Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais de domingo, 01 de agosto:
Lembra-se
de Fahrenheit 451, filme de enorme sucesso, provavelmente o mais famoso
do diretor François Truffaut? Tratava de uma ditadura que mandava
queimar todos os livros. O título se refere à temperatura, 451 graus
Fahrenheit (em graus Celsius, a medida que usamos no Brasil, seriam 233
graus), em que o papel pega fogo. Para filmes, como os pegaram fogo
neste incêndio da Cinemateca, não é preciso uma temperatura tão alta –
basta haver incompetência. Mas essa história será contada um pouco
depois. É melhor começar com um bom exemplo – um exemplo do Governo de
Brasília.
A
Secretaria da Cultura do Governo Federal, dirigida por Mário Frias,
iria desfazer-se de um bom acervo de livros. O secretário de Cultura de
Brasília, jornalista Bartolomeu Rodrigues, pediu uma audiência a Frias.
Diplomático, disse que soube que Frias teria que se desfazer do acervo
por falta de espaço, e se ofereceu para alojá-lo na Biblioteca Nacional
(um dos ativos culturais que vem recuperando com êxito). Frias concordou
e os livros foram salvos.
Isto
é governar pensando na população: o secretário brasiliense estava bem
informado, sabia o que precisava ser feito, pediu audiência, levou suas
propostas e todos ganharam. Não estava pensando em eleições ou em ganho
político: sua área é a Cultura e seu trabalho na Secretaria brasiliense é
voltado esta área – a começar pela recuperação de espaços culturais,
que culminou com a salvação de livros que seriam perdidos. Briga
política é outra coisa.
Fogo nos filmes
O
caso da Cinemateca paulista, que pegou fogo, é o exemplo contrário: ali
se jogou fora parte da memória brasileira por puro e simples descaso.
Há a incompetência, mas há também o desprezo por manifestações
artísticas, as ideias de que cinema é coisa de comunista ou de gente
afrescalhada, que não merece atenção, embora precise ser vigiada. Em
2019 acabou o contrato de gestão da Cinemateca pela Acerp, Associação de
Comunicação Educativa Roquette Pinto.
E
aí, nada. Não se falou em renovação de contrato ou troca de gestão;
aliás, o Governo nem respondeu às mensagens da Acerp. O tempo correu,
houve conversas em que o Governo ficou indefinido, o Ministério Público
pediu providências e, enfim, há um mês, houve audiência pública para
cuidar da gestão da Cinemateca. Era tarde: o fogo chegou primeiro. Mas
os ministros preferem discutir se nazismo é de esquerda ou direita.
Espera, Namoradinha!
A
prova de que ninguém lá de cima se preocupa com a Cultura está no caso
de Regina Duarte: quando a Namoradinha do Brasil foi mandada de volta a
São Paulo, Bolsonaro prometeu-lhe um bom lugar na Cinemateca. Ela
continua esperando. E ela lá sabia que a Cinemateca não é dirigida
diretamente pelo Governo, mas por uma Organização Social, e ele não pode
nomear ninguém? Não poderia nem se a Namoradinha vestisse farda.
A história completa
A petição inicial da ação civil pública proposta pelo MP Federal está em http://www.mpf.mp.br/sp/sala-de-imprensa/noticias-sp/mpf-posiciona-se-sobre-incendio-na-cinemateca-brasileira.
Brasília, boa notícia
O
governador de Brasília, Ibaneis Rocha, do PMDB, criou nesta semana a
Universidade do Distrito Federal, que inicia imediatamente as
atividades. Em agosto há concurso para as 3.500 vagas na Universidade. A
reitora já foi nomeada: a professora Simone Benck, graduada em Ciências
Econômicas e Matemática, doutora em Educação, de ótimo trânsito na área
educacional. A nova Universidade recebe um imóvel para começar a
funcionar, e também o projeto para a construção de um prédio no Parque
Tecnológico. As verbas para os próximos quatro anos serão de R$ 200
milhões.
Brasília, má notícia
A
geada vai custar caro, sim. Mas, mais que a geada, dois outros fatores
devem responder pelo aumento do preço dos alimentos: os custos maiores
dos exportadores e a grande alta nas exportações. As carnes devem subir
mais, quase o triplo da inflação prevista para o ano: de l2 a 17%, tanto
boi quanto frango e porco. Os ovos também devem superar a inflação
prevista, chegando a algo entre 7 e 8%. E isso se a inflação se mantiver
tranquila: caso vençam, no governo, os ministros favoráveis a furar o
teto de gasto público, a tendência da inflação será subir, desgastando
ainda mais os salários.
O triste passado
O
deputado bolsonarista Roberto Jefferson, cacique do PTB, abriu o
partido para os integralistas. Os líderes da Frente Integralista
Brasileira se filiaram ao PTB e se disseram dispostos a disputar
eleições. O integralismo, chefiado por Plínio Salgado, foi a vertente
brasileira do fascismo italiano, contra o qual o Brasil lutou na Itália.
Jefferson os recebeu lembrando que em sua família, em Petrópolis,
sempre houve integralistas. O lema integralista já apareceu em comícios
bolsonaristas: “Deus, Pátria, Família”.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário