Eis-me aqui levantando essa hipótese que me parece cada vez mais próxima da realidade: a de que a pandemia será permanente. Paulo Polzonoff via Gazeta do Povo:
Eu
não aguento mais falar de pandemia. De Covid-19. De coronavírus. De
peste – termo que, sabe você que me acompanha há tempos, só uso se for
obrigado. Não aguento mais apontar as várias incongruências de lockdowns
ou medidas restritivas ou aquela coceirinha na alma das autoridades
para decidir o que abre ou fecha – chame como quiser. Não aguento mais
falar em máscara. Nem usar máscara.
E,
no entanto, eis-me aqui levantando essa hipótese que me parece cada vez
mais próxima da realidade: a de que a pandemia será permanente. A
sugestão não foi feita por mim, que não sou espírito-de-porco, e sim por
Andreas Kluth, colunista da Bloomberg. Kluth reúne elementos que vão da
sanha autoritária dos políticos ao descrédito na ciência, passando
pelas temidas e desconhecidas “novas cepas” e a discutível eficiência
das vacinas, para chegar à deprimente conclusão de que máscaras e
lockdowns farão parte do nosso cotidiano. Para sempre.
“Não
estou querendo ser derrotista aqui. De uma perspectiva histórica, a
Covid-19 é ainda uma pandemia moderada. A varíola matou 9 em cada 10
nativos norte-americanos quando da chegada dos espanhóis, no século XVI.
A Peste Negra matou quase metade da população mediterrânea ao chegar à
Europa, no século VI”, tenta contemporizar ele no final do texto. Mas é
tarde. Agora já estou apavorado com a possibilidade.
Há
um bocado de especulação imaginativa no texto de Kluth. O que é até
bom. Em se tratando de pandemia, e por mais que os hunos da vida queiram
nos convencer do contrário, a imaginação se sobrepõe à experiência
palpável e mensurável em que deveria se basear a ciência. E imaginação,
neste caso, se traduz em medo. Em vislumbres de morte ou de uma vida
necessariamente pior do que a que vivemos hoje.
Faca de dois legumes
Tenho
batido muito na tecla de que as decisões até aqui tomadas pelas
autoridades de todos os quilates (até mesmo pelo vereador Zé das Couves,
aquele que contribuiu para aprovar uma lei que torna o uso de máscaras
obrigatório) são produto muito mais da imaginação do que da análise fria
de dados. E por mais que nesses anúncios funestos haja sempre uma
figura de jaleco branco arrotando estatísticas.
Só
a imaginação explica, por exemplo, as restrições ao horário de
funcionamento do comércio ou (a minha preferida) a proibição da compra
de itens não-essenciais no supermercado. E aqui me refiro tanto à
imaginação dos que tomam essas decisões estapafúrdias para depois se
autodenominarem “salvadores de vidas” quanto dos que obedecem, temerosos
de morrerem na solidão de um hospital e, pior ainda, com falta de ar.
Mas
a imaginação é uma faca de dois legumes, como diria o péssimo
trocadilhista/tiozão do churrasco. E é a ela que Kluth sutilmente apela a
fim de que rejeitemos esse prognóstico de uma pandemia permanente, com
máscaras se tornando parte essencial da nossa indumentária e lockdowns
atrapalhando nosso cotidiano ao bel, vão e vil prazer das autoridades.
Não vejo a hora
Afinal,
imagine (imagine mesmo!) um mundo sem abraços nos pais ou avós, sem a
happy hour com os colegas de trabalho, sem cinema lotado rindo de piada
do Will Ferrell, sem megashows de bandas decadentes para velhos
nostálgicos, sem perdigotos entusiasmados na mesa do bar, sem churrasco
na Graciosa, sem festa de casamento, formatura, aniversário, sem
carnaval, sem aquele pacote da CVC para Paris e sem aquela ida ao
estádio para ver o Coxa perder com um gol contra nos acréscimos.
Imaginou? Que lhe parece?
Kluth
sabe que foi a manipulação do medo, por meio da imaginação, que nos
trouxe até aqui. E, ao sugerir a possibilidade de uma pandemia
permanente, ele está levando essa imaginação às últimas consequências,
criando um cenário no qual a catástrofe é o “novo normal”. Do contrário,
teremos que encontrar soluções até para dilemas éticos sobre os quais
ninguém está falando. Como, por exemplo, qual o número aceitável de
mortos diários para que voltemos à vida pré-vírus?
Acredito,
mas é puro chute, que a manipulação da esperança, também por meio da
imaginação, é que há de nos tirar dessa enrascada. O ser humano se
adapta a tudo, é bem verdade, e até aqui vem mostrando que está disposto
a se sacrificar em nome do coletivo. Mas desde que em algum momento, e
logo, ele seja capaz de antever uma saída.
Aí
é que está algo que nem Kluth nem as autoridades perceberam - ainda.
Uma vez que se veja permanentemente preso à armadilha do medo, só
restará ao homem comum dar um basta a isso tudo. Não vejo a hora.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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