Se você parar para ver, vai notar a seu redor muitos seres humanos dignos de elogios os mais variados. Via Gazeta, a crônica de Paulo Polzonoff:
A
gente elogia pouco. Muito pouco. O que é compreensível. Afinal, somos
educados a exercermos sempre o espírito crítico e a desconfiarmos de
tudo e todos neste mundo que seria sempre cruel. Tão empenhados estamos
em “melhorar o mundo”, porém, nos esquecemos de admirar e incentivar as
infinitas pequenas coisas que dão certo, às vezes até muito certo.
Por
“mundo”, me refiro não ao governo, às instituições, às celebridades – a
essas coisas minúsculas que, por uma distorção do olhar, parecem
gigantescas e importantíssimas. Penso, aqui, nas pessoas simples, quase
todas anônimas, e suas boas intenções. E até nas tentativas que, muitas
vezes, resultam em fracassos interessantíssimos que ensinam a todos.
Não
estou falando do elogio que é bajulação. Muito menos do
elogio-que-não-é-elogio, aquele feito com artimanha e planejamento para
se traduzir em promoção no trabalho, em venda, em voto ou até em cama.
Penso no elogio-elogio. Elogio com “e” maiúsculo e trabalhado. Aquela
coisa simples e sincera, mas jamais suficientemente rotineira.
No
elogio verdadeiro, há muito mais trabalho do que na crítica, por mais
construtiva que ela seja ou pretenda ser. É preciso ser
extraordinariamente generoso a fim de reconhecer: um ser humano que não
eu ou você fez isso e aquilo bem, muito bem, melhor do que eu fiz hoje e
possivelmente melhor do que eu jamais faria. E, por isso, é digno de um
elogio.
E,
se você parar para ver, vai notar a seu redor muitos seres humanos
dignos de elogios os mais variados. O gari que está varrendo a rua às 6h
da manhã, e sob um frio de quatro graus negativos, por exemplo. O
motorista que, a despeito das buzinadas atrás dele, parou para deixar o
pedestre passar. O vendedor que o atendeu bem, mesmo você tendo
experimentado 50 pares de sapato e dando vários sinais de que não
levaria nenhum para casa.
Em
se elogiando, claro que há sempre a possibilidade de o outro se deixar
envaidecer, tropeçando na banana da autocondescendência, quando não da
displicência. Daí porque se ouve com alguma frequência o famoso “não se
pode elogiar mesmo”. Mas esse arrependimento pelo elogio não faz
sentido. O elogio geralmente tem um objeto definido e está restrito a um
tempo muito específico. Ele não é, pois, garantia de infalibilidade
alguma. E nem pretende ser.
Elogiar
é, para evocar aqui a filosofia sartreana que fez minha cabeça no tempo
em que ainda tinha cabelos, reconhecer o lugar do outro no mundo. É dar
momentaneamente um sentido à existência abençoadamente pequena de todos
nós. É perceber no outro uma centelha em meio a esse incêndio
avassalador que é a vida.
Elogiemos
sem medo, pois, tudo o que nos rodeia e nos encanta: os esforços
próprios e alheios, as esperanças de sucesso que sempre ignoram a
probabilidade maior do fracasso, aquelas ideias ou opiniões tão tolas,
coitadas, mas que, ditas com entusiasmo, quase nos permitem ver a alma
de quem diz. E também, claro, as realizações de fato bem-sucedidas,
provas do quanto a Humanidade, mesmo parecendo vulgar, comum, repetitiva
e trivial, consegue às vezes se mostrar divina.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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