E
não é que Bolsonaro tinha razão, ao dizer que quando acaba a saliva a
pólvora é que fala? Aparentemente, monta-se um cenário em que, acabada a
fase de desconstruir a imagem de Bolsonaro, começa o tiroteio de
verdade.
Há
dois movimentos paralelos: o primeiro é a CPI da Covid. O Governo vem
reagindo com provocações: Flávio Bolsonaro fingindo usar máscara, o
Gabinete do Ódio agredindo senadores adversários (até com mensagens de
ameaça à família), ataques pesados a Renan Calheiros – que, seja ele o
que for, conhece o Senado como poucos. Está errado: o Senado é um clube,
e os ataques abaixo da linha da cintura provocam solidariedade. E não
sabem com quem lidam: o presidente da CPI, Omar Aziz, que Bolsonaro acha
que está no pacote de compra do Centrão, tinha um irmão que morreu de
Covid, no Amazonas. Digamos que pelo menos o general Pazuello não terá
vida fácil.
O
segundo movimento é o acúmulo de forças e a abertura de novas frentes
de luta. Há 130 oposicionistas na Câmara; faltam 41 para abrir uma CPI.
Aí o ministro Tarcísio de Freitas, próximo de Bolsonaro, resolve ignorar
um diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres, ANTT, Weber
Ciloni - técnico conceituado, ligado a Baleia Rossi, do PMDB. Ciloni sai
do cargo nesta semana. Baleia e Renan, juntos, podem levar o PMDB para a
oposição.
Há
duas CPIs em mira, ambas na Câmara, uma sobre meio ambiente, área de
alta sensibilidade internacional. A vida não se limita a xingar
adversários.
O caminho das pedradas
Mesmo
antes de outras CPIs, a que começa nesta semana tem potencial para dar
dores de cabeça ao presidente. Para ter uma ideia do clima, o senador
Omar Aziz ameaça mandar prender, por mentir à CPI, quem defender o uso
de remédios não-comprovados, ou nocivos, contra a Covid. Outros temas
(são 112): os índios que ficaram sem vacinação; a história real da troca
das vacinas de Manaus pelas de Macapá; o motivo que levou o Governo a
enviar cloroquina para Manaus quando o que faltava era oxigênio.
E,
claro, os depoimentos. Teme-se que o general Pazuello, que até agora
preferiu ignorar perguntas e ironizar adversários, tenha problemas
quando tiver de responder. Será interessante, digamos, saber sua versão a
respeito de ignorar as ofertas de vacinas feitas por laboratórios de
prestígio, sem se dar ao trabalho de respondê-las; ou de cancelar a
compra de vacinas do Instituto Butantan depois de ter-se comprometido a
isso. Há quem tema que Fábio Wajngarten, por ser explosivo, caia em
provocações da oposição. Não há motivo para esse temor: Fábio é frio o
suficiente para dizer apenas o que julgar necessário, sem cair em
provocações. O problema é o que ele vai considerar necessário contar à
CPI. Uma história, talvez, de como a Pfizer foi rechaçada quando tentou
vender vacinas aqui, para pronta entrega.
Fora do campo
Há
ainda a ouvir os ex-ministros Luiz Mandetta e Nelson Teich, ambos
contra remédios que não davam certo, ambos favoráveis à vacinação maciça
e à testagem do maior número possível de pessoas; ambos contrários a
juntar gente, a andar sem máscaras, tudo aquilo a que se dedicava o
presidente. E o clima externo também não é favorável às teses de
Bolsonaro: na quinta, 29, a 6ª Vara Cível Federal de São Paulo
determinou, em liminar, que o Governo não patrocine publicidade
referente a remédios sem eficácia comprovada contra a Covid, incluindo
expressões como “tratamento precoce” e “kit Covid”. A União alegou que a
propaganda procurava estimular a população apenas a procurar
atendimento médico sem demora, e não a usar remédios não-comprovados. Ou
seja, quando Bolsonaro ofereceu cloroquina até às emas do Palácio, seu
objetivo era convencer a população a buscar tratamento.
Mas que as emas o bicaram, bicaram.
Lição de casa
CPI
todos sabem como começa, ninguém imagina como acaba. Às vezes é difícil
engolir uma derrota. Mas é interessante lembrar um fato histórico,
ocorrido com um fiel aliado de Bolsonaro, o presidente Collor. Na
véspera da votação do impeachment, o deputado paranaense Onaireves
Moura, da tropa de choque do presidente Collor, foi visitá-lo para dizer
que tinha um problema a resolver no Paraná e não estaria presente à
votação. No dia seguinte, pegou o avião e saiu de Brasília. Mas,
previdente, escolheu um voo com escala em São Paulo. Soube que o
impeachment ganharia com folga.
Pegou o avião de volta para Brasília, foi ao plenário e votou contra Collor.
Calado é um poeta
Paulo
Guedes abriu a boca de novo. Falou mal da China, maior parceiro
comercial do Brasil (“o chinês inventa um vírus, os americanos fazem
vacina melhor que a deles”).
E
atacou o FIES, porque até o filho do porteiro do seu prédio foi
aprovado com média zero. Fake, ministro. Se a média fosse zero, a
faculdade inescrupulosa, louca para preencher mais uma vaga com dinheiro
público, não deixaria rastros: colocaria outra média qualquer.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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