Em
1994, às vésperas da decretação do Plano Real, encontrei-me em Brasília
com o então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso.
Perguntei-lhe a certa altura se estava satisfeito com o cargo. Estava,
com uma ressalva: “Aqui não tem muita gente para conversar, não. Tenho
muita saudade do Senado “. Fiquei curioso. Com quem conversava com mais
frequência no Congresso? “
“Tinha
o Roberto Campos, o Darcy Ribeiro, o Afonso Arinos, o Jarbas
Passarinho...”, começou o desfile multipartidário de interlocutores que
valiam a pena. Pode parar, sorri. Eu também teria saudade de gente
assim. O encontro com FHC ocorreu há menos de 30 anos. Não é tanto
tempo. O que terá havido com o Senado de lá para cá?
Perto
da virada do século, sobravam cardeais de fina linhagem, bons de
conversa, que faziam da política uma forma de arte. Hoje, a instituição é
controlada por gente que deixa enfastiado em cinco minutos o mais
paciente dos ouvintes. Os grandes senadores foram substituídos por tipos
medíocres, estrategistas de picadeiro, casos de polícia e perfeitas
bestas quadradas, fora o resto.
Como
explicar, por exemplo a longevidade de um Renan Calheiros na cúpula do
Senado? Neste século, ele já foi presidente várias vezes. Mandou e
desmandou enquanto colecionava acusações, denúncias, ações judiciais,
inquéritos e processos que continuam a arrastar-se no Supremo Tribunal
Federal. Agora, prepara-se para entrar em ação como relator da CPI da
Pandemia.
Renan
merece o codinome que ganhou do Departamento de Propinas da Odebrecht:
Atleta. Faz anos que corre da Justiça — sem sair do lugar.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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