Claro,
2021 carrega um fardo: vamos levar o ano inteiro vacinando gente, a
economia sobe aos poucos, é preciso tirar o ranço de 2020. Mas o início
do ano é ruim: um juiz de primeira instância trata decisão do Supremo
como se fosse um pedido (e o rejeita!), descobre-se que a casa onde
ocorreu uma das mais covídicas festas de Réveillon do Rio, com dois mil
candidatos ao vírus, é da Prefeitura da cidade, ficamos sabendo que um
caríssimo radar comprado para monitorar o desmatamento da Amazônia é não
apenas desaconselhado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais,
INPE, por não ser adequado, como já existe na União Europeia uma rede
desse tipo à qual o Brasil tem acesso permanente e gratuito. Pelo menos
descobrimos a razão de um outro mistério: qual a função do Astronauta no
Ministério. Além de descobrir vermicidas anti-Covid, recomenda compras
como essa do satélite de R$ 175 milhões. O ministro da Ciência e
Tecnologia vive no mundo da Lua.
O
prefeito de São Paulo, Bruno Covas, PSDB, assinou resolução em que
aumenta o próprio salário em pouco mais de 40%. Com isso elevou o
salário de vereadores e de servidores municipais que acompanham os
ganhos do prefeito. OK? O salário-mínimo também sobe hoje. Vai a R$
1.100,00, com reajuste de 5,26%. A recomendação: não é para quem ganha
salário-mínimo sair por aí gastando que nem doido. Precisa reservar um
pouquinho para o aluguel. Os aluguéis que venceram em dezembro podem
subir 23%, talkey?
Quem manda?
O
ministro do Supremo Ricardo Lewandowski determinou o acesso às
mensagens hackeadas obtidas pela Operação Spoofing referentes a Lula à
defesa do ex-presidente. Importante: não é questão de gostar ou não de
Lula, de achá-lo ou não culpado, seja lá o que for. É questão jurídica:
usam-se contra Lula informações desconhecidas de sua defesa e cuja
autenticidade é passível de discussão. Importante, também: ministro do
Supremo não pede nada a instâncias inferiores. Ele manda, ordena,
determina, e cabe aos juízes de outras instâncias apenas tomar
providências para que as ordens sejam cumpridas. Mas o juiz plantonista
da 10ª Vara Federal de Brasília, em vez de carimbar o “cumpra-se” e
talvez dar conhecimento da ordem ao MP, mandou primeiro ouvir o MPF e
atendeu à opinião dos procuradores, de que durante os feriados não seria
possível tomar medidas de segurança para liberar as mensagens. A ordem
foi repetida por Lewandowski, mas a defesa ficou mais tempo privada de
saber o que havia por lá.
Vem bomba
Mas,
demore ou não, é questão explosiva. As mensagens foram hackeadas do
celular do então juiz Sérgio Moro na Operação Vaza Jato. A defesa quer
utilizá-las como prova de que o juiz agiu com parcialidade ao condenar
Lula. Se essas provas influírem na decisão do STF sobre os pedidos de
suspeição de Moro, as condenações de Lula desaparecem – e ele pode se
candidatar à Presidência em 2022.
Muda
o quadro político. Talvez se repita o quadro de polarização Bolsonaro x
Lula, o que é bom para ambos e dificulta muito os caminhos do centro
político. Qual a tendência do Supremo, sem adivinhar? Houve há pouco um
julgamento parecido: o STF, há menos de seis meses, julgou que Moro foi
parcial no julgamento do doleiro Paulo Roberto Krug, considerando que
agiu como colaborador do Ministério Público (ajudando até a produzir
provas) e não como juiz. É a mesma tese da defesa de Lula.
O avesso do avesso do avesso
A
vitória de Lula é, ao mesmo tempo, a vitória de Bolsonaro. Para ambos, o
melhor quadro em 2022 é a eleição polarizada, Coxinhas x Mortadelas. E
um ganho adicional para Bolsonaro: decisões em favor de Lula tendem a se
repetir nos casos de Flávio Bolsonaro, até agora o fardo do presidente.
Nos dois casos, há dinheiro de origem suspeita e compra suspeita de
imóveis.
Recordando
Lula
tem hoje duas condenações (triplex do Guarujá e sítio de Atibaia), mais
duas denúncias da Lava Jato (Curitiba), quatro ações na Justiça Federal
(Brasília), e uma ação na Justiça Federal (São Paulo).
Ladrões são os outros
A
resposta veio num live no Facebook: comentando a prêmio que lhe foi
outorgado por um consórcio internacional de jornalistas, de Pessoa
Corrupta do Ano, atacou a imprensa e a Rede Globo e garantiu que não há
corrupção em seu Governo. O prêmio foi-lhe concedido pelo Organized
Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP), formado por jornalistas e
centros de mídia independentes. Bolsonaro lembrou a delação do doleiro
Dario Messer, na qual diz ter repassado alguns milhões de dólares para a
família Marinho, dona da Rede Globo (a Globo nega as acusações). Disse
também que em seu Governo não há corrupção e a Polícia Federal é
independente.
Falta
perguntar por que a Abin colaborou com a defesa de seu filho Flávio.
Mas sem entrevista fica difícil fazer perguntas. A live é mais discreta.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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