Não sou liberal por ser a via mais fácil, que não é. Não sou liberal por
ser rico, que não sou. Sou liberal porque pesquisei, li, estudei,
observei e conclui que o liberalismo traz melhores resultados. Artigo de
Luís Areias para o Observador:
Eu não sou liberal porque achei graça ao L, ao I, ao B, ao E, ao R,
ao A e ao L. Não sou liberal porque é cool, está na moda ou é trendy.
Não sou liberal porque li num livro umas ideias que me pareceram giras e
bonitas. Não sou liberal por ser o caminho mais fácil, porque não é.
Também não sou liberal porque sou rico, que não sou, ou pobre, que
também não sou. Não sou liberal porque sou o diabo ou alguém cujo
coração é frio e inumano. Não sou liberal porque quero ver os ricos mais
ricos e os pobres mais pobres. Não sou liberal porque os grandes
interesses, a Banca, as grandes corporações ou o grande capital me
pagam. Não sou liberal por ser especialmente ganancioso, na verdade até
me considero um tipo frugal. Não sou liberal por ser anticomunista ou
antisocialista. E não sou liberal por julgar que o liberalismo é
perfeito. Não sou liberal por nada disto.
Sou liberal porque pesquisei, investiguei, li, estudei, observei,
analisei e verifiquei que caso após caso, exemplo após exemplo, a
ideologia liberal traz melhores resultados (não óptimos) e está mais de
acordo com a natureza humana e com os postulados humanistas do que
qualquer outra.
Não nego que as ideias do socialismo são mais intuitivas, mais
sedutoras, atraentes e belas que as do liberalismo. Assim como também
não nego que a ideia de me atirar de um 10.º andar e voar é atraente e
bela. O facilitismo, conducente a piores resultados, nunca me pareceu
ser a melhor opção.
É curioso como todos os indivíduos, incluindo naturalmente os
socialistas-estatistas, com os seus filhos recém-nascidos, podem ler
muita coisa, muitas ideias interessantes e que parecem bonitas, mas no
final acabam por aplicar aquilo que resulta. Contudo, quando chegam à
política e à gestão da vida de milhões de pessoas, mudam o seu modus
operandi, abandonando as práticas que resultam, e passando a aplicar as
bonitas ideias que leram.
É expectável que perante a pergunta se não é justo alguém muito muito
rico contribuir com parte dessa riqueza para acudir aos muito muito
pobres, a maioria dos inquiridos, senão mesmo a totalidade, responda que
é da mais elementar justiça fazê-lo.
Também é seguro que, perguntando a um transeunte se não acha obsceno
1% dos mais ricos deterem metade da riqueza global, o mesmo responderá,
irritado, que sim. Porém, nenhuma destas perguntas pode servir para
demonstrar o erro ou o falhanço do liberalismo. Não obstante, os
detratores do mesmo, frequentemente, pegam nestes e outros exemplos para
denegrir os ideiais liberais.
É notável como um liberal, embora rejeite as ideias socialistas,
acredita que as intenções de quem as defende são as melhores. Mas já um
socialista, além de rejeitar as ideias do liberal, presume sempre
interesses diabólicos e a má índole do seu proponente. Adoram soltar
estereótipos em rajada.
Caricaturando, para verem como se pode simplificar e estereotipar,
para se criar alguma empatia com o socialismo basta ouvir-se os Pedro
Nunos e Galambas desta vida a debitarem três ou quatro anexins retirados
da cartilha simplista socialista. É assim que visam seduzir o
eleitorado para o seu lado. Vão longe na política estes Senhores.
Já para se criar empatia ou simpatia pelo liberalismo é preciso
convencer o eleitorado a ir pesquisar, ler e estudar história,
filosofia, economia, ética, etc.. analisar e comparar dados de países
para tirar as suas conclusões. Convenhamos que é bem mais complicada a
tarefa dos liberais.
Assiste-se finalmente e ao fim de mais de 40 anos após o 25 de Abril
de 1974, a um contraditório ideológico na Assembleia da República, com a
Iniciativa Liberal de um lado e toda a esquerda socialista e
estatizante do outro. E até com alguma direita que não abdica do regaço
estatal. Embora as “armas” sejam desiguais, os atiradores de um e outro
lado também têm habilidades desiguais pelo que, hoje em dia, o número de
liberais em Portugal vem aumentando a um ritmo significativo.
Antes de a IL começar a fazer campanha para as eleições europeias de
Maio de 2019, depois para as legislativas de Outubro de 2019 e, por fim,
conquistar um lugar no Parlamento, ser liberal era por muitos
considerada uma excentricidade. Para muitos o liberalismo ou era
desconhecido ou confundido com anarco-capitalismo, capitalismo de
compadrio ou clientelista, capitalismo corporativo, capitalismo
financeiro e outras designações. Sem esquecer o adjectivo-papão que a
esquerda tanto abana para ajudar a essa confusão, o neoliberalismo. Tudo
carimbos cujas características afastam essas designações daquilo que é o
liberalismo.
O liberalismo em Portugal deve muito a figuras como Carlos Guimarães
Pinto, João Cotrim de Figueiredo e Ricardo Arroja, para dar três
exemplos daqueles que foram e são os rostos mais visíveis da Iniciativa
Liberal. A sua acção e as suas palavras difundiram alguns dos ideais e
do posicionamento liberal sobre as mais diversas matérias.
Estou confiante que no futuro próximo existam mais portugueses a não
serem liberais pelos mesmos motivos que eu também não sou e a serem
pelos motivos certos. Estou confiante que muitos mais se irão
encontrando com o liberalismo e depois concluam, como tantos já
assumiram, que eram liberais e (apenas) não sabiam.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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