheu viver e construir o País por meio do Estado Democrático de
Direito. “Mais de três décadas de trajetória democrática, não sem
percalços ou frustrações, porém também repleta de conquistas e avanços
dos quais podemos nos orgulhar. Mais de três décadas de liberdade e
pluralismo, com alternância de poder em eleições legítimas e
frequentes”, citam as entidades.
Segundo
elas, o desenvolvimento econômico e social do País, para ser efetivo e
sustentável, requer paz e tranquilidade, reconhecendo as minorias, a
diversidade e o confronto respeitoso de ideias. “Acima de tudo, uma
sociedade que não mais tolere a miséria e a desigualdade, que tanto nos
envergonham.”
O
manifesto também aponta que o Brasil, sendo uma das maiores economias
do mundo, não pode se apresentar à comunidade das Nações como uma
sociedade permanentemente tensionada em crises intermináveis ou em risco
de retrocesso ou rupturas institucionais. “O Brasil é muito maior e
melhor do que a imagem que temos projetado ao mundo. Isto está nos
custando caro e levará tempo para reverter”, alertam as entidades.
As
entidades apontam também que a moderna agroindústria brasileira é
reconhecida mundo afora como resultado de inovação e sustentabilidade.
“Somos força do progresso, do avanço, da estabilidade indispensável e
não de crises evitáveis”, pontuam. Por fim, dizem que o setor continuará
contribuindo para o futuro e a prosperidade do País.
Lira telefonou para Skaf, da Fiesp
A
Fiesp afirmou que prorrogou o prazo para que entidades possam
subscrever o manifesto “Em favor do entendimento e da harmonia entre os
Três Poderes da República”. Segundo a Fiesp, o adiamento atende ao
interesse de dezenas de entidades que manifestaram apoio à causa.
“Em
24 horas, recebemos mais de 200 adesões, das mais representativas
entidades brasileiras. Dezenas de outras entidades também manifestaram
interesse em participar. Em função desse cenário, informamos que
estendemos o prazo para novas adesões, que poderão ser feitas ao longo
da semana”, comunicou a Fiesp em nota.
O
adiamento coincide com a atuação Lira para atenuar o dano que um
documento cobrando parcimônia dos chefes de Poderes, em especial do
presidente Jair Bolsonaro, poderia ter neste momento, véspera das
manifestações favoráveis ao governo previstas para o próximo dia 7 de
setembro.
Neste
fim de semana, antes do anúncio de adiamento do documento, Lira
conversou por telefone com o presidente da Fiesp, Paulo Skaf. Desde a
divulgação das intenções da Fiesp, Skaf, que até então era considerado
um aliado, passou a ser visto com desconfiança por pessoas do entorno do
presidente.
Leia a íntegra o manifesto das entidades do agronegício
As
entidades associativas abaixo assinadas tornam pública sua preocupação
com os atuais desafios à harmonia político-institucional e, como
consequência, à estabilidade econômica e social em nosso País. Somos
responsáveis pela geração de milhões de empregos, por forte participação
na balança comercial e como base arrecadatória expressiva de tributos
públicos. Assim, em nome de nossos setores, cumprimos o dever de nos
juntar a muitas outras vozes responsáveis, em chamamento a que nossas
lideranças se mostrem à altura do Brasil e de sua história agora prestes
a celebrar o bicentenário da Independência.
A
Constituição de 1988 definiu o Estado Democrático de Direito no âmbito
do qual escolhemos viver e construir o Brasil com que sonhamos. Mais de
três décadas de trajetória democrática, não sem percalços ou
frustrações, porém também pela repleta de conquistas e avanços dos quais
podemos nos orgulhar. Mais de três décadas de liberdade e pluralismo,
com alternância de poder em eleições legítimas e frequentes.
O
desenvolvimento econômico e social do Brasil, para ser efetivo e
sustentável, requer paz e tranquilidade, condições indispensáveis para
seguir avançando na caminhada civilizatória de uma nacionalidade
fraterna e solidária, que reconhece a maioria sem ignorar as minorias,
que acolhe e fomenta a diversidade, que viceja no confronto respeitoso
entre ideias que se antepõem, sem qualquer tipo de violência entre
pessoas ou grupos. Acima de tudo, uma sociedade que não mais tolere a
miséria e a desigualdade que tanto nos envergonham.
As
amplas cadeias produtivas e setores econômicos que representamos
precisam de estabilidade, de segurança jurídica, de harmonia, enfim,
para poder trabalhar. Em uma palavra, é de liberdade que precisamos -
para empreender, gerar e compartilhar riqueza, para contratar e
comercializar, no Brasil e no exterior. É o Estado Democrático de
Direito que nos assegura essa liberdade empreendedora essencial numa
economia capitalista, o que é o inverso de aventuras radicais, greves e
paralisações ilegais, de qualquer politização ou partidarização nociva
que, longe de resolver nossos problemas, certamente os agravará.
Somos
uma das maiores economias do planeta, um dos países mais importantes do
mundo, sob qualquer aspecto, e não nos podemos apresentar à comunidade
das Nações como uma sociedade permanentemente tensionada em crises
intermináveis ou em risco de retrocessos e rupturas institucionais. O
Brasil é muito maior e melhor do que a imagem que temos projetado ao
mundo. Isto está nos custando caro e levará tempo para reverter.
A
moderna agroindústria brasileira tem história de sucesso reconhecida
mundo afora, como resultado da inovação e da sustentabilidade que nos
tornaram potência agroambiental global. Somos força do progresso, do
avanço, da estabilidade indispensável e não de crises evitáveis.
Seguiremos contribuindo para a construção de um futuro de prosperidade e
dinamismo para o Brasil, como temos feito ao longo dos últimos anos. O
Brasil pode contar com nosso trabalho sério e comprovadamente frutífero.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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