Para juntar Bolsonaro a Marielle, a Globo ignorou a lição de JK, escreve Augusto Nunes:
O presidente Juscelino Kubitscheck gostava de dizer que não tinha
compromisso com o erro. Quando cometia algum, corrigia o equívoco,
pedia desculpas e vida que segue.
Se tivesse assimilado essa lição, a Globo estamparia na tela, ao
longo desta quarta-feira, a informação em letras maiúsculas:: “Falso
testemunho de porteiro tentou envolver Bolsonaro no assassinato de
Marielle”. Só assim a emissora reduziria as desastrosas dimensões do
erro cometido na véspera: baseada no depoimento de um funcionário do
condomínio onde mora Jair Bolsonaro, a emissora anexou o presidente da
República ao elenco de bandidos envolvidos na execução da vereadora
carioca, ocorrida em março de 2018.
Se agisse com menos açodamento e mais cautela, a Globo teria
constatado em poucos minutos que, no dia do encontro relatado pelo
depoente, Bolsonaro estava em Brasília. Neste momento, a “notícia”
perdeu o sentido. Mais algum tempo de apuração permitiria descobrir que o
assassino em visita ao condomínio não telefonou da portaria para a casa
de Bolsonaro. Estava lá para falar com seu parceiro de crime, consumado
naquele mesmo dia.
Em agosto de 1954, a imprensa só associou Getúlio Vargas ao atentado
contra Carlos Lacerda quando ficou provado, dias depois do ataque, que o
mandante havia sido Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal do
presidente. Aquilo era um fato. Passados 66 anos, Bolsonaro viveu seu
dia de Getúlio. O que houve no século passado foi um drama, e acabou em
suicídio. Destas vez aconteceu um fiasco jornalístico a que o presidente
revidou com um destampatório no meio da madrugada. Melhor assim.
Pior para a Globo.
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